Não soubemos explicar ao povo "encalacrada" da reforma trabalhista, diz Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira (30) que a oposição não soube explicar ao trabalhador o que definiu como "encalacrada" da reforma trabalhista aprovada pelo governo de Michel Temer (PMDB). Lula discursou em evento da Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT do Estado de São Paulo, em São Bernardo do Campo.
"A verdade é essa: nós não soubemos explicar para o povo o que foi essa mudança trabalhista. Nós ficamos muitas vezes num discurso de chavão e a gente não disse para a peãozada, para eles compreenderem, qual foi a encalacrada que meteram no futuro deles", afirmou Lula.
Para uma plateia de sindicalistas, o ex-presidente não economizou no tom das críticas à mobilização contra a reforma, que entrou em vigor este mês e muda uma série de regras sobre contratação, férias e jornada, entre outros aspectos das relações trabalhistas. Lula chegou a declarar que o trabalho intermitente é "quase que a volta à escravidão".
"Nós, nesse momento, nós precisamos explicar para a peãozada o que está acontecendo nesse país. Mas explicar com detalhes. Ele tem que saber a trolha que ele está tomando. Ele tem que saber que o que ele conquistou hoje não foi de graça, não. Ele tem que saber quanta gente tomou porrada por causa dele."
Começar "tudo outra vez"
Em pouco mais de 40 minutos de discurso, Lula relembrou uma série de histórias das mobilizações de metalúrgicos que liderou no ABC paulista no fim dos anos 1970 e início dos 1980. A memória das greves tinha como objetivo, aparentemente, estimular e cobrar os sindicalistas presentes a se mexerem de forma mais eficaz contra a reforma trabalhista. O ex-presidente insistiu na necessidade de os sindicatos se mobilizarem também de forma política, e não apenas em torno de temas econômicos, como salários.
"Não adianta nada ir todo dia na porta da fábrica xingar a burguesia, xingar o patrão, e na época da eleição ver o Paulo Skaf [presidente da Federação de Indústrias de São Paulo] ter mais votos na empresa do que um trabalhador", disse Lula.
Segundo o ex-presidente, os sindicatos --que estão encolhendo com as novas regras trabalhistas-- terão que estar prontos para o momento em que os trabalhadores começarem a sentir as mudanças nas relações de trabalho.
"Eles vão sentir quando o trabalho intermitente estiver prevalecendo nas fábricas, quando a empregada doméstica voltar a ser empregada quase que escrava, sem nenhum direito", afirmou. "E quem é que tem a responsabilidade de alertar essa gente? Vocês."
Para o ex-presidente, o momento é ruim para o trabalhador, mas obriga os sindicalistas a serem dirigentes "contestadores".
"Vocês vão ter que voltar para a porta da fábrica para brigar muito, como a gente brigava nos anos 70", afirmou Lula. "Nós vamos ter que começar quase que tudo outra vez."
Lula segue em pré-campanha para disputar a Presidência nas eleições de 2018. No dia 4, o ex-presidente inicia mais uma caravana, agora pelos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Apesar da agenda política intensa, o petista ainda espera o julgamento em segunda instância do chamado processo do tríplex, da Operação Lava Jato, que pode determinar a legalidade da sua candidatura presidencial. Em julho, Lula foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sua defesa afirma que foram ignoradas "evidências esmagadoras de inocência" e que não há provas dos crimes citados na sentença.
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