Engenheiro da Odebrecht diz ter se reunido com compadre de Lula para "regularizar" obras no sítio
O engenheiro da Odebrecht Emyr Diniz Costa Júnior, um dos delatores da empreiteira, disse nesta segunda-feira (5) que foi em 2011 ao escritório de Roberto Teixeira, advogado e compadre do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para explicar a ele como haviam sido feitas várias reformas no sítio de Atibaia (SP), que é o centro de um dos processos contra o petista na Operação Lava Jato.
De acordo com o engenheiro, Teixeira se responsabilizaria, então, por “bolar uma forma de regularizar” as obras realizadas no sítio, que era frequentado pelo ex-presidente. A declaração de Emyr foi dada na tarde desta segunda em depoimento à Justiça Federal, que retomou hoje os interrogatórios do processo que investiga se Lula foi beneficiário de reformas no sítio.
As audiências de hoje foram as primeiras a serem conduzidos pela juíza Gabriela Hardt. Ela assume interinamente as funções de Sergio Moro, que deixou a Operação Lava Jato após aceitar um convite do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para ocupar o Ministério da Justiça no novo governo. Moro saiu de férias nesta segunda e deve pedir sua exoneração do cargo apenas em janeiro.
Assim como Lula e Teixeira, o engenheiro também é réu no processo que investiga se o ex-presidente foi o beneficiário de reformas no sítio. Lula é acusado de ter recebido propina de R$ 1,02 milhão de Odebrecht, OAS e Schahin por meio de obras realizadas em dezembro de 2010. A vantagem indevida seria uma contrapartida a contratos com a Petrobras obtidos de forma fraudulenta.
Em seu depoimento, Emyr relatou ter ido ao escritório de Teixeira junto a Alexandrino Alencar, ex-executivo da Odebrecht, cerca de três meses após o fim das obras realizadas no sítio.
“Ele [Alexandrino] pediu que o acompanhasse ao escritório do advogado Roberto Teixeira para que eu explicasse a eles como a obra tinha sido feita, que eles iam bolar uma forma de regularizar esse contrato”, afirmou o engenheiro, que relatou ainda que Teixeira foi apresentado a ele como o "advogado do presidente Lula".
Segundo Emyr, o pedido foi feito “para que, primeiro, não parecesse que a Odebrecht tivesse feito o trabalho”, e “segundo, para que desse legalidade à contratação dessa obra pelo proprietário de registro do terreno”.
O engenheiro mencionou um tíquete de estacionamento, datado de 1º de março de 2011, como um comprovante do suposto encontro com Roberto Teixeira. A reportagem procurou a defesa de Teixeira para saber se gostaria de comentar o depoimento de Emyr, mas ainda não teve resposta.
Odebrecht não podia aparecer na obra, diz ex-executivo
Outro réu interrogado hoje foi Carlos Armando Guedes Paschoal, ex-diretor da Odebrecht em São Paulo e que também tem acordo de delação premiada. O ex-executivo da empreiteira disse que a reforma seria feita em um casa que Lula usaria, e que o envolvimento da Odebrecht nas obras não podia ser revelado.
Paschoal disse ter sido procurado por Alexandrino Alencar, executivo que era do alto escalão da Odebrecht, para dar “apoio” à reforma. O ex-diretor contou ter designado Emyr Diniz para tocar os trabalhos, e pediu R$ 500 mil em caixa 2 a Ubiraci Santos para custear os trabalhos. Santos integrava o "setor de operações estruturadas" da Odebrecht, na prática um departamento voltado para a operação e planejamento de pagamentos ilegais.
"Esses 500 mil, como a Odebrecht não podia aparecer, não haveria um contrato. Eu recorri à área financeira que cuidava dos recursos denominados de caixa 2", explicou.
Segundo Paschoal, Alencar não explicou por que motivo a Odebrecht faria a obra, e ele também não perguntou. "Esse tipo de pedido que vem muito de cima, não dá para questionar", disse o ex-diretor.
Também foi mencionado no interrogatório um e-mail em que Paschoal atualiza Marcelo Odebrecht, ex-presidente do Grupo Odebrecht, sobre o andamento das obras em Atibaia. Paschoal disse ter deduzido, após ler outros e-mails entregues à Justiça, que Marcelo queria fazer a informação chegar a Lula por meio de Emílio Odebrecht, seu pai e ex-presidente do conselho de administração da empresa.
"Era para ele (Marcelo) passar para o pai, que ia ter um encontro com o presidente no dia 30, e o Marcelo gostaria que o doutor Emílio comentasse o andamento da obra", afirmou.
Paschoal cita um e-mail em que Marcelo pede a funcionárias que repassem a Emílio uma série de assuntos para levar a Lula, entre eles o tópico "Obras sítio".
Marcelo e Emílio são réus na ação penal sobre o sítio de Atibaia e serão interrogados na quarta-feira (7). Além deles, de Lula e dos interrogados hoje, também respondem ao processo Alexandrino Alencar, da Odebrecht; Agenor Medeiros, Léo Pinheiro e Paulo Roberto Valente Gordilho, da OAS; Fernando Bittar, dono do sítio; o pecuarista José Carlos Bumlai; o advogado Roberto Teixeira; e o ex-assessor da Presidência Rogério Aurélio Pimentel.
Neste processo, Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A defesa de Lula afirma que ele nunca recebeu ou solicitou qualquer benefício, favorecimento ou vantagem indevida de qualquer empresa. O ex-presidente será interrogado no dia 14.
Lula está preso na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, desde o dia 7 de abril cumprindo pena por outro processo, o do tríplex do Guarujá (SP), pelo qual foi condenado em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
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