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Tatuagem de deputado em homenagem a Temer é de hena, acreditam tatuadores

Deputado federal Wladimir Costa (SD-PA) aparece sem camisa em cerimônia e expõe tatuagem com o nome de Temer - Divulgação
Deputado federal Wladimir Costa (SD-PA) aparece sem camisa em cerimônia e expõe tatuagem com o nome de Temer Imagem: Divulgação

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, de São Paulo

31/07/2017 21h23

A tatuagem que o deputado Wladimir Costa (SD-PA) fez para homenagear o presidente Michel Temer (PMDB), na opinião de especialistas, não passa de um desenho feito com hena, daquele tipo que se encontra facilmente nas praias do Brasil. Ouvidos pelo UOL, tatuadores de Belém, base eleitoral do parlamentar, e de São Paulo dizem que o desenho não parece ter sido feito em um estúdio, ao contrário do que disse Costa.

O parlamentar apareceu com a tatuagem – uma bandeira do Brasil e o nome de Temer – desenhada no ombro direito no último sábado (29), em Salinópolis (PA), durante a entrega de caminhões de coleta de lixo.

Para tatuadores ouvidos pelo UOL, as fotos divulgadas por Costa não revelam uma tatuagem permanente feita com agulhas, em estúdio, mas sim um desenho que utilizou hena, uma substância extraída de uma planta e usada normalmente por mulheres do Ocidente para tingir os cabelos e as sobrancelhas. Em alguns países da África e da Ásia, as mulheres usam o produto em desenhos para adornar as mãos.

Adão Rosa, dono da Náutica Tattoo, é tatuador há 18 anos e começou na praia, usando hena nos desenhos. Hoje, entre seus clientes famosos estão Neymar, Gabriel Jesus, Bruna Marquezine e Valesca Popozuda. Segundo o tatuador, o deputado fez um desenho com hena, e o trabalho deverá durar no máximo sete dias. Entre os sinais apontados por ele de que o trabalho utilizou apenas hena estão os borrões do desenho, o traço, que é muito grosso, além do tipo de mancha de tinta na camiseta regata do parlamentar.

Costa disse ter ficado com a camiseta manchada porque saiu do estúdio do tatuador diretamente para o evento em Salinópolis. Um tatuador de um dos grandes estúdios de Belém, no entanto, lembra que o usual é que as pessoas tatuadas saiam dos estúdios com o desenho protegido por um filme de PVC. “É uma questão de higiene, afinal é uma ferida aberta. As pessoas não fazem uma tatuagem e depois vão para a praia ou tomam sol. A recomendação é justamente o contrário. O desenho tem de ficar bem protegido por alguns dias até cicatrizar”, explica.

Magal Tattoo, dono de um dos principais estúdios de Belém, também acha que o desenho tem características de ter sido feito com hena. “Não parece ser uma tatuagem definitiva”, diz. Entre os grandes estúdios de Belém, ninguém tem notícias de quem teria feito o trabalho de homenagem a Temer no corpo do parlamentar. Ao jornal O Estado de S. PauloFrederick Nascimento, dono do estúdio onde o deputado diz ter feito sua tatuagem, negou que Wladimir Costa tenha estado lá.

Outro fato que causou espanto entre os tatuadores é o valor Costa diz ter pago pelo desenho: R$ 1,2 mil, parcelados em seis vezes. “Um desenho daquele tamanho e com aquele grau de dificuldade levaria menos de uma hora para ser feito e mesmo em um estúdio renomado não custaria mais do que R$ 500, R$ 600”, diz um outro tatuador de Belém, que preferiu não ser identificado na reportagem.

Para um outro tatuador de um grande estúdio da zona sul de São Paulo, o desenho, cheio de borrões e imperfeições, especialmente na bandeira do Brasil e na última letra do nome Temer, não parece ter características do estilo de um profissional, mas reflete falhas. “O desenho, que tem todo o jeito de ter sido feito com hena, é ruim. Parece que nem sequer foi limpo direito ao final do trabalho”, opina.

O deputado do Solidariedade e seu chefe de gabinete foram procurados tanto no gabinete, em Brasília, quanto no celular, mas até a publicação desta reportagem não haviam respondido.

Quem é Wladimir Costa

Antes de ser conhecido como o deputado que homenageou Michel Temer com seu nome tatuado no corpo, Wladimir Costa protagonizou outros momentos curiosos. Foi ele quem usou um disparador de confetes durante a votação do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), na Câmara dos Deputados, em abril de 2016.

16.abr.2016 - O deputado Wladimir Costa (Solidariedade-PA) usa confetes durante o seu discurso na sessão que discute a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff - Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo - Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo
Wladimir Costa solta confetes durante votação do impeachment de Dilma Rousseff
Imagem: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo

O parlamentar foi um dos principais defensores de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética da Câmara. Na última hora, pressionado pela opinião pública, Costa mudou de lado e votou contra o ex-presidente da Casa.

Mais recentemente, na Comissão de Comissão e Justiça (CCJ), o representante do Solidariedade fez uma defesa apaixonada de Temer – mas exagerou tanto no palavrório que disse que a oposição ao governo sofria de “Temerhomofobia”. Nesse mesmo dia, atacou nominalmente vários parlamentares contrários ao presidente, a ponto de ser ameaçado pelo presidente da comissão de ter a palavra cassada.

Em julho do ano passado, Costa teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Pará sob a acusação de ter recebido e não declarado R$ 410,8 mil de fontes não declaradas para sua campanha. Sua defesa recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral, que decidirá se ele mantém ou perde o mandato como parlamentar.