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Meu silêncio nunca esteve à venda, diz Cunha em depoimento à PF

7.fev.2017 - O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao ser interrogado - Reprodução
7.fev.2017 - O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao ser interrogado Imagem: Reprodução

Rafael Moro Martins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

14/06/2017 13h10Atualizada em 14/06/2017 13h44

O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse nesta quarta-feira (14) à Polícia Federal que seu silêncio "nunca esteve à venda", segundo o advogado Rodrigo Sánchez Rios. "Ele nunca foi procurado por ninguém para falar a respeito", disse o defensor.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) afirma que um diálogo entre Temer e um dos donos da JBS, Joesley Batista, mostra que o presidente teria dado autorização para que o empresário comprasse o silêncio de Cunha para que o ex-deputado não fechasse um acordo de delação premiada.

"O deputado ressaltou mais uma vez, de forma firme, que o silêncio dele nunca esteve à venda. Nunca procuraram ele, nem o presidente Temer nem interlocutores próximos ao presidente, para comprar o silêncio do deputado. Ele refutou todas as perguntas relacionadas a esse fato, negou categoricamente", falou Rodrigo Sánchez Rios, na saída do depoimento. "Com relação aos pagamentos para ele, sim [Joesley mentiu]."

Rios, entretanto, não negou que o deputado cassado tenha se encontrado com os irmãos Batista, donos da JBS. "Quem nesse país nunca se encontrou com eles, entre os políticos?", questionou. O ex-deputado, preso preventivamente desde outubro de 2016 e já condenado na Lava Jato, depôs na condição de testemunha, mas também é um dos alvos do inquérito aberto pela PF para investigar se Temer cometeu crimes corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa a partir de fatos revelados nas delações premiadas de executivos JBS.

"[Cunha] Aponta [no depoimento] que não conhece a irmã do Lucio Funaro, nem sabe do dinheiro encontrado com ela", afirmou Rios. Ele se refere a Roberta Funaro, que foi presa no último dia 18 em operação da Polícia Federal decorrente da delação da JBS, suspeita de receber pagamentos mensais de R$ 400 mil para não delatar o que sabe.

Lucio Funaro, tido como operador financeiro do PMDB e ligado a Eduardo Cunha e Michel Temer, está preso desde junho de 2016, em Brasília. A prisão da irmã levou-o a considerar a possibilidade de fechar um acordo de colaboração na Lava Jato. Em consequência disso, Cunha também começou a se movimentar para tratar da sua --advogados do deputado cassado temem que, se Funaro delatar, ele ficaria sem ter o que dizer em troca de uma redução em sua pena.

A menção a pagamentos semanais de R$ 500 mil a Eduardo Cunha, mesmo preso, apareceu em gravação incluída na delação do empresário Joesley Batista. Ele gravou uma conversa que diz ter mantido com Temer no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência. “Eu fiz o máximo que deu ali, zerei tudo. O que tinha de pendência daqui pra ali zerou”, diz Joesley, na gravação.

Cunha foi condenado a 15 anos de prisão por Moro por participação no esquema de corrupção na Petrobras.

O ex-deputado chegou à superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, por volta das 10h, trazido do Complexo Médico Penal, em Pinhais, região metropolitana, onde está preso preventivamente desde o ano passado. O advogado disse que estima que o depoimento de Cunha à PF tenha durado cerca de uma hora e meia.

 

Ouça a íntegra da conversa entre Temer e Joesley

UOL Notícias

47 perguntas a Cunha

"O deputado não teve acesso a todas as provas e depoimentos que estão dentro do inquérito", disse o advogado Rios. "[Por isso, ele] Fez uma declaração geral sobre as 47 perguntas que foram enviadas de Brasília. A metade diz respeito a ação penal que tramita na 10ª Vara sobre o FGTS. Isso é mais fácil responder no processo."

Eduardo Cunha é um dos réus, na Justiça Federal, acusado de cobrar e receber propina de empresas interessadas em obter empréstimos do FI-FGTS (Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

O inquérito contra Temer foi autorizado pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal) após as delações premiadas da JBS.

Temer tem rejeitado essa interpretação do diálogo e diz que o áudio apresentado por Joesley é “fraudulento”.

O presidente também afirma não ter se envolvido em irregularidades e diz ter pressa para o desfecho da investigação, para que os fatos sejam esclarecidos. A PF enviou 82 perguntas, por escrito, a Temer, mas ele não as respondeu.

Fachin chegou a determinar a prisão preventiva de Cunha no inquérito contra Temer. Mas o deputado já estava preso, por ordem do juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na 1ª instância do Judiciário.

O que diz o diálogo entre Temer e Joesley?

A gravação da conversa entre o presidente e o empresário tem, ao todo, 38min57s. O trecho em que Joesley Batista, dono da JBS, trata com Temer sobre o seu relacionamento com Cunha, dura cerca de três minutos.

O assunto é tratado quando Joesley pergunta a Temer como está a relação dele com Cunha. Em seguida, o empresário disse que fez o "máximo que deu ali", "zerei tudo", para explicar que não tinha mais pendências com o ex-deputado.

Na conversa, Joesley disse que trata de outros assuntos com o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB). Os comentários de Temer sobre Geddel, também investigado na Lava Jato, são incompreensíveis.

O dono da JBS afirma que houve vazamentos de conversas entre Cunha e Geddel que poderiam comprometer o grupo. Neste mesmo comentário de Joesley, ele declara a Temer “O que mais ou menos eu dei conta de fazer até agora: eu tô bem com o Eduardo, ok", diz Joesley.

Temer responde “Tem que manter isso, viu?”, mas o que ele fala a seguir é inaudível.

Inquérito contra Temer foi aberto em maio

Em maio, o STF (Supremo Tribunal Federal) abriu inquérito contra o presidente Michel Temer, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) vai apurar se o trio cometeu os crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça.

"Em reunião preliminar [com Joesley Batista] realizada em 07/04/2017, foram efetivamente apresentados alguns elementos de prova que indicam a possível prática de crimes por parte do presidente da República, Michel Miguel Elias Temer Lulia, do atual deputado federal Rodrigo Santos da Rocha Loures, do senador Aécio Neves da Cunha e de outras pessoas a eles ligados, mas não detentoras de foro por prerrogativa de função", diz o pedido de inquérito, assinado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

No pedido de inquérito, a Procuradoria afirma que Temer teria interesse no silêncio do antigo aliado.

"Eduardo Cunha, ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados, era do mesmo partido do presidente da República, PMDB, e se tornou pública a tentativa de Cunha arrolar o presidente da República como uma de suas testemunhas, fato reconhecido pelo próprio presidente como uma tentativa de constrangê-lo. Depreende-se dos elementos colhidos o interesse de Temer em manter Cunha controlado", diz o pedido de inquérito apresentado ao Supremo.

No pedido de inquérito, a PGR afirma que Temer e Aécio agiram em conjunto para tentar obstruir as investigações e relata pagamentos feitos por Joesley a pessoas próximas do presidente e do senador. O Planalto nega as acusações.