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Procuradores pedem apoio popular para impedir que políticos acabem com a Lava Jato

04.jul.2017 - Procuradores da Operação Lava Jato participam de debate em Curitiba - Vinicius Boreki/UOL
04.jul.2017 - Procuradores da Operação Lava Jato participam de debate em Curitiba Imagem: Vinicius Boreki/UOL

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, em Curitiba

04/07/2017 23h00

Cinco procuradores da Operação Lava Jato se reuniram nesta terça-feira (04) durante um evento em Curitiba e fizeram uma forte defesa da Força-Tarefa. Segundo eles, a operação precisa ter mais apoio popular para resistir às pressões dos políticos interessados em acabar com as investigações.

Recebidos sob aplausos, Deltan Dallagnol, Carlos Fernando dos Santos Lima, Roberson Pozzobon, Jerusa Burmann Vieceli e Athayde Ribeiro Costa debateram durante cerca de duas horas sobre o atual estágio das investigações, a origem da operação e os rumos que ela deve seguir a partir de agora. O evento “Operação Lava Jato: passado, presente e futuro” ocorreu em um auditório lotado da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e teve a mediação do promotor de Justiça e autor do livro sobre a Operação Mãos Limpas, Rodrigo Chemin.

Agendado para 19h30, o evento teve início com mais de 30 minutos de atraso. Os valores arrecadados com a venda de cerca de 300 ingressos a R$ 80 serão revertidos para a APAE de Curitiba. A mulher do juiz Sergio Moro, a advogada Rosângela Wolff Moro, esteve presente e recebeu uma menção especial de Dallagnol. “Vendo você, me lembro da minha esposa. Sei o quanto você gostaria de ter o seu marido ao lado e não o tem, porque ele presta um serviço para a sociedade”, afirmou.

Em uma de suas análises, Carlos Fernando dos Santos Lima observou que a Lava Jato nasceu em um momento de instabilidade política, de falta de unidade durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Na avaliação dele, porém, os políticos resolveram se unir para derrotar a operação quando perceberam que o alvo das investigações não era apenas o PT.

“A Operação Lava Jato deu certo, porque o poder político estava sem unidade. Nós vivíamos em um governo que estava fragilizado, e muitos que estavam na oposição viram uma oportunidade, não dando apoio ao governo do PT e pensando que nós estávamos investigando o PT, não a corrupção. Quando perceberam, a investigação ganhou força e já era tarde para eles se unirem. Agora, estamos vivenciando uma unidade das forças políticas e a [Operação] está em situação de perigo real”, explanou.

Mencionando diversas operações de combate ao crime na política realizadas no país, Pozzobon afirmou que os exemplos mostram que a corrupção acompanha o Brasil há muito tempo. E a Lava Jato, para que seja considerada, de fato, um caso positivo, precisa contribuir ainda mais. “Já passou da hora de resolver o problema [da corrupção] de forma sistêmica, para que não retorne e se punam as pessoas, mas não só dos baixos escalões”, avaliou.

O fato de a Lava Jato e outras grandes investigações incomodarem pessoas de alta relevância para o país – tanto no cenário político quanto econômico – a coloca sempre em risco, na opinião dos procuradores. “Esses grandes atores têm grande influência no conteúdo da lei, que pode ser usada para punir as pessoas. E eles também têm influência sobre quem aplica a lei. As pessoas poderosas politicamente têm influência direta e indireta sobre os rumos do país”, afirmou Dallagnol.

Os riscos aos quais a operação está exposta

Ao comentarem sobre as dificuldades encontradas pela Lava Jato, os procuradores citaram a tentativa de alguns entes políticos de retirar força institucional dos órgãos. Como exemplo, Deltan Dallagnol afirmou que a Polícia Federal está “sem energia e sem tempo” para investir em novas investigações. “Precisamos cobrar do Estado e do governo uma posição a esse respeito”, diz.

Pozzobon incluiu a opinião pública entre as maneiras de pressionar o Estado. “Nós não podemos pecar pela omissão, deixar a coisa se esvair e deixar de acreditar nas mudanças. Isso precisa se dar institucionalmente e com o apoio popular”, avisa.

Segundo os procuradores, além das dificuldades institucionais, eles enfrentam obstáculos relacionados à ética de suas atitudes. Citaram, por exemplo, a tentativa do Congresso de aprovar uma lei de abuso de autoridade e a disseminação de “rótulos” depreciativos que eles vêm recebendo nas redes sociais.

“As pessoas querem crer em alguns casos, parece mais importante do que a verdade”, diz Lima a respeito do rótulo de “jacobino”.

Para Dallagnol, ser chamado de “messiânico” é um ataque à sua credibilidade como procurador. “Me acusam de messiânico em razão de minha fé cristã, atribuindo a pecha de irracionalidade”, ressalta.

Proximidade das eleições

A proximidade das eleições também é algo que preocupa a Força-Tarefa da Lava Jato, especialmente em um momento no qual o apoio popular se reduziu. “Percebemos um certo cansaço da população. Muitos que acreditavam que era uma investigação contra o PT não nos apoiam mais, outros querem que a economia melhore, mas, sem o combate à corrupção, vamos vivenciar esta crise novamente. É o momento da unidade, apesar do cansaço”, analisou Lima.

De acordo com Pozzobon, as eleições geram a oportunidade para o que ele define como “discurso do marco zero”, em uma reação ao estresse gerado contra os agentes políticos e econômicos por meio da investigação. “É preciso ter muito cuidado com esse discurso de que vamos anistiar a corrupção e seguir em frente, porque o país precisa se desenvolver. Se aceitarmos isso, estaremos aceitando o retrocesso, que vai nos colocar em uma situação pior do que a atual”, diz.

As delações premiadas

Questionados sobre a benevolência de alguns acordos de delação premiada, os procuradores evitaram fazer críticas públicas à Procuradoria-Geral da República. Para Lima, a delação precisa gerar um efeito multiplicador dentro de uma mesa de negociação: quanto mais a investigação tem interesse em uma informação, maior a moeda de troca do delator. “Nós temos que respeitar a posição da mesa de negociação. Vemos acordos que eu mesmo não concordo, mas foi o acordo possível naquele momento”, diz Lima.

No entanto, a delação, de acordo com o procurador, precisa gerar uma situação de instabilidade dentro da organização criminosa. “Uma colaboração gera um efeito dominó, que gera outra delação, que cria uma situação de insegurança nas organizações criminosas. É algo difícil de compreender: é uma lógica de mercado aplicada ao processo penal – porque são criminosos que ganham benefícios”, explicou Lima.

Por outro lado, Dallagnol reconheceu que a saída de colaboradores da prisão ou o cumprimento de penas em regimes semiabertos ou domiciliar não agrada a Força-Tarefa. “Só fazemos quando é absolutamente necessário para conseguir provas e informações contra um grande número de pessoas de igual ou maior importância. Se tivéssemos um sistema com penas altas, conseguiríamos penas maiores”, avaliou o coordenador da Força-Tarefa.