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'Gerente de Cabral' diz que recebia R$ 150 mil/mês para administrar propina

Cabral desqualifica operadores que admitiram propina

UOL Notícias

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio*

11/12/2017 15h19

Apontado como o principal operador financeiro do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato no Estado, Carlos Miranda afirmou nesta segunda-feira (11) que ele e os ex-secretários do peemedebista Wilson Carlos (Governo) e Régis Fichtner (Casa Civil) recebiam R$ 150 mil por mês cada um para operar o suposto esquema de recolhimento propina do ex-governador.

Agora na condição de delator, Miranda fez as afirmações em uma audiência com o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, responsável na 1ª instância pela Lava Jato no Estado. “Nós três recebíamos R$ 150 mil como salário. Carlos Bezerra [apontado pelo Ministério Público como auxiliar de Miranda no recolhimento de propinas], uns R$ 30 mil, R$ 40 mil”, disse Miranda.

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A reportagem do UOL procurou as defesas de Wilson Carlos e Régis Fichtner sobre as acusações de Miranda, mas ainda não obteve retorno.

O advogado de Sérgio Cabral, Rodrigo Roca, refutou as acusações e criticou o instrumento da delação premiada.

"Os inúmeros defeitos da norma que rege a delação premiada no Brasil acabaram dando azo a uma verdadeira indústria de delatores, não apenas no caso do Ex-Governador, mas em todo o país. No caso de SÉRGIO CABRAL, não há uma só pessoa que tenha prestado declarações favoráveis à acusação que não tenha obtido ou espere obter algum benefício processual (redução da pena, liberdade, etc.). Cada qual tem como preocupação exclusiva o tamanho da pena que vai lhe caber. A última coisa que passa nas cabeças dessas pessoas é a verdade ou a justiça. O Sr. Carlos Miranda é apenas mais um exemplo dessa prática nefasta", disse o defensor, por meio de nota.

Mais uma vez, Miranda reafirmou a existência de um elaborado esquema de cobrança de propinas por parte de Cabral das empresas que estabeleciam contratos com o Estado durante o período que ele ficou à frente do governo fluminense, entre 2007 e 2014.

De acordo com ele, Wilson Carlos, então secretário de Governo, era responsável por todas as tratativas e acordos do governo com os empresários. Ele e Carlos Bezerra cuidavam de receber o dinheiro e distribuir. E o ex-secretário da Casa Civil Régis Fichtner era o homem de confiança de Cabral e cuidava da estrutura da propina dentro do governo.

Ele afirmou ainda que toda propina arrecadada era direcionada aos irmãos doleiros Marcelo e Renato Chebbar, que tinham a função de enviar para o exterior ou manter guardados os recursos arrecadados pela quadrilha.

As audiências desta segunda têm como foco os pagamentos de propina relacionados à empresa Carioca Engenharia. Antes de Miranda, a Justiça ouviu o empresário Ricardo Pernambuco, que reiterou ter pagado propinas mensais de R$ 500 mil ao governo.

Ao fim do depoimento, a defesa de Bezerra fez referência ao depoimento de Cabral na semana passada em que o ex-governador afirmou que o auxiliar de Miranda “já estava de pileque antes do meio-dia” e, em razão disso e do sofrimento de estar preso, teria inventado a participação do esquema de propina. Miranda respondeu que tinha total confiança em Bezerra, que sempre teve um desempenho “satisfatório” e nunca apresentou problemas com álcool no trabalho.

Preso desde março, o ex-diretor de engenharia da Riotrilhos (Companhia de Transportes sobre Trilhos do Estado do Rio) Heitor Lopes de Sousa Junior reafirmou ter recebido propinas de empreiteiras e disse que todas as decisões referentes à linha 4 passavam pela Casa Civil, comandada por Fitchner.

*Colaborou Bernardo Barbosa, do UOL, em São Paulo