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Cabral diz que pagava salário de R$ 70 mil a operador com caixa 2

'Filhotes da Lava Jato': conheça as operações que miram Cabral

UOL Notícias

Hanrrikson de Andrade e Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

14/12/2017 16h25

O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso e condenado em ações penais da Lava Jato no Rio de Janeiro, contestou nesta quinta-feira (14) os R$ 150 mil que Carlos Miranda, apontado como seu operador, afirmou que ele e os ex-secretários Wilson Carlos (Governo) e Régis Fichner (Casa Civil) recebiam como salário para operar o suposto esquema de propina do ex-governador. Ele voltou a chamar o antigo colaborador de "amarra-cachorro" subalterno.

O MPF (Ministério Público Federal) questionou então qual era o salário do economista, que revelou ter fechado acordo de delação premiada na semana passada. "Ah, não era isso, eram R$ 70 mil, R$ 75 mil", disse. "Um valor alto para um subalterno, não?", questionou a procuradora Fabiana Schneider.

Cabral então admitiu tratarem-se de valores de caixa dois. Na versão do ex-governador, a Miranda cabia pagar contas e fazer imposto de renda, entre outras atividades.

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Segundo ele, "havia uma fila" de interessados em financiar suas campanhas eleitorais. "Há uma frase do Tancredo: 'melhor que o poder é a perspectiva do poder'. O fato de eu ter tido sempre boas performances eleitorais, havia uma fila para me ajudar", disse Cabral, em interrogatório na 7ª Vara Federal Criminal, na região central do Rio.

Cabral pede desculpas à população por caixa 2

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"Quando eu perdi para o Conde [Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio], foi uma grande lição para mim. O telefone não toca no dia seguinte. E aí é difícil pagar as dívidas de campanha", completou.

Denunciado à Justiça por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Cabral já disse várias vezes ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela 1ª instância da Lava Jato no Rio, ter cometido o crime de caixa dois e utilizar dinheiro de campanha para fins pessoais.

Eu tive uma vida muito além dos meus dinheiros lícitos.

Sérgio Cabral, ex-governador do Rio

Ele nega, contudo, as outras acusações dos promotores do MPF (Ministério Público Federal).

Durante o curso das ações penais, Cabral declarou que, na última eleição em que disputou, em 2010, gastou R$ 125 milhões, sendo R$ 25 milhões legais e R$ 100 milhões não declarados à Justiça Eleitoral. "Tudo isso foi gasto. Gasto em consumo. Não fiz uma poupança de US$ 100 milhões", comentou.

Cabral foi interrogado nesta quinta em processo que apura esquema de pagamento de propina envolvendo a Carioca Engenharia em contratos das obras do Arco Metropolitano, do PAC Favelas e da linha 4 do metrô do Rio de Janeiro.

A Lava Jato diz que uma organização criminosa atuou em diversas contratações do Estado do Rio de Janeiro, entre 2008 e 2014, tendo sido estruturada para que Cabral recebesse “mesada” de até R$ 500 mil da empreiteira.

Entre os dez denunciados, estão Cabral, os ex-secretários Wilson Carlos (Governo) e Hudson Braga (Obras), o ex-subsecretário estadual de Transportes Luiz Carlos Velloso e Ricardo Pernambuco, um dos donos da Carioca Engenharia.

Derrota do Flamengo

Após o interrogatório, Bretas e Cabral ainda comentaram a final da Copa Sul Americana na noite de quarta-feira (13), na qual o Flamengo, time do juiz, foi derrotado pelo argentino Independiente.

Vascaíno, Cabral disse ao rubro-negro Bretas que torceu para o Flamengo. "Eu juro, sou pragmático. Assim o Vasco entraria direto na Libertadores", afirmou o ex-governador, ao que o juiz retrucou que não acreditava na afirmação.

Cabral emendou mais um elogio à sua gestão. "Foi uma pena. Ia ser o primeiro título internacional de vocês no Maracanã, com o estádio novo, reformado."