Câmara responde a Dino e pede fim da suspensão de R$ 4,2 bilhões em emendas

A Câmara dos Deputados enviou ao ministro do STF Flávio Dino, na madrugada desta sexta-feira (27), um documento com 22 páginas para defender a legalidade das emendas parlamentares e solicitar a revogação da suspensão do pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão.

O que aconteceu

"Não procedem os argumentos de que a deliberação das emendas de comissão é oculta ou fantasiosa", diz a Câmara. O documento é assinado pelo Advogado da Câmara dos Deputados, Jules Michelet Pereira Queiroz e Silva. Clique aqui e leia na íntegra o documento protocolado pela Câmara junto ao STF.

Câmara defende que houve transparência nas emendas. Segundo o advogado, a deliberação está "detalhadamente documentada nos autos, com publicação ampla na internet. Tampouco há 'verba nova', não deliberada pelos colegiados competentes", aponta Queiroz e Silva. O documento cita um link em que constam as atas de aprovação das emendas de comissão, no site da Câmara dos Deputados.

Entidades que pediram a suspensão das emendas não conhecem o orçamento do poder Legislativo, afirma a Casa. "A argumentação dos peticionantes não corresponde à verdade e revela profundo desconhecimento do processo legislativo orçamentário", diz o documento. "Essas informações imprecisas e descontextualizadas impedem a correta apreciação e valoração dos fatos."

O advogado da Câmara diz ainda que não há "tentativa de descumprimento" de decisão do Tribunal. "A Câmara dos Deputados tem agido de maneira cooperativa e de boa-fé, em sincero diálogo institucional com os Poderes Executivo e Judiciário para aprimorar o processo de elaboração e execução orçamentária de maneira transparente e eficiente", escreve Queiroz e Silva.

Feitos esses esclarecimentos, pleiteia-se a reconsideração ou revogação de todas as medidas determinadas na decisão de 23 de dezembro, considerando que o procedimento questionado (...) é integralmente legal e legítimo.
Advogado da Câmara dos Deputados

Dino suspendeu verbas após manobra de Lira

Ministro do STF mandou suspender o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão. Decisão ocorreu após Lira manobrar para que 17 líderes partidários assinassem como "padrinhos" das emendas, em vez de dizer quem é o real autor das indicações. Após a determinação de Dino, a Polícia Federal abriu, na terça-feira (24), um inquérito para investigar a liberação do valor das emendas.

Ofício enviado hoje pela Câmara ao STF nega manobra de Lira. A Advocacia da Casa refuta que a suspensão das atividades das Comissões entre os dias 12 e 20 de dezembro foi uma estratégia para "impedir a deliberação dos colegiados". "Essa suspensão se deu para possibilitar em esforço concentrado às proposições de controle de gastos do Poder Executivo, que seriam votadas pelo Plenário da Câmara dos Deputados."

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Câmara diz que "não se pode falar de ato ilegal ou abusivo". O advogado argumenta que suspensão das atividades não tem relação com o encaminhamento do documento ao Executivo. "O objetivo único da decisão foi dar preferência à apreciação de temas considerados prioritários para o país, como a reforma tributária e o pacote de corte de gastos", diz o ofício.

Suspensão das emendas causou atritos no Congresso, que já estava de recesso. Os líderes partidários, do governo e da oposição, criticaram a decisão do ministro do STF. O Congresso está em recesso desde segunda-feira (23) e só volta às suas atividades formais em 1º de fevereiro, com a eleição da Mesa. De acordo com o regimento da Câmara, no recesso, apenas assuntos urgentes são tratados por uma comissão de parlamentares. Os servidores continuam trabalhando.

Ontem (26), Arthur Lira (PP-AL) disse que "tudo que foi feito" segundo os conformes. "Todos os atos foram feitos dentro dos acordos entre Executivo, Legislativo e conversas com o poder Judiciário", declarou, em entrevista coletiva em frente à residência oficial da Câmara. Na ocasião, o presidente da Câmara informou que a resposta ao ministro Dino seria dada hoje.

Diferentemente da Câmara, o governo Lula não vai recorrer da decisão de Dino. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que a decisão foi analisada pela AGU (Advocacia Geral da União), que chegou à conclusão de que não seria necessário apresentar recurso.

Câmara cita aval do governo

Advocacia da Câmara argumenta que houve aval do governo Lula. Segundo o documento, o ofício encaminhado ao Executivo "trata de indicações de emendas, não da criação ou aprovação de novas emendas à revelia das Comissões". O advogado afirma ainda que o ofício "segue rigorosamente a decisão do Tribunal, observando orientação técnica e jurídica de órgãos do Poder Executivo".

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Ofício foi enviado aos órgãos do governo, argumenta a Casa. Queiroz e Silva afirma que o documento foi encaminhado à Casa Civil e à Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. "A matéria foi submetida à Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos (SAJ), que novamente referendou a compreensão da legalidade do procedimento."

Quatro ministérios analisaram a questão, diz advogado. Ele cita as pastas da Fazenda, Planejamento e Orçamento, Gestão e Inovação e Relações Institucionais, bem como a Advocacia-Geral da União e a Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República. "O procedimento adotado pelos Líderes desta Casa foi considerado inteiramente legal e em conformidade com a decisão do Tribunal por todos esses órgãos."

Atas foram publicadas, diz Câmara

Advocacia da Câmara alega que as atas de deliberação das emedas estão publicadas no site da Câmara. Segundo o advogado, isso acontece desde o ciclo orçamentário de 2023. Essa é uma das determinações de Dino à Câmara.

Advogado alegou ainda que as emendas são aprovadas durante a apreciação da Lei Orçamentária Anual e que as citadas por Dino foram aprovadas em 2023. "A aprovação das emendas pelas Comissões se dá a partir de sugestões feitas por parlamentares e aprovadas formalmente pelos colegiados. Após a aprovação e sanção, ocorrem as indicações ao Poder Executivo que, de acordo com a LDO para o exercício de 2024, não têm caráter vinculante", diz Queiroz e Silva.

Ministro do STF citou casos de corrupção

Dino atuou após um pedido do PSOL e de entidades da sociedade civil, como o Instituto "Não Aceito Corrupção". O ministro entendeu que houve um "apadrinhamento" das emendas pelos líderes partidários, o que na prática impede a identificação dos verdadeiros parlamentares que fizeram os pedidos de distribuição.

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O ministro lembrou que o processo orçamentário objetiva a "a efetiva entrega de bens e serviços à sociedade" e destacou casos de corrupção investigados pela PF. "Não é compatível com a ordem constitucional, notadamente com os princípios da Administração Pública e das Finanças Públicas, a continuidade desse ciclo de (i) denúncias, nas tribunas das Casas do Congresso Nacional e nos meios de comunicação, acerca de obras malfeitas; (ii) desvios de verbas identificados em auditorias dos Tribunais de Contas e das Controladorias", enumerou.

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