Lula recebe teólogo na prisão para "assistência espiritual" e manda dizer que é "candidatíssimo"
Preso há exatamente um mês em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu nesta segunda-feira (7) a visita do teólogo Leonardo Boff após ganhar autorização da Polícia Federal para receber "assistência espiritual". Segundo a PF, o direito não é exclusivo de Lula e vale na carceragem da corporação desde 2015.
Ao deixar o prédio da PF em Curitiba, onde Lula cumpre pena, Boff disse em entrevista coletiva que o ex-presidente mandou dizer que é "candidatíssimo" nas eleições deste ano, e que só desistirá da disputa quando o juiz Sergio Moro trouxer "uma única prova de que ele é o dono do tríplex".
Próximo do PT há muitos anos, Boff foi ordenado padre, mas deixou o sacerdócio. Ele é um dos expoentes da teologia da libertação, corrente cristã nascida na América Latina nos anos 1970 e que defende uma atuação religiosa voltada para os pobres. Críticos da teologia da libertação costumam associá-la ao marxismo e, por anos, a corrente não foi vista com bons olhos pelo Vaticano.
Moro condenou Lula em primeira instância no caso do tríplex a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ao considerar que o ex-presidente recebeu R$ 2,2 milhões em propina na forma do imóvel e escondeu ser seu beneficiário. Na segunda instância, o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) ampliou a pena para 12 anos e um mês de prisão pelos mesmos crimes. A defesa de Lula afirma que não há provas dos delitos.
A condenação em segunda instância pode deixar Lula inelegível pelos critérios da Lei da Ficha Limpa, mas o PT garante que vai registrá-lo na Justiça Eleitoral, em agosto, como seu candidato a presidente, e não admite publicamente a possibilidade de um "plano B". Os nomes dos ex-ministros Fernando Haddad e Jaques Wagner já foram ventilados nos bastidores como possíveis alternativas a Lula caso o ex-presidente não possa disputar a eleição.
Segundo Boff, Lula disse que quer voltar ao poder para "radicalizar o processo de cidadania", orientando o poder econômico e político "aos que sempre foram excluídos". O ex-presidente também declarou estar muito indignado pelo que chamou de "acúmulo de mentiras a partir do mundo jurídico", relatou o teólogo.
No dia 19 de abril, Boff tentou visitar Lula, sem sucesso, pois não havia liberação da Justiça. Agora, as autorizações para visitas estão sendo tratadas pela defesa do ex-presidente diretamente com a PF, conforme decisão da juíza Carolina Lebbos, que cuida da custódia do petista.
Em busca do "significado" da prisão
Ainda de acordo com Boff, Lula está "muito bem, com entusiasmo e vigor" mesmo estando isolado dos outros presos e conversando apenas com o guarda que lhe traz comida, "que é muito simpático". O ex-presidente cumpre pena em uma sala separada da carceragem da PF em Curitiba.
O teólogo disse ter passado uma hora e meia com Lula. Segundo Boff, o ex-presidente tem lido muito, e quer "aprofundar a questão da espiritualidade" não no sentido religioso, mas para entender "o significado de estar preso, um desígnio maior que transcende a ele e a nós".
Entre as leituras, disse Boff, está um livro do próprio teólogo, "O Senhor é Meu Pastor", que comenta o Salmo 23 da Bíblia. Segundo Boff, Lula "está impactado" com a força deste trecho bíblico.
Um dos salmos mais conhecidos entre os cristãos, o Salmo 23 diz: "O Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias".
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