Presidente da Fecomércio tentou sabotar investigações, diz Lava Jato do Rio
O MPF (Ministério Público Federal) pediu a prisão do presidente da Fecomércio-RJ (Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro), Orlando Diniz, para “garantia da ordem pública”. Diniz foi preso na manhã desta sexta-feira (23). Segundo os procuradores, ele implementou "rotineiramente medidas de contra-inteligência para frustrar investigações”.
Diniz é acusado de ocultar documentos usados no gasto de R$ 180 milhões de verba pública com a contratação de escritórios de advocacia. Ele também teria participação na contratação de funcionários-fantasma na instituição. Uma consultoria ligada a Diniz foi usada para lavar dinheiro, segundo a acusação.
Para os procuradores, a prisão de Diniz é “essencial para preservar a investigação”. Segundo o MPF, ele também tem influência no Sesc e no Senac --administrado pela Fecomércio.
A Lava Jato no Rio indica que Diniz realizou atos de sabotagem da atual gestão do Sesc e do Senac no Rio “chegando a dispensar funcionários e fechar a sede dessas entidades para dificultar o acesso da nova administração, além de convocar conselheiros a não comparecerem a reuniões designadas por esta, inclusive com promessas de vantagens indevidas”, afirmam os procuradores.
"[Diniz] é um investigado que oculta documentos, pede para pessoas guardarem documentos em locais desconhecidos das autoridades, faz reunião e proíbe a entrada de celular, realiza reunião com músicas altas para atrapalhar qualquer gravação", disse o procurador José Augusto Vagos.
"Em escutas, vimos que ele sabotou reuniões com os atuais diretores em troca de pagamento de vantagem indevida. Foi oferecido R$ 3 mil reais para cada diretor não comparecer a reuniões. Embora afastado formalmente, tentava ter ingerência sobre a entidade", complementou.
Acusações contra Diniz
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), nos últimos quatro anos, escritórios de advocacia foram contratados com verba pública federal do sistema Sesc/Senac, com gastos de cerca de R$ 180 milhões. Diniz não teria observado as "regras mínimas" para a contratação, "havendo indícios de que os supostos documentos que dariam suporte a esses gastos foram propositalmente ocultados".
Deste total, cerca de R$ 20 milhões foram pagos ao escritório pertencente a Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), de acordo com os investigadores.
As investigações apontam que pessoas ligadas à gestão da Fecomércio estariam envolvidas no esquema. Em decisão liminar (provisória), ele foi afastado da presidência dos conselhos regionais do Sesc e do Senac em dezembro do ano passado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Na ação de hoje, a PF ainda indica que "diversas pessoas receberam, por anos, salários da Fecomércio, embora nunca tenham trabalhado no órgão". "Algumas dessas pessoas, na verdade, trabalhavam para o ex-governador preso [Cabral], e outras são familiares próximos de outros membros da organização criminosa", disse a polícia em nota.
Entre os familiares, há irmãos e mulheres de operadores de Cabral. No total, foram gastos mais de R$ 7,6 milhões com salários a funcionários-fantasmas.
Além da contratação de escritórios de advocacia, a ação de hoje investiga crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. De acordo com o MPF, entre 2007 e 2011, uma organização criminosa liderada por Cabral na Fecomércio lavou R$ 3 milhões por uma consultoria ligada a Diniz na entidade. O esquema teria sido autorizado por Cabral.
Para os procuradores, Diniz, como empresário e presidente da Fecomércio, "tinha interesse em oferecer vantagens indevidas para obter benefícios por parte do ex-governador em suas atividades e no setor do comércio".
Procurados, os defensores de Adriana Ancelmo ainda não se manifestaram a respeito da operação desta sexta-feira. A defesa de Diniz ainda não foi localizada.
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