Blogueiro depõe à PF em SP e nega ter ameaçado Moro em mensagens no Twitter
O blogueiro Eduardo Guimarães prestou depoimento nesta segunda-feira (3) à Polícia Federal, em São Paulo, devido à representação criminal movida contra ele pelo juiz da 13ª Vara Federal do Paraná, Sergio Moro. O magistrado acusa Guimarães, autor do “Blog da Cidadania”, de ameaça por meio de mensagens postadas em 2015 no Twitter. No depoimento, que durou cerca de duas horas e no qual foi ouvido por meio de carta precatória - isto é, depôs em uma cidade sobre um inquérito que corre em outra -, o blogueiro negou que tenha endereçado o conteúdo a Moro.
A representação pedia que a PF investigasse se o blogueiro –crítico ferrenho do juiz e da Operação Lava Jato –usou seu perfil pessoal no Twitter para ameaçar o magistrado. Nos tuítes, Guimarães chamou o juiz paranaense de “psicopata” e sugeriu que as atitudes dele à frente da Lava Jato poderiam ser prejudiciais ao país.
“Cada brasileiro que se entusiasma ao ver a derrocada petista não sabe que essa politicagem vai lhe custar caro”, diz, em uma das mensagens. Na sequência, completa: “Os delírios de um psicopata investido de um poder discricionário como Sergio Moro vão custar seu emprego, sua vida”. E finaliza: “A economia está sendo destruída pela política. A direita prefere ver o barco afundar a ver o país distribuindo renda”.
Moro considerou que as mensagens teriam sido uma ameaça contra ele. No mesmo ano, mas em fevereiro, Guimarães acionara o magistrado com uma representação no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), posteriormente arquivada, acusando-o de abuso de poder.
Sobre os tuítes, Guimarães negou ao UOL, no último dia 22, que tenha se referido ao juiz ao escrever "vão custar seu emprego, sua vida", o que configuraria ameaça. Nesse dia, ele foi levado para depor na PF em São Paulo, por meio de condução coercitiva, em outro inquérito: o que apurou o vazamento de informações sobre a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Sila (PT), em março do não passado. O mandado havia sido expedido por Moro. Guimarães publicara em seu blog dias antes que o petista seria alvo do mandado.
“O tuíte que gerou a denúncia foi o quarto de baixo para cima. Mesmo lido isoladamente seria impossível considerá-lo uma ameaça. Talvez fique meio dúbio, mas no contexto em que foi feito não dá para confundir”, disse o blogueiro, para quem “a acusação de que ameacei o juiz é absurda”.
Para o advogado do blogueiro, Fernando Hideo, o inquérito em que Guimarães foi ouvido hoje “serve para demonstrar a inimizade pública entre o blogueiro e o juiz Moro –e ao menos desde agosto de 2015”.
“Quem se considera vítima e representa contra ele [Guimarães] não pode ser juiz contra o blogueiro em outra causa”, afirmou, referindo-se ao inquérito em que o blogueiro foi levado a depor por condução coercitiva. “A mensagem em que o magistrado viu ameaças foi fracionada em alguns tuítes – não tem nem margem para interpretação diferente da que expomos. Seria irracionalidade qualquer interpretação diversa”, disse.
Segundo o advogado, as perguntas da PF foram no sentido de esclarecer se as mensagens teriam, de fato, sido ameaças ao magistrado. "Mostramos que a representação pegava um tuíte descontextualizado e exibimos o conjunto de mensagens. Pela simples simples leitura delas, vê-se que não houve ameaça", concluiu Hideo.
Agora, a PF em São Paulo vai remeter o depoimento do blogueiro à PF em Curitiba para que o inquérito seja desdobrado ou concluído.
Juiz nega suspeição sobre si próprio
O advogado chegou a pleitear a suspeição de Moro em relação a Guimarães, mas o juiz negou a medida. No dia seguinte à condução coercitiva, entretanto, e após entidades de representação jornalísticas manifestarem preocupação com a violação do sigilo de fonte –uma vez que equipamentos do blogueiro também haviam sido apreendidos --, Moro excluiu como prova a revelação, “embora ele não tenha sido forçado a ela, da identidade de sua fonte", disse o juiz em despacho.
Durante o depoimento, Guimarães, segundo Moro, confirmou à PF que alertou o Instituto Lula de que o ex-presidente seria conduzido coercitivamente. Moro, em seu novo despacho, afirmou que essa informação era, em última instância, a motivação para a condução coercitiva do blogueiro.
Moro determinou a condução coercitiva do blogueiro na tentativa de identificar quem era a fonte que teria passado para Guimarães a informação sobre a ação que seria feita contra Lula. A medida foi criticada por entidades que representam jornalistas, como a ONG Repórteres Sem Fronteiras, que considerou o caso um grave atentado à liberdade de imprensa.
De acordo com a Constituição, os jornalistas não são obrigados a revelar suas fontes.
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