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'Não vamos escolher alvos', diz advogado sobre delação de Lúcio Funaro

Preso desde julho de 2016, Lúcio Funaro avalia estratégias de colaboração com a Justiça - Lula Marques/Folhapress
Preso desde julho de 2016, Lúcio Funaro avalia estratégias de colaboração com a Justiça Imagem: Lula Marques/Folhapress

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

16/06/2017 04h00

O advogado responsável por conduzir a eventual delação premiada do empresário Lúcio Funaro, Antonio Figueiredo Basto, disse que seu cliente “não vai escolher alvos” caso opte por colaborar com a Justiça. “Não vamos escolher alvos e nem vamos usar o nome do presidente para conseguir uma delação. Mas, se fizermos um acordo, não vamos ter predileção”, disse o advogado.

A referência ao presidente Michel Temer foi motivada pelos rumores de que Funaro poderia revelar informações sobre o envolvimento do peemedebista com as propinas supostamente operadas pelo empresário.

Funaro é apontado como um dos principais operadores de propina do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele está preso desde julho de 2016, durante a deflagração da Operação Sépsis. Ele também é investigado pelas operações Greenfield e Cui Bonno?.  Até acenar em direção a uma colaboração premiada, Funaro negava todas as acusações.

Recém-contratado, Figueiredo Basto é o mesmo advogado que atuou no acordo de delação premiada do doleiro Alberto Youssef. Ele reiniciou o processo de negociação de uma eventual colaboração de Funaro com os procuradores da Operação Lava Jato, antes tocado pelo advogado Bruno Espiñera Lemos, que continua na defesa do empresário.

Figueiredo Basto virá a Brasília na semana que vem para se encontrar com Funaro e disse que seu cliente não terá “alvos prediletos” caso opte por fazer uma delação.

“Ainda não definimos que linha vamos adotar, mas, caso optemos por um acordo, qualquer ele que seja, meu cliente não terá alvos prediletos. Vamos revelar tudo o que tiver para ser revelado”, afirmou.

O advogado mencionou as informações divulgadas na semana passada que indicavam que Funaro teria separado um dos anexos de sua possível delação premiada apenas para falar sobre o envolvimento de Michel Temer no esquema de pagamento de propina no qual o empresário atuava.

“Não temos a intenção de desestabilizar o país apenas para conseguir uma delação. Se houver alguma coisa a revelar sobre o presidente, vamos fazer isso sob o mais absoluto sigilo e prudência”, afirmou o advogado.

A proximidade entre Funaro e Michel Temer é apontada com um dos principais atrativos para que o MPF (Ministério Público Federal) firme um acordo de delação premiada com o empresário.

Funaro foi apontado pelo ex-assessor especial de Temer José Yunes como o homem que lhe entregou um envelope durante as eleições de 2014

Segundo o delator da Odebrecht Cláudio Mello Filho, o envelope continha R$ 1 milhão referentes a repasses da empresa para a campanha e que teriam sido acertados entre Temer e o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht. Yunes disse não saber que o envelope continha dinheiro e ter sido "mula" de Padilha. O ministro da Casa Civil, por sua vez, nega ter solicitado qualquer envio de recursos por meio de Yunes. 

Personagem “difícil”

Visto pelos procuradores da Operação Lava Jato como um dos investigados de perfil mais “difícil”, Funaro passou a acenar mais firmemente com a possibilidade de colaborar com a Justiça após a prisão de sua irmã, Roberta Funaro, durante a Operação Patmos, que teve como base as delações da JBS.

Roberta, que já foi solta, foi flagrada recebendo dinheiro de intermediários da empresa. Segundo os delatores, os valores recebidos por ela teriam a função de pagar pelo “silêncio” de Funaro.

Ainda não há consenso entre os procuradores se uma delação de Funaro seria interessante neste estágio das investigações. Também pesa contra ele o fato de ele já ter feito um acordo de delação premiada durante as investigações do mensalão.

Um dos termos do acordo firmado entre o empresário e os procuradores previa que ele não poderia cometer outro crime de natureza “dolosa”, quando se tem a intenção de praticar um ato criminoso.

As negociações entre a defesa de Funaro e os procuradores da Lava Jato são tocadas em sigilo. 

As três estratégias de Funaro

Figueiredo Basto diz que Funaro avalia três estratégias de colaboração com a Justiça. A primeira e mais provável no curto prazo, segundo o advogado, é uma colaboração com base na Lei de Lavagem de Dinheiro, e não com base na Lei da Delação Premiada.

A Lei de Lavagem de Dinheiro prevê uma redução das penas dos condenados por este crime se eles ajudarem as autoridades a recuperaram ativos ou revelaram informações sobre outros participantes do esquema. Segundo Figueiredo Basto, essa colaboração seria feita diretamente com a PF (Polícia Federal) e com a Justiça Federal e não envolveria o MPF.

A segunda estratégia seria uma colaboração em “primeiro grau” com o MPF com base na Lei de Delação Premiada. Neste caso, Funaro revelaria informações sobre o esquema que em que ele operava, mas não mencionaria nomes de cúmplices ou outros beneficiários com prerrogativa de foro como políticos com mandato ou até mesmo membros do Judiciário.

A terceira linha seria o que Figueiredo Basto chama de “colaboração global”, firmada diretamente com a PGR (Procuradoria-Geral da República). Nesta, Funaro teria de repassar informações sobre todos os integrantes do esquema em que atuava, inclusive o de pessoas com foro privilegiado.

O advogado de Funaro afirma que ainda não procurou os procuradores que atuam nos casos envolvendo o empresário e que a estratégia a ser adotada ainda precisa ser definida. De qualquer forma, ele afirmou que resumos dos anexos de uma eventual colaboração deverão estar prontos na próxima semana.

“Ainda não procurei ninguém. Precisamos ver, primeiramente, o que é bom para o meu cliente. Se for interessante para ele fazer um acordo global, vamos fazer”, afirmou.