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Cármen Lúcia diz que áudios da JBS agridem 'dignidade' do Supremo e exige investigação

Ouça a íntegra da conversa entre Batista e Saud

UOL Notícias

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

05/09/2017 19h21Atualizada em 08/09/2017 17h07

A presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Cármen Lúcia, afirmou, em nota e vídeo divulgados na noite desta terça-feira (5), que os áudios sob suspeita de executivos da JBS agridem a "dignidade" do Supremo e cobrou rapidez nas investigações.

"Agride-se, de maneira inédita na história do país, a dignidade institucional deste Supremo Tribunal e a honorabilidade de seus integrantes", diz a nota.

"Impõe-se, pois, com transparência absoluta, urgência, prioridade e presteza a apuração clara, profunda e definitiva das alegações, em respeito ao direito dos cidadãos brasileiros a um Judiciário honrado", afirma a presidente do Supremo.

Cármen Lúcia enviou ofícios à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República cobrando que sejam apuradas as citações feitas a ministros do STF "a fim de que não fique qualquer sombra de dúvida sobre a dignidade deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes", diz a ministra na nota.

Cármen Lúcia também gravou um pronunciamento com o mesmo conteúdo da nota, que deverá ser divulgado ainda esta terça-feira.

Leia a íntegra do texto do pronunciamento da ministra:

"Ontem, o procurador-geral da República veio a público relatar fatos que ele considerou gravíssimos e que envolveriam este Supremo Tribunal Federal e seus integrantes.

Agride-se, de maneira inédita na história do país, a dignidade institucional deste Supremo Tribunal e a honorabilidade de seus integrantes.

Impõe-se, pois, com transparência absoluta, urgência, prioridade e presteza a apuração clara, profunda e definitiva das alegações, em respeito ao direito dos cidadãos brasileiros a um Judiciário honrado.

Enviei agora ao diretor-geral da Polícia Federal e ao procurador-geral da República ofícios exigindo a investigação imediata, com definição de datas para início e conclusão dos trabalhos a serem apresentados, com absoluta clareza, a este Supremo Tribunal Federal e à sociedade brasileira, a fim de que não fique qualquer sombra de dúvida sobre a dignidade deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes."

Janot pede investigação

Os diálogos sob suspeita trazem conversas entre o empresário Joesley Batista, Ricardo Saud, executivo da JBS, e Francisco de Assis, advogado do grupo. A conversa entre os três levantou a suspeita de que o ex-procurador Marcelo Miller possa ter atuado de forma irregular na negociação da delação do grupo.

Os áudios também revelam menções a ministros do STF e ao ex-ministro José Eduardo Cardozo. Mas não há indícios de irregularidades praticadas pelos citados nos áudios já divulgados pela imprensa.

O ministro Edson Fachin, relator da delação da JBS, retirou o sigilo dos áudios na noite desta terça-feira, mas seu conteúdo não foi ainda divulgado na íntegra.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou na segunda-feira (4) a abertura de investigação para apurar a omissão de informações no acordo de colaboração premiada firmado por três dos sete delatores da JBS após a descoberta de novas gravações.

A delação dos empresários foi fundamental na abertura de inquérito contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), por suspeitas de corrupção passiva e obstrução de Justiça. Temer foi denunciado por corrupção, mas a Câmara dos Deputados barrou o prosseguimento do processo. O presidente nega o envolvimento em qualquer crime.

O procurador-geral afirmou que uma das frentes da investigação vai apurar a participação de Marcelo Miller, ex-procurador da República e ex-braço direito do próprio Janot, nas negociações para fechar a delação da JBS. Ainda segundo Janot, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) foram citados nas conversas.