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Dilma critica governo Temer 1 ano após impeachment: "Ponte para futuro é regressão ao passado"

31.ago.2017 - Ex-presidente Dilma Rousseff (PT), militantes e artistas participam de evento no dia em que completa um ano do processo de impeachment que a retirou da Presidência da República - Mauro Pimentel/Folhapress
31.ago.2017 - Ex-presidente Dilma Rousseff (PT), militantes e artistas participam de evento no dia em que completa um ano do processo de impeachment que a retirou da Presidência da República Imagem: Mauro Pimentel/Folhapress

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

31/08/2017 22h29

No dia em que seu impeachment completou um ano, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) participou nesta quinta-feira (31) do evento “Dilma - o Brasil um ano depois do golpe”, organizado pelo deputado federal Waldih Damous (PT-RJ) e o jornal Brasil de Fato, no Rio de Janeiro. Ao longo de seu discurso de 1h20, ela lembrou do seu afastamento e criticou o atual governo, de Michel Temer (PMDB).

O ato ocorreu no auditório da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no centro do Rio. No salão, com cerca de 500 lugares, diversas pessoas carregavam cartazes com “volta, querida!”, entre outras alusões ao retorno da ex-governante ao Palácio do Planalto, e dizeres contra Temer.

Dilma começou sua fala se desculpando pela rouquidão, que atribuiu aos seis comícios dos quais participou nos últimos dias durante a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Nordeste. Em seguida, logo citou o processo que cassou seu mandato em 2016.

“Para mim, é importante estar aqui no dia 31 de agosto, um ano depois da cerimônia que tirou da presidência a primeira mulher eleita pelo voto direto com 54 milhões de voto, maior número de votos absoluto recebido por um presidente até então”, afirmou.

Para ela, o processo que resultou na sua saída do governo foi resultado da “suspensão do neoliberalismo” ocorrida em 2003, com a primeira eleição de Lula. Ela ainda citou a segunda vitória do ex-presidente, em 2006, como sinal do amadurecimento da população.

Na avaliação da petista, o atual presidente, que foi seu vice no primeiro mandato e no segundo incompleto, jamais seria eleito pelo voto com a plataforma de Estado mínimo e cortes que têm implementado. “O ponte para o futuro é uma regressão para o passado impossível de ser aprovada em uma eleição”, opinou Dilma, referindo-se ao slogan utilizado pelo governo Temer.

“Eles pensam: ‘Que bom que nós não precisamos de popularidade, assim podemos fazer todas as maldades’. O que é uma sandice. É não dar importância nenhuma ao voto, pensar que não precisa prestar contas à população. Mas quem precisa prestar contas precisará desses votos? Os nobres deputados, que não são suicidas”, disse ela.

Dilma Rousseff citou programas e ações criados pelos governos petistas, entre eles o ProUni, as cotas, os Mais Médicos e o Minha Casa, Minha Vida, como exemplos de projetos implementados apesar da resistência das elites, a quem culpou pela atual situação do país. “A visão tucana [do PSDB, aliado de Temer] de projeto social é projeto-piloto para 100 mil, 200 mil pessoas. Isso não serve em um país com 208 milhões de pessoas”, opinou.

A ex-presidente ainda citou a escravidão como um dos processos formadores do Brasil atual para criticar as elites. “Isso dá conta de uma série de preconceitos que atravessam a sociedade brasileira”, afirmou. “Explica por que nós temos a mais egoísta, a mais atrasada, elite econômica, porque tivemos a maior dificuldade para fazer os processos de inclusão mais simples”.

Dilma quase chorou ao citar a disposição do ex-presidente Lula de participar da próxima eleição. “A frase mais bonita que escutei nos últimos meses foi uma frase do Lula: ‘Vivo ou morto, condenado ou solto, em liberdade ou na prisão, eu participo de 2018’. Mostra a sua indignação com tudo o que aconteceu, com a morte da Marisa [Leticia, ex-primeira-dama morta em janeiro deste ano], com a sua prisão coercitiva. Mostra a sua compreensão da necessidade de interromper o golpe”.

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UOL Notícias

Contra os "capitães do golpe"

Dilma foi recebida aos gritos de “volta Dilma, anula esse golpe” e chegou acompanhada dos deputados federais Wadih Damous e Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e do senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Entre os presentes, chamava a atenção a ausência de caciques petistas. Da classe artística, a ex-ministra da Cultura Ana de Holanda foi uma das poucas a comparecer.

Boa parte dos participantes que falaram durante o ato repudiaram o impeachment, definido como golpe, e pediram o retorno da ex-presidente.

O presidente do PCdoB no Rio, Batista Lemos, causou saia justa ao dizer que era o momento de eleger Lula em 2018, sendo vaiado por parte do público. “Vocês têm razão, esse golpe foi ilegítimo, é volta Dima”, corrigiu-se.

Lindbergh lembrou o interrogatório de Dilma no Senado, em que a ex-presidente passou 14h respondendo a perguntas, e os meses que se seguiram ao impeachment, e disse que a história ainda irá corrigir esse erro.

“Eu só não imaginava que a desmoralização desse golpe fosse ser tão rápida. Cadê os capitães do golpe? Aécio Neves [senador do PSDB-MG], desmoralizado. Cunha [Eduardo, ex-deputado do PMDB-RJ], preso. Temer, que não consegue andar pelas ruas desse país”, afirmou. “Nós ainda vamos anular esse golpe, a história não irá perdoar os golpistas.”

“Temer, se tiver que sair do Planalto, não irá sair pela porta de trás, irá sair no camburão”, afirmou o deputado federal Wadih Damous, um dos organizadores do ato. “Basta ver o que essa quadrilha fez com o país.”

Ele ainda criticou a operação Lava Jato. “Essa chamada operação Lava Jato foi uma ponto importante da tentativa de encerrar o governo da presidente Dilma e encarcerar e tirar do jogo o presidente Lula. Nossa aversão, nosso repúdio à subversão do direito representada por esses rapazes de Curitiba.”