Natal da desesperança: a direita radical perdeu a piedade
Terminou a festa que comemorou o nascimento do profeta Jesus —para os cristãos, o filho de Deus uno e trino— numa manjedoura de uma gruta e envolto em paninhos trazidos por uma mãe pobre em deslocamento.
Uma data comemorada à larga num mundo multipolar e num Brasil polarizado.
Um Natal e fim de 2024 sem que a sociedade internacional saiba quantos conflitos armados, guerras em sentido amplo, estão em curso no nosso planeta.
Quiz: quantas guerras em curso?
Fala-se em 59 guerras em andamento, num balanço não oficial realizado por preocupados operadores do direito internacional e, num outro levantamento, também não oficial, por especialistas em geopolítica.
As vítimas seriam, em grande número e maior quantidade, na faixa de Gaza.
Os cálculos incluem civis, palestinos e ucranianos, não partícipes das lutas e, à luz do direito internacional, vítimas inocentes.
Nesses dois balanços, em 2024, o número de vítimas fatais atingiu 233 mil, bem mais do que em 2023, que tece cerca de 179 mil.
Caso realizado um quiz pelas redes sociais, muitos responderiam apenas sobre as guerras entre russos e ucranianos e entre Israel e Hamas —esta com derivação para o Líbano e referentemente ao Hezbollah, um dos braços do imperialista Irã.
Numa apertada síntese, muitos não têm noção sobre o mundo multipolar e as dificuldades para se estabelecer uma nova e equilibrada ordem.
Poucos atentam para os conflitos e as flagrantes violações aos direitos humanos.
Abaixo, comentarei o escândalo da sentença absolutória do líder da direita radical italiana, Matteo Salvini, membro, no âmbito da União Europeia, do partido europeísta denominado "Patriotas", do qual participam Marine Le Pen, Viktor Orbán e a fina flor do radicalismo de direita.
No Brasil, continua a polarização
Dando uma olhada para o nosso umbigo, no Brasil, a polarização política continua. Prendeu-se preventivamente e erroneamente um general por obstrução à Justiça. Tal general, de nome Walter Braga Netto, é golpista, autoritário e despótico, mas isso tem a ver com o mérito do futuro processo criminal, por golpe de Estado, organização criminosa e atentado violento ao Estado de Direito.
Atenção! Permanece solto, sem cautelar judicial detentiva e necessária, o líder de um golpismo em continuação delitiva, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
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Quero receberEmbora fora do poder, Bolsonaro segue agitando, ao atacar a Constituição democrática e, por consequência, formar um clima de inconformismo e intranquilidade social.
A vergonha italiana
A direita radical italiana, tendo à frente Matteo Salvini (apoiador de Bolsonaro), está comemorando uma incrível absolvição, apesar da consumação de crime de sequestro, com gravíssimas violações ao direito natural dos seres humanos.
Vamos aos fatos incontroversos. A embarcação humanitária de nome Open Arms resgatou 147 náufragos no Mediterrâneo, em três difíceis operações em razão do mar revolto e condições climáticas negativas. Ou melhor, 147 migrantes fugindo da fome, das guerras, do desemprego, da falta de medicamentos e assistência médica e do nenhum futuro.
Eles tinham partido da Líbia, em transporte precário, operado por organizações criminosas.
A embarcação de salvamento, mantida por uma organização humanitária de socorro a migrantes, tentou alcançar o porto mais próximo, devido às condições precárias dos recolhidos e à pouca quantidade disponível de água potável, alimentos e medicamentos. Era muita gente: 147 pessoas, a incluir crianças, grávidas e idosos.
Ao se aproximar do porto da ilha de Lampedusa, no canal da Sicília, a comandante e condutora da Open Arms recebeu, por rádio, a comunicação de ordem que proibiu o desembarque.
A ordem, naquele agosto de 2019, partiu do então ministro do Interior (segurança interna), Matteo Salvini.
Salvini preside o radical partido da Liga Norte, nascido separatista na Itália —inicialmente a estabelecer um Estado nacional na região mais fértil italiana, que chamaram de Padânia, numa referência ao rio Pó.
Durante 19 dias, a comandante do Open Arms resistiu e apontou os riscos de deslocamento a outro porto. A ordem de Salvini continuou a mesma, apesar da pressão internacional humanitária.
Fim da vergonhosa história
Depois de 19 dias, a embarcação partiu do canal siciliano e ocorreu o desembarque em porto de Malta.
A Justiça italiana, pelo Ministério Público de Palermo, processou, em outubro de 2021, Matteo Salvini, hoje vice-premiê e da coalizão de direita dirigida pela primeira-ministra Giorgia Meloni.
Salvini foi processado por agravado crime de sequestro de pessoas e por abuso de poder, ao descumprir regra legal de natureza administrativa.
Atenção! Na semana que antecedeu o Natal, o órgão colegiado de primeiro grau absolveu Salvini. Na véspera do Natal, os italianos tomaram conhecimento da motivação da sentença.
A tese vencedora, apresentada pela defesa técnica, era pela insubsistência de crimes. Alegaram que Salvini havia praticado ato administrativo legal ao impedir a imigração clandestina, operada pela criminalidade organizada.
O "fato não subsiste", entendeu a Corte de Palermo.
Pano rápido
Assim como Jair Bolsonaro, o vice-premiê Matteo Salvini saiu falando que foi processado por uma magistratura politizada, que sustenta a oposição de esquerda.
A canhestra e desumana decisão absolutória, com fatos mais do que comprovados, serve para mostrar como o mundo se encontra desestabilizado.
A direita radical, pelos seus desvalores, perdeu a piedade... Embora tenham os radicais comemorado o Natal, com grande alegria e sem dor na consciência.
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