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Aliado a Cabral, ex-chefe da Casa Civil do Rio é preso em ação da Lava Jato

22.out.2012 - Régis Fichtner, em entrevista coletiva sobre a concessão do Maracanã - ERBS JR./Frame
22.out.2012 - Régis Fichtner, em entrevista coletiva sobre a concessão do Maracanã Imagem: ERBS JR./Frame

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

23/11/2017 06h32Atualizada em 23/11/2017 12h07

O ex-secretário de Estado da Casa Civil do Rio de Janeiro Régis Fichtner foi preso nesta quinta-feira (23) em mais uma etapa da Operação Lava Jato realizada em território fluminense. Um dos homens de confiança da gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), ele recebeu voz de prisão por volta das 6h, em sua casa, na Barra da Tijuca, na zona oeste carioca.

Na ação, a PF cumpre ainda outros quatro mandados de prisão --eles são contra Henrique Alberto Santos Ribeiro (ex-presidente da Fundação Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro, a Funderj), Lineu Castilho Martins (apontado como operador de Henrique Ribeiro), Maciste Granha de Mello Filho (sócio de construtora) e o empresário Georges Sadala Rihan

Fitchner e Sadala participaram do episódio que ficou conhecido como “Farra dos Guardanapos”, ocorrida em 2009 em Paris. O nome da operação "C'est fini" ("É o fim" ou "Acabou", em tradução livre) faz alusão ao animado jantar que reuniu Cabral, ex-secretários de Estado e empresários hoje investigados na Lava Jato. A fase de hoje da Lava Jato no Rio é derivada da Operação Calicute --a mesma que levou Cabral e ex-secretários dele para a cadeia, em novembro do ano passado.

O empresário Alexandre Accioly foi intimado a prestar depoimento na sede da PF e foi cumprida a condução coercitiva do ex-dono da empreiteira Delta e réu da Lava Jato Fernando Cavendish, em prisão domiciliar desde julho de 2016.

De acordo com a apuração policial, Fichtner é suspeito de ter recebido propina avaliada em R$ 1,5 milhão. O inquérito foi instaurado a partir de informações sobre a existência de uma organização criminosa que atuava no setor de prestação de serviços ao Estado. Além disso, há indícios de fraudes a precatórios (requisições de pagamento expedidas pela Justiça para quitação de dívidas de entes públicos) durante o governo Cabral (2007-2014).

A PF informou que, no decorrer das investigações, constatou-se que empresários costumavam procurar Fichtner para obter vantagens em relação a contratos com o Executivo mediante pagamento de propina.

Cavendish chega para prestar depoimento na sede da Polícia Federal - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Cavendish chega para prestar depoimento na sede da Polícia Federal
Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Um dos serviços sob suspeita é conhecido como "Poupa Tempo", programa criado para reunir órgãos públicos (municipais, estaduais e federais) e entidades privadas a fim de facilitar e agilizar o atendimento e a prestação de serviços de utilidade pública.

Fichtner passou a ser investigado depois que seu nome surgiu em planilhas de Luiz Carlos Bezerra, também réu na Lava Jato e tido como operador do "caixa" da quadrilha. Ele era identificado pelos "Gaúcho" e "Alemão".

Bezerra afirmou, em depoimento à Justiça, ter feito, a mando de Cabral, quatro entregas em dinheiro vivo e ilícito para o ex-chefe da Casa Civil. O montante seria de R$ 100 mil.

As anotações do operador eram um registro manuscrito do esquema de cobrança e pagamento de propina que, segundo as denúncias do MPF, beneficiou de forma criminosa vários agentes públicos.

Lineu Castilho era identificado, nas anotações de Bezerra, como “Boris”, também conhecido como “Russo” e “Kalash”. Segundo a Lava Jato, ele teria aportado cerca de R$ 17 milhões para a organização criminosa, atuando sempre como braço-direito e operador financeiro do ex-presidente da Funderj.

Além de vizinho de Cabral no condomínio Portobello, em Mangaratiba (RJ), Georges Sadala, conhecido pelos pelos codinomes “G”, “Salada” e “Saladino”, é apontado pelo MPF como "o grande corruptor da iniciativa privada na área de prestação de serviços especializados relacionados ao programa Rio Poupa Tempo". Em troca de facilidades na contratação de suas empresas junto ao Estado, ele é suspeito de ter garantido o pagamento de propina, com o aporte de ao menos R$ 1,3 milhão em favor da organização criminosa.

Maciste Granha de Mello Filho, sócio da empresa Construtora Macadame LTDA. é suspeito de ter desembolsado ao menos R$ 552 mil, propina em espécie para facilitar contratos de suas empresas junto ao Estado do Rio de Janeiro.

Evolução patrimonial de mais de 2.800%

A Receita Federal, que também participa da operação, informou ter identificado a partir de análises fiscais indícios de "possível distribuição fictícia de lucros e dividendos por pelo menos uma empresa" ligada a um dos investigados. O objetivo seria ocultar a evolução patrimonial do suspeito.

"Também foram constatadas algumas inconsistências em relação ao efetivo funcionamento de empresas de investigados", explicou a Receita.

Apenas um dos investigados teve, em dez anos, uma evolução patrimonial líquida de mais de 2.800%, passando de pouco menos de R$ 1 milhão, em 2006, para mais de R$ 28 milhões, em 2016. A Receita não informou se o suspeito em questão seria o ex-chefe da Casa Civil.

Já o MPF afirma que Sadala teve evolução patrimonial exponencial, desde o início do governo Cabral.

Alvo de condução coercitiva, Cavendish disse em depoimento anterior à Justiça ter desembolsado 5% de propina em troca de vantagens na licitação da reforma do Maracanã.

farra dos guardanapos - Reprodução/Blog do Garotinho - Reprodução/Blog do Garotinho
Da esquerda para a direita: Sérgio Côrtes (ex-secretário de Saúde); Georges Sadala (empresário), Fernando Cavendish (empresário), Sérgio Dias (ex-secretário municipal de Urbanismo) e Wilson Carlos (ex-secretário de Estado de Governo)
Imagem: Reprodução/Blog do Garotinho

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O advogado de Cavendish, Cristóvão Marques, afirmou que não vai comentar o caso. A reportagem do UOL tenta contato com a defesa dos demais acusados.

Função estratégica na gestão Cabral

Natural de Porto Alegre, Fichtner é advogado e ocupou o cargo de chefe da Casa Civil do Estado do RJ durante toda a gestão Cabral (2007-2014). Sua vida política sempre girou em torno do ex-governador.

Foi suplente de Cabral no Senado e chegou a assumir a cadeira na ausência do cacique peemedebista. Exerceu ainda a função de tesoureiro da campanha na qual o ex-chefe se elegeu pela primeira vez para a chefia do Executivo fluminense, em 2006.

Sempre foi um aliado estratégico para Cabral, assim como Wilson Carlos, apontado como braço direito e segundo homem na hierarquia do grupo criminoso que, de acordo com a Justiça, MPF (Ministério Público Federal) e Polícia Federal, era liderado pelo ex-governador.

No governo do Estado, ficou diretamente responsável por conduzir processos licitatórios e acompanhar o andamento de grandes obras realizadas no período investigado, tais como a construção da linha 4 do metrô. (Com Estadão Conteúdo)

Obra da linha 4 ficou sob supervisão de Fichtner

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