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Testemunha: Lula visitou terreno supostamente comprado pela Odebrecht para instituto

1.jun.2017 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante congresso nacional do PT - Evaristo Sá/AFP Photo
1.jun.2017 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante congresso nacional do PT Imagem: Evaristo Sá/AFP Photo

Bernardo Barbosa

Do UOL, em Brasília

05/06/2017 20h40

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou o imóvel que teria sido comprado com propina da Odebrecht, por meio de um laranja, para ser sede do Instituto Lula, disse nesta segunda (5) João Alberto Lovera, ex-executivo da divisão imobiliária do grupo de construção civil.

Lovera depôs como testemunha do MPF (Ministério Público Federal) ao juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba, em caso no qual o ex-presidente é réu por supostamente receber vantagens indevidas da Odebrecht oriundas de contratos com a Petrobras. 

Além do ex-executivo, também prestaram depoimento como testemunhas hoje o empresário Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração do grupo que leva seu sobrenome, e Alexandrino Alencar, ex-diretor da Odebrecht. Segundo nota da defesa de Lula, os depoimentos deixaram claro que "que o Instituto Lula jamais solicitou ou recebeu a posse ou a propriedade do imóvel".

Os depoimentos foram marcados mais uma vez pela tensão entre Moro e Zanin. Durante a oitiva de Lovera, o juiz chegou a pedir silêncio e respeito ao juízo ao advogado, que questionava perguntas feitas por Moro e pelo MPF. Zanin, por sua vez, disse ao magistrado que eventuais reclamações deveriam ser feitas à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

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UOL Notícias

A visita

Lovera disse ter recebido o presidente no imóvel, localizado na Rua Haberbeck Brandão, na zona sul de São Paulo, em 2011. Segundo Lovera, Lula visitou o local junto com a mulher, Marisa Letícia, que faleceu em fevereiro deste ano, e o ex-diretor da OR (Odebrecht Realizações Imobiliárias), Paulo Baqueiro de Melo, também réu no processo. 

"Eles olharam o terreno durante 30, 40 minutos e foram embora", disse Lovera.

Segundo a testemunha, o jurídico da OR recomendou que a empresa não comprasse o terreno. Posteriormente, a área foi comprada pela DAG Construtora, de Demerval de Souza Gusmão -- de acordo com os procuradores, como laranja da Odebrecht. 

Apesar de o local pertencer à DAG, Lovera cuidava de questões administrativas como manutenção e segurança. Ele negou que a Odebrecht arcasse com tais despesas, servindo apenas como "apoio" da DAG em São Paulo. Segundo Lovera, Demerval era "muito amigo" de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo. 

Lovera negou saber que a companhia de Demerval poderia funcionar como intermediária disfarçada da Odebrecht. Segundo ele, as negociações para que o Instituto Lula ficasse no terreno eram tratadas como "um negócio transparente com uma iniciativa privada", e não como algo que envolvesse um esquema de corrupção.

Em seu depoimento, Emílio Odebrecht negou saber se a OR comprou, por meio da DAG, o imóvel supostamente destinado ao Instituto Lula. Ele também disse "não ter a mínima ideia" se a compra do terreno supostamente destinado ao Instituto Lula tinha relação com algum contrato da Odebrecht com a Petrobras.

Entenda o caso

A denúncia do MPF acusa Lula pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht. Segundo os procuradores, o ex-presidente teria recebido propina da empreiteira por intermédio do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci --também réu na ação, junto a Marcelo Odebrecht e a outras cinco pessoas.

O MPF afirma que parte do dinheiro foi usado para comprar o terreno da rua Haberbeck Brandão, na zona sul de São Paulo, que seria usado para a construção de uma sede do Instituto Lula (R$ 12,4 milhões).

A denúncia diz ainda que o dinheiro de propina também foi usado para comprar um apartamento vizinho à cobertura onde mora o ex-presidente, em São Bernardo do Campo (SP), que é alugado pela família de Lula. Na avaliação dos investigadores, a operação foi realizada para ocultar o verdadeiro dono do apartamento, que seria Lula.

No total, R$ 75 milhões teriam sido desviados da Petrobras por meio de oito contratos da Odebrecht com a estatal, de acordo com a força-tarefa. Parte do valor teria sido repassada a partidos e agentes políticos que apoiavam o governo Lula, principalmente PP, PT e PMDB. O ex-presidente foi apontado como o "responsável por comandar uma sofisticada estrutura ilícita para captação de apoio parlamentar, assentada na distribuição de cargos públicos na administração federal".

A defesa de Lula afirma que ele aluga o apartamento vizinho ao seu. Além disso, acrescentou que o Instituto Lula funciona no mesmo local há anos e que o petista nunca foi proprietário do terreno em questão. A transação seria um "delírio acusatório", complementam os advogados.