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Funaro diz que entregou dinheiro a Henrique Alves e que Temer conhecia esquema

Veja os principais pontos da delação de Funaro

UOL Notícias

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

27/10/2017 17h49Atualizada em 30/10/2017 19h51

O delator Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB, afirmou nesta sexta-feira (27), em audiência na Justiça Federal, ter entregue dinheiro pessoalmente ao ex-ministro Henrique Alves (PMDB-RN) e disse “ter certeza” que o ex-ministro foi beneficiado com recursos do esquema de propina supostamente montado pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Caixa Econômica. Ele disse ainda que o presidente Michel Temer (PMDB) tinha conhecimento do esquema.

"Entreguei pra ele [Alves] mesmo, nas mãos dele em São Paulo", disse Funaro.

Funaro prestou depoimento na 10ª Vara Federal de Brasília. O delator é réu no processo em que Cunha e Alves são acusados de participar de um esquema de corrupção na Caixa Econômica Federal para liberação de recursos do FI-FGTS, fundo de investimento estatal.

“Eu tenho certeza que ele [Cunha] repassou dinheiro para o Henrique Alves”, disse o delator, respondendo a perguntas do juiz Vallisney de Oliveira, de Brasília.

Funaro afirmou ter entregue em uma ocasião cerca de R$ 150 mil reais pessoalmente a Alves num hotel em São Paulo e disse também ter emprestado um avião particular para que um funcionário do ex-ministro levasse uma mala com cerca de R$ 5 milhões de reais que seria utilizado na campanha de Alves ao governo do Rio Grande do Norte.

Presente à audiência, Cunha demonstrou contrariedade com o relato de Funaro sobre a suposta participação do ex-deputado no esquema.

"Ele [Cunha] sempre foi muito correto. Nunca tive problema nenhum de contabilidade com ele", disse Funaro. Do outro lado da mesa na sala de audiência, Cunha balançou a cabeça em sinal de negativa à afirmação.

Funaro afirmou possuir o registro de suas operações financeiras para corroborar seu depoimento.

"Para você ter uma ideia, eu tenho mais de 10 anos de contabilidade guardada, se quiser, nós podemos levantar um por um", disse.

Durante o depoimento, Funaro afirmou que Cunha foi “centenas de vezes” ao seu escritório, em São Paulo. “Em época de eleição, o deputado Eduardo Cunha estava toda segunda-feira no meu escritório. Ele tinha tanta intimidade que a ordem para a minha secretária era que ele entrasse na minha sala, sentasse na minha cadeira e recebesse quem ele tivesse que receber”, declarou.

Em um momento do depoimento, o corretor falou com voz embargada, aparentando segurar o choro. "Minha irmã foi presa, meu irmão foi quase preso. Minha vida se transformou num inferno. Não tive outra opção", disse.

Questionado pelo representante do Ministério Público Federal sobre quem do PMDB tinha conhecimento do esquema da Caixa, Funaro citou o presidente Michel Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima.

"Esse grupo maior do PMDB na Câmara sabia desse esquema que envolvia Fábio Cleto?", perguntou o procurador Anselmo Lopes. "Geddel com certeza [sabia], o Lúcio, irmão do Geddel, com certeza, Henrique Alves, Michel Temer, Moreira Franco, Washington Reis", respondeu Funaro.

O juiz Vallisney anunciou que o retorno de Cunha para o Paraná está suspenso até que o depoimento dele, ainda não marcado, seja realizado. A transferência estava inicialmente prevista para este sábado (28).

Carta a Henrique Alves

Funaro contou também que partiu dele a ideia de exigir que Fábio Cleto assinasse uma carta de demissão, sem data, endereçada ao então líder do PMDB na Câmara, o então deputado Henrique Alves.

Cleto disse ter assinado o documento antes de ter sido nomeado para o cargo de vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa. Segundo Funaro, nem Cunha nem Alves participaram dessa iniciativa.

O corretor disse ter guardado a carta numa pasta, e que não chegou a comentar da existência do documento com Cunha ou Alves.

Apontado como antigo operador do PMDB, o corretor de valores Lúcio Funaro passou à posição de acusador de Cunha ao fechar acordo de colaboração premiada e relatar supostos fatos ilícitos praticados pelo peemedebista.

O ex-deputado passou então a atacar a veracidade da delação de Funaro, afirmando que ele relata fatos dos quais não participou. Cunha também teria tentado negociar um acordo de delação, mas o processo não foi adiante.

Na audiência nesta sexta-feira, Cunha e Funaro estão sentados um de cada lado de uma mesa postada à frente do juiz Vallisney Oliveira, responsável pelo processo. Eles estão acompanhados por seus advogados.

A denúncia contra Cunha e Alves teve como base as investigações da Operação Sepsis. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), entre os anos de 2011 e 2015, o então deputado Eduardo Cunha atuou em um esquema de cobrança de propina a empresas beneficiadas pela Caixa Econômica Federal e ao FI-FGTS.

O esquema teria contado com a participação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente de Loterias da Caixa Econômica Federal que posteriormente assinou um acordo de delação premiada.

Além de Cleto, Cunha e Alves, também foram denunciados no processo o corretor Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB, e o empresário Alexandre Margotto.

Cleto, Funaro e Margotto, réus nesse processo, firmaram acordos de colaboração premiada com a Justiça.

Eduardo Cunha tem negado o envolvimento em qualquer prática ilegal. A defesa de Henrique Alves afirma que não há provas contra ele. A defesa de Temer e Moreira Franco negam a participação no suposto esquema de propina do PMDB.

Em manifestação na Câmara dos Deputados, o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, e o do ministro Moreira Franco, Antonio Sergio Pitombo, criticaram a denúncia apresentada contra o grupo do PMDB na Câmara e afirmaram não haver provas de irregularidades.

Em nota, o advogado Gamil Föpel, que representa Geddel e Lúcio Vieira Lima, afirmou que as declarações de Funaro são "vazias e inverídicas", que o ex-ministro --atualmente preso em Brasília-- "jamais participou de qualquer irregularidade na gestão da Caixa e nem em qualquer outro órgão público que tenha integrado", e que o deputado federal tem "conduta proba e lícita".

A reportagem não conseguiu entrar em contato o deputado Washington Reis (PMDB-RJ).

Questionada a respeito das declarações de Funaro, a Secretaria de Comunicação da Presidência afirmou, por meio de nota, que "o presidente contesta de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos, ainda mais partindo de um delator que já mentiu outras vezes à Justiça".