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Temer diz que povo se "regozijou" com "centralização do poder" em golpe de 64

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

26/03/2018 18h44Atualizada em 26/03/2018 20h07

O presidente Michel Temer (MDB) declarou nesta segunda-feira (26) que o povo brasileiro se “regozijou” com o que chamou de “centralização absoluta do poder” no golpe militar de 1964.

Ainda segundo o presidente, é “interessante” a afirmação de que não houve um golpe de Estado no país, porque a população queria um governo de "maior poder central".

“Em 64 novamente o povo se regozijou, porque, novamente, uma centralização absoluta do poder que, mais uma vez, durou de 64 a 88. É interessante quando se diz ‘ah, mas não houve golpe de Estado. Houve um desejo de centralização’. A ideia do povo era de que deveria haver uma concentração do poder, como houve nesse período todo”, afirmou Temer.

A declaração foi dada em encontro com empresários e políticos na diretoria da Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) de São Paulo, na capital paulista.

Antes deste trecho da fala, Temer ressaltou a importância de os Estados serem fortes e disse que o Brasil tem “federação um pouco capenga”. Ele então falou que a tendência de centralização da União é histórica, desde a época das capitanias hereditárias, e citou conflitos no país até 1930.

Em seguida, comentou a centralização do governo federal de 1930 até 1945, sob o comando de Getúlio Vargas. Devido à conjuntura internacional da época com a queda de regimes ditatoriais na Europa, explicou, o Brasil também viu cair o governo centralizador. De 1945 a 1964, o país viveu relativa estabilidade sem tanta concentração de poder. Ao explicar o retorno da centralização em 1964, declarou a frase citada sobre o povo ter se regozijado. De acordo com o dicionário Houaiss, regozijar significa “alegrar (-se), contentar (-se)".

“Fiz esse breve relato para revelar que havia uma dissonância, discordância, distância muito grande entre a Constituição formal, ou seja, aquilo que está escrito, e aquilo que acontece ou acontecia na vida do Estado”, afirmou, ao acrescentar que somente a partir da Carta Magna de 1988 que se instalou um governo mais participativo.

Na avaliação de Temer, o Brasil sempre considerou o Legislativo como um apêndice do Executivo, mas o pensamento foi quebrado em sua gestão por meio do diálogo.

Em discurso de quase uma hora de duração, Temer relembrou fatos de seu governo até o momento como as reformas junto à dificuldade de se aprovar a da Previdência, a melhora da economia, a forte oposição sofrida após o impeachment da antecessora Dilma Rousseff, a intervenção federal no Rio de Janeiro, entre outros temas.

Ao final da fala, Temer pregou que o brasileiro tem razões para ser mais otimista, embora ande pessimista, ao seu ver. Segundo ele, “um ódio começa a tomar conta das pessoas”, que não prestam mais tanta atenção à Constituição como deveriam, e devido ao que chamou de “certo desajustamento da ordem jurídica”, falou, sem citar casos específicos.

“A última palavra que eu quero dizer, se pudermos todos pregar, vamos pregar otimismo no país. Nós estamos crescendo, nós estamos desenvolvendo. [...] O Brasil voltou e vai ficar”, declarou.

À imprensa, o presidente já disse pensar em se candidatar à reeleição no pleito de outubro deste ano. Com intenção de voto que não chega a 2% segundo última pesquisa sobre a corrida presidencial, Temer tenta se viabilizar candidato. Uma possibilidade é contar com o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na chapa.