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Delação da Odebrecht: presidente da Câmara é volante do Flu, e tucano, do Corinthians

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia: de Botafogo a Fluminense nas planilhas - Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia: de Botafogo a Fluminense nas planilhas Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Marcos Sergio Silva

Do UOL, em São Paulo

12/04/2017 23h01

Nas planilhas de pagamentos de propina e caixa dois da Odebrecht, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o Botafogo. Mas ele tem alcunha e times diferentes em outro documento da empreiteira: volante do Fluminense. É assim que ele aparece na planilha “JP”, organizada por João Antônio Pacífico Ferreira, ex-diretor superintendente da área de estrutura da empreiteira nas regiões Norte, Norte e Centro-Oeste. O valor do "passe" de Maia: 100 mil.

Segundo o delator Luiz Eduardo da Rocha Soares, nas eleições de 2010 e 2014 foram usados codinomes para cada cargo disputado e partido. Volante, no caso de Maia, era deputado federal; zagueiro, deputado estadual. Ainda havia posições como goleiro, centroavante e ponta-esquerda indicando outros cargos, mas que não estão detalhando nos documentos. O chamado "valor do passe" era a quantia depositada ou entregue pela companhia como caixa dois na campanha.

O time de futebol se refere à legenda. O DEM virou o Fluminense; o PSDB, o Corinthians. O PMDB é conhecido nas planilhas como o time gaúcho Internacional. E o PP recebeu o nome de Cruzeiro. Não há menção a outros partidos, incluindo o PT, líder de políticos citados nas delações, com 21 investigados. Rodrigo Maia afirmou que "o processo vai comprovar que são falsas as citações dos delatores, e os inquéritos serão arquivados".

Bruno Araújo nunca foi jogador corintiano, muito menos esteve em um campo de futebol como atleta profissional. Mas seu nome aparece na planilha. Atual ministro da Cidade, Araújo (PSDB-PE) deu o voto 342 na Câmara dos Deputados que ratificou a abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. De acordo com a delação premiada de Pacífico, o tucano recebeu repasses financeiros não contabilizados, o famoso caixa dois, em duas campanhas: 2010 e 2012.

bruno araújo - André Dusek/Estadão Conteúdo - André Dusek/Estadão Conteúdo
Tucano, Bruno Araújo aparece como volante corintiano nas planilhas
Imagem: André Dusek/Estadão Conteúdo

Nas duas vezes, o dinheiro repassado foi o mesmo do "valor do passe" que consta nas planilhas de JP: R$ 300 mil. Os recursos teriam sido liberados por meio do Setor de Operações Estruturadas da empresa baiana, chefiado por Hilberto Silva. O codinome de Araújo era “Jujuba”. O valor repassado a Bruno Araújo foi dividido em quatro parcelas – duas de R$ 100 mil (depositadas nos dias 27 de julho e 24 de agosto) e duas de R$ 50 mil (em 9 de setembro e 16 de setembro). Segundo nota, o deputado federal disse ter solicitado doações para diversas empresas, entre elas a Odebrecht. 

O "Internacional" aparece no inquérito do deputado federal Arthur Maia (PPS-BA), relator da reforma da Previdência. Maia era "zagueiro" em 2010, pois ocupava o cargo do deputado estadual, e ainda era filiado ao PMDB. Seu "passe" foi avaliado em R$ 250 mil, e o dinheiro foi pago em parcelas: R$ 100 mil em agosto, R$ 100 mil em setembro e R$ 50 mil em outubro. "Todas as doações de campanha que recebi estão de acordo com a lei e devidamente declaradas e aprovadas pelo TRE-BA [Tribunal Regional Eleitoral da Bahia]", afirmou, em nota.

Mário Negromonte Jr. (BA) é relacionado como "zagueiro" (deputado estadual), embora já exercesse a função de "volante" (deputado federal) pelo "Cruzeiro" (PP), mesmo clube/partido de Cacá Leão (BA) - que migrou de "zagueiro" para "volante". O valor do passe de ambos seria o mesmo: R$ 200 mil.

"Tenho toda a tranquilidade do mundo de que todos os recursos que recebi na campanha de 2014 estão em minha prestação oficial de contas, que foi aprovada pelo Tribunal de Contas", afirmou Leão. Negromonte não se posicionou.