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PF fecha cerco e pede registros de endereços ligados a suposto operador de Aécio

Delatores da Odebrecht afirmaram que repassaram dinheiro de caixa 2 para Aécio Neves - Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Delatores da Odebrecht afirmaram que repassaram dinheiro de caixa 2 para Aécio Neves Imagem: Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

18/01/2018 04h00

A Polícia Federal solicitou cópias dos registros de entrada e saída de endereços ligados ao empresário Oswaldo Borges, apontado por delatores da Operação Lava Jato como operador do recebimento de caixa 2 de campanhas do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Borges comandou a licitação da Cidade Administrativa, obra mais cara da gestão do tucano e, segundo um delator da Odebrecht, teria cobrado e recebido dinheiro de propina e caixa 2 em favor a Aécio Neves e seu grupo político.

A defesa de Borges disse não ter autorização para dar entrevistas sobre o caso. A de Aécio Neves não respondeu às ligações feitas pela reportagem. 

O pedido de acesso aos registros de endereços ligados a Oswaldo Borges foi feito no final de dezembro do ano passado e faz parte do inquérito que apura o pagamento de caixa 2 pela empreiteira Odebrecht a campanhas de Aécio Neves e seu grupo político. O inquérito tramita no STF (Supremo Tribunal Federal).

A PF solicitou os registros das sedes da Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), presidida por Oswaldo Borges entre 2003 e 2014. Os investigadores também pediram acesso aos registros das sedes da concessionária de veículos Minas Máquinas, da qual Borges é diretor financeiro, e de um apartamento alugado pela Odebrecht onde, segundo seus delatores, ocorriam as entregas de dinheiro vivo a intermediários de Borges. 

O foco nesses endereços é uma tentativa dos investigadores de obter evidências que possam comprovar ou não os relatos de delatores da Odebrecht como Sérgio Neves, ex-executivo da empresa em Minas Gerais. Em depoimento prestado no ano passado, ele disse à PF que, em 2014, participou do pagamento de pelo menos R$ 5,2 milhões a Borges a título de caixa 2 para campanha presidencial de Aécio Neves e de outros integrantes do grupo político do tucano.

Segundo o depoimento, Sérgio Neves se encontrava pessoalmente com Oswaldo Borges na sede da Minas Máquinas, em Contagem, município da região metropolitana de Belo Horizonte.

Nesses encontros, Sérgio Neves repassava senhas a Oswaldo Borges. Essas senhas deveriam ser utilizadas por um emissário de Borges para a retirada do dinheiro em um apartamento alugado pela Odebrecht na capital mineira.

Sérgio Neves disse que chegou a fazer a entrega de R$ 500 mil em espécie nas mãos de Oswaldo Borges. O repasse teria sido feito no dia 3 de novembro de 2014 na sede da concessionária em Contagem.

O dinheiro, segundo Sérgio Neves, estava em uma mala. Depois da entrega, disse o delator, ele foi convidado por Borges para almoçar no refeitório da empresa.

O acesso aos registros de entrada e saída dos edifícios onde funcionam a concessionária Minas Máquinas pode ajudar a PF a elucidar uma aparente contradição entre os depoimentos de Sérgio Neves e Oswaldo Borges.

Em seu depoimento à Polícia Federal, Oswaldo Borges contradisse Sérgio Neves ao afirmar que não se encontrou com o ex-executivo da Odebrecht na sede da concessionária no ano de 2014.

Relações familiares e políticas

Oswaldo Borges e Aécio Neves mantêm relações próximas desde os anos 1980. Borges é casado com uma das filhas do padrasto do tucano, o banqueiro Gilberto Faria, morto em 2008.

Borges atuou como captador de recursos para a campanha ao governo de Minas Gerais em 2002 e, após a vitória do tucano, foi nomeado para presidir a Codemig. Ele ficou no comando do órgão até 2014, já durante o governo do sucessor de Aécio no governo mineiro, o hoje senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). 

Em 2007, sob o comando de Borges, a Codemig realizou o processo de licitação para a construção da Cidade Administrativa, complexo de edifícios criado para centralizar órgãos públicos do governo de Minas Gerais. A obra estava orçada em R$ 500 milhões, mas custou R$ 1,26 bilhão.

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Cidade Administrativa foi a obra mais cara da gestão de Aécio Neves no governo mineiro
Imagem: Alex de Jesus/O Tempo

Segundo delatores da Odebrecht e da construtura OAS, empreiteiras pagaram propina relativa à obra a Oswaldo Borges.

O ex-chefe do setor de operações estruturadas da Odebrecht Hilberto Silva disse em sua delação que a propina relativa à obra era de 3% do valor contratado pelo governo de Minas Gerais junto à Odebrecht.

Outro que relatou ter pago propina relativa à Cidade Administrativa foi o ex-executivo da OAS Léo Pinheiro. Segundo ele, o valor da propina também seria de 3% sobre o contrato firmado pela empreiteira.

Aécio Neves responde nove inquéritos no STF. Ele é investigado por suspeitas de recebimento de propina investigadas pela Operação Lava Jato e foi denunciado pela PGR (Procuradoria Geral da República) por ter pedido R$ 2 milhões ao empresário da JBS Joesley Batista. Em entrevistas e pronunciamentos, o senador tucano vem negando sua participação nas irregularidades. 

Outro lado

Procurado pela reportagem, o advogado de Oswaldo Borges, Carlos Alberto Arges Júnior, disse que seu cliente não o autoriza a se pronunciar sobre o caso. Em seu depoimento à PF, Oswaldo Borges negou ter praticado os crimes atribuídos a ele por delatores da Odebrecht.

A reportagem enviou mensagens de texto e fez ligações ao advogado de Aécio Neves, Alberto Toron, entre segunda-feira (15) e terça-feira (16), mas não obteve retorno. 

Em nota, a Odebrecht disse reforçar "a consistência e plenitude de sua colaboração com a Justiça no Brasil e nos países em que atua e está empenhada em ajudar as autoridades a esclarecer qualquer dúvida" e que "o acordo de colaboração da Odebrecht já se provou eficaz e está comprovado nos desdobramentos das investigações e processos judiciais no Brasil e no exterior". A empresa disse ainda que "está comprometida a combater e não tolerar a corrupção, qualquer que seja a sua forma".