"De pileque antes do meio-dia", diz Cabral sobre operador que anotava propinas
O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), preso e condenado em ações penais da Lava Jato, afirmou à Justiça, nesta quinta-feira (7), que seu ex-funcionário Luiz Carlos Bezerra "bebia muito" e que, por esse motivo, as anotações de propina apreendidas com ele não teriam credibilidade. "Às vezes, chegava de pileque antes do meio-dia", declarou o ex-chefe do Executivo durante interrogatório na 7ª Vara Federal Criminal, do juiz Marcelo Bretas.
"O Bezerra tinha uma característica que era a de beber muito. Inclusive, houve um caso em que, na minha casa, ocorreram agressões verbais dele contra a mulher. Até o momento que eu tive que dar um basta."
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Segundo o MPF (Ministério Público Federal), Bezerra exercia a função de operador financeiro no grandioso esquema de corrupção chefiado por Cabral. As denúncias no âmbito da Lava Jato apontam que cabia a ele recolher pagamentos de propina e fazer entregas de valores. As anotações apreendidas em novembro do ano passado, durante a Operação Calicute, são usadas como prova em várias ações penais da 7ª Vara nas quais o ex-governador é réu.
Na avaliação de Cabral, os manuscritos de Bezerra teriam sido produzidos sob efeito de bebida alcoólica.
O ex-chefe do Executivo disse ainda considerar que os depoimentos do ex-funcionário à 7ª Vara foram motivados por "desespero". Também réu na Lava Jato, Bezerra chegou a ser preso preventivamente, mas aceitou colaborar com a Justiça e foi liberado pelo juiz Marcelo Bretas. Nas audiências, o operador mantém a versão de que, de fato, recolheu propina e efetuou pagamentos a mando do peemedebista.
"A cadeia não é fácil. Se o Ministério Público trabalhar para que a pessoa confirme a versão do MP, podemos chamar de 'cama de procusto'. Vai adaptando. (...) O Bezerra correu atrás da denúncia. Foi encontro ao desejo do Ministério Público. As anotações [de contabilidade paralela] não têm 'lé com cré'."
A defesa de Bezerra afirmou "não ser verdade" a alegação de que ele estava sob efeito de bebida alcoólica enquanto produzia os manuscritos. "Eles são contemporâneos à época dos fatos, de 2011 a 2016. Isso não é uma planilha feita a posteriori", reforçou o advogado Ranieri Mazzilli Neto.
A audiência desta quinta diz respeito à ação penal derivada da Operação Ratatouille, que revelou a existência de um esquema de cobrança e pagamento de propina em relação a contratos do governo do Estado com fornecedores do setor de alimentos. Além de Cabral, foram denunciados Carlos Miranda, Luiz Carlos Bezerra (operadores financeiros) e o empresário Marco de Luca. O MPF afirma que Luca pagou R$ 16,7 milhões em vantagens ilícitas entre 2007 e 2016.
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