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Delator da Odebrecht escondeu 24 garrafas de vinho para ex-gerente da Petrobras

O que as expressões dos delatores da Odebrecht revelam

UOL Notícias

Flávio Costa*

Do UOL, em São Paulo

27/04/2017 04h00

O ex-executivo da Odebrecht Rogério Araújo escondeu em sua própria adega 24 garrafas de vinho, avaliadas em US$ 10 mil cada uma, a pedido do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco Filho. O fato teria ocorrido antes de Barusco firmar seu próprio acordo de delação premiada com MPF (Ministério Público Federal), ainda no ano de 2014.

As informações constam no depoimento de Araújo a procuradores da República, no âmbito do acordo de delação premiada dos 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht.

Suas declarações indicam que um dos primeiros delatores da Lava Jato pode ter escondido informações do MPF (Ministério Público Federal) a respeito de bens adquiridos com o dinheiro de propina no esquema de corrupção da Petrobras.

A defesa de Barusco diz que o delator da Odebrecht "mente" e que não "apresentou provas do que alega".

A história sobre os vinhos de Barusco é uma das 201 petições encaminhadas, há duas semanas, a instâncias inferiores pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte.

Rogerio Araujo - Reprodução - Reprodução
O engenheiro Rogério Araújo é um dos 78 delatores da Odebrecht
Imagem: Reprodução
O caso será investigado pelos procuradores da força-tarefa da Lava Jato e, se for aberto um processo, tramitará na 13ª Vara Federal de Curitiba, presidida pelo juiz Sergio Moro.

Pedido insistente

Barusco foi um dos primeiros acusados a fechar acordo de delação na Lava Jato. Ele confessou ser uma espécie de contador da propina na diretoria de serviços da estatal e já devolveu pelo menos R$ 260 milhões desviados de contratos da Petrobras.

De acordo com Araújo, antes de decidir pela colaboração à Justiça, Barusco estava preocupado com as medidas de busca e apreensão da PF (Polícia Federal). "Logo após a deflagração da Operação Lava Jato e antes de ele [Barusco] fazer a delação, ele estava preocupado com as operações de busca e apreensão", contou o delator.

"Ele tinha em casa uma coleção de vinhos, mencionou para mim também que tinha uma coleção de relógios, alguns quadros. Então ele me pediu para que eu guardasse 24 garrafas de vinhos dele de primeira linha. Aí ele insistiu muito e eu acabei cedendo."

As garrafas teriam sido entregues na casa de Barusco ao motorista do ex-executivo da Odebrecht em duas malas térmicas. "Eu as guardei em um canto da minha adega", declarou Araújo. Ainda segundo ele, após a assinatura do acordo de delação de Barusco com o MPF, a mulher do ex-gerente da Petrobras buscou as garrafas na casa do ex-executivo da Odebrecht no Rio de Janeiro.

Araújo diz ainda acreditar que Barusco utilizou outras pessoas para guardar "sua coleção de relógios e objetos de arte", mas afirma desconhecer a identidade delas. O valor de cada garrafa, correspondente a R$ 31,9 mil na cotação atual, foi indicado por Araújo em seu relatório por escrito entregue ao MPF, antes de realizar a delação propriamente dita.

Pedro barusco - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
Pedro Barusco foi um dos primeiros a fechar acordo de delação, em 2014
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters
Em outro depoimento de sua delação premiada, Araújo afirmou que sua relação com Barusco teve começo após a Odebrecht decidir pagar propinas diretamente aos funcionários da Petrobras e, assim, evitar intermediários políticos.

Defesa de Barusco diz que 'declarações são absurdas'

O advogado Figueiredo Basto, defensor de Pedro Barusco, afirma que o ex-executivo da Odebrecht "mente" a respeito do assunto. "Essas declarações são absurdas. Essas garrafas não existem. Ele [Araújo] vai ter que provar isso: indicar, por exemplo, quais os rótulos das garrafas."

Figueiredo Basto afirma haver "muita especulação" nas delações da Odebrecht. "Esse fato jamais existiu e meu cliente me disse que nunca teve em casa vinhos desse preço."

Pedro Barusco fala como era o esquema de propina na estatal

Band News

Em depoimento feito ao juiz federal Sergio Moro, em outubro do ano passado, Pedro Barusco afirmou que a propina estava "institucionalizada" na Petrobras.

"Às vezes fica difícil responder o que a gente [agentes públicos e partidos] fazia para receber essa propina. Às vezes eu não sabia, porque estava institucionalizada. Tava instituída essa propina, a gente não fazia nada especial para ter essa propina", declarou Barusco, delator da Lava Jato.

Pedro Barusco não chegou a ser preso. Ele prestou depoimentos entre novembro e dezembro de 2014 à força-tarefa da Lava Jato.

O ex-gerente já foi condenado a 47 anos e sete meses de prisão por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Como firmou delação premiada, Barusco cumpre as penas acordadas em sua colaboração.

O acordo de colaboração do ex-gerente prevê, que, após o trânsito em julgado das sentenças condenatórias que somem o montante mínimo de 15 anos de prisão, os demais processos contra Barusco ficam suspensos.

Em março de 2016, Barusco começou a cumprir sua pena de regime aberto diferenciado perante a 12ª Vara Federal de Curitiba, sob tutela do juiz federal Danilo Pereira Júnior.

Foram impostas quatro medidas ao delator: recolhimento domiciliar nos finais de semana e nos dias úteis, das 20h às 6h, com tornozeleira eletrônica, pelo período de dois anos; prestação de serviços comunitários à entidade pública ou assistencial de 30 horas mensais pelo período de dois anos; apresentação bimestral de relatórios de atividades --após os dois anos iniciais, remanescerá, pelo restante da pena, somente a obrigatoriedade de apresentação de relatórios de atividades periódicos a cada seis meses--; e proibição de viagens internacionais, pelo período de dois anos, salvo autorização judicial.

Um anos depois de começar a cumprir sua pena, ele chegou a ser advertido "por displicência" no uso da tornozeleira eletrônica.

* Com informações de Estadão Conteúdo