Cabral diz a Moro que teve "relações institucionais" com delatores
Preso desde novembro sob suspeita de participar de um esquema de corrupção no Rio de Janeiro, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) negou ter tratado de propinas com os ex-executivos da construtora Andrade Gutierrez que, em delações premiadas, relataram o pagamento de vantagens indevidas ao político.
As declarações do ex-governador foram dadas em depoimento ao juiz Sergio Moro, responsável pelas ações da Operação Lava Jato na Justiça Federal do Paraná.
No depoimento, Cabral optou por responder apenas às perguntas elaboradas por sua defesa e silenciou diante das questões feitas por Moro. Ao alertar o ex-governador de que ele não deveria ficar literalmente em silêncio, e sim apenas dizer que não responderia, o juiz disse: "Não é brincar de vaca amarela".
Segundo a denúncia do MPF (Ministério Público Federal) aceita por Moro, os ex-executivos Rogério Nora de Sá e Clóvis Primo teriam concordado com o pagamento de propina milionária a Cabral e aliados relativa às obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro), executadas pela Andrade Gutierrez por meio de contrato de R$ 1,1 bilhão com a Petrobras.
No entanto, Cabral disse que nunca falou sobre o Comperj “com qualquer executivo” da empreiteira. O ex-governador afirmou sequer se lembrar de Clóvis Primo.
Cabral declarou também que seu relacionamento com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa era “absolutamente institucional”, sem qualquer pedido de “apoio financeiro”. O ex-governador também falou que nunca agiu para manter Costa na diretoria da estatal.
Segundo o despacho em que aceita a denúncia do MPF sobre o esquema do Comperj, Moro escreve que “Paulo Roberto Costa é quem teria informado aos dirigentes da Andrade Gutierrez que as propinas deveriam ser pagas ao então governador e seus associados”.
A tecla do “relacionamento institucional” foi apertada mais uma vez por Cabral ao falar de Wilson Carlos, ex-secretário de Governo e também acusado de envolvimento no esquema do Comperj. Segundo Cabral, Wilson Carlos só foi à Petrobras para pedir apoio da estatal a projetos do governo fluminense, como a Operação Lei Seca e o piscinão de São Gonçalo, sem nunca tratar do Comperj.
O ex-governador negou também que Carlos Miranda --seu ex-assessor parlamentar e tido como seu operador de propinas-- tenha trabalhado em seu governo. Segundo Cabral, Miranda apenas colaborava em campanhas eleitorais.
Preso junto com Cabral em novembro, Miranda optou por ficar calado no depoimento a Moro.
Caixa 2
Cabral ainda disse a Moro que os pagamentos das compras de luxo feitas por ele e pela mulher, Adriana Ancelmo, eram fruto de caixa 2 e recursos próprios. O ex-governador isentou a mulher de responsabilidade e disse que as compras eram feitas por ele.
"As compras eram feitas por mim, com recursos meus e sob minha responsabilidade. Eu vejo aqui, doutor Moro, que vossa excelência tem ouvido aqui muitas observações a respeito de caixa 2 e sobras de campanha... Isso é fato. Esse é um fato real na vida nacional. E eu reconheço esse erro. São recursos próprios e recursos de sobras de campanha e caixa 2. Nada a ver nem com a minha mulher muito menos a ver com essa acusação de Comperj", disse.
Acusações
Na denúncia aceita por Moro, Cabral é acusado de ter recebido propina vinculada ao contrato da Petrobras para as obras do Comperj, executadas pela Andrade Gutierrez ao preço de R$ 1,1 bilhão. A empresa teria vencido uma licitação fraudada.
Cabral, Wilson Carlos e Carlos Miranda teriam participado diretamente dos acertos dos valores e de como eles seriam pagos. O total da propina chega a R$ 2,7 milhões.
O grupo que foi depor a Moro hoje também teria lavado R$ 2,6 milhões por meio de compras de roupas de grife, equipamentos agrícolas, móveis e até uma lancha. Em alguns casos, as transações foram feitas por meio de laranjas.
O MPF (Ministério Público Federal) acusa Cabral, Adriana, Wilson e Miranda de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, crime também atribuído a Mônica Carvalho.
Prisões
O ex-governador Sérgio Cabral cumpre prisão preventiva (sem prazo para terminar) desde o dia 17 de novembro, quando foi deflagrada a Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato. A detenção foi autorizada pelo juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, Marcelo Bretas. No momento, Cabral está detido no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio.
A advogada Adriana Ancelmo, por sua vez, está presa desde o dia 6 de dezembro, quando Bretas decretou sua prisão preventiva. Inicialmente, ela ficou presa também no complexo de Gericinó. Em 17 de março, Bretas determinou que ela fosse transferida para prisão domiciliar, em seu apartamento, no Leblon, zona sul do Rio, aceitando os argumentos da defesa de que ex-primeira-dama precisava retornar à própria casa para cuidar dos filhos de 11 e 14 anos. A decisão do juiz do Rio chegou a ser revogada, mas foi finalmente autorizada no STJ. A ex-primeira dama voltou para casa no dia 29, sob gritos de "safada" e panelaço.
Carlos Miranda e Wilson Carlos também cumprem prisão preventiva por decisão do juiz Bretas desde novembro. Mônica Carvalho responde ao processo em liberdade.
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