Posse mistura clima de romaria a exaltação a forças de segurança
Rosângela Ponzio, 44, enxerga somente uma fresta do asfalto, mas gritos eufóricos avisam que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) desce a Esplanada dos Ministérios.
Vozes empolgadas anunciam a boa nova: "Ele está em carro aberto". Leva quase nada para ela conseguir confirmar a informação.
Bolsonaro acena sorridente para o público. A passagem é rápida. Também é inesquecível, diz Rosângela. Ao final da cena, os olhos dela estão cheios de lágrimas. "Quando o vi, nem consegui tirar foto. Fiquei hipnotizada e pedi para Deus guiar o Brasil", conta a moradora de Maringá (PR).
Maria do Socorro Haber, 60, valoriza tanto Bolsonaro que trocou a festa de seu aniversário sexagenário na piscina da casa do filho por uma passagem de Belém (PA) a Brasília.
"Conheci tanta gente nesta viagem. No ônibus, me aplaudiram e cantaram parabéns. Na hora do desfile, chorei", relata e chora de novo.
Assim como ela, parte das 115 mil pessoas que estiveram na cerimônia de posse deram ao evento um clima de romaria. Brasileiros que consideram que a prosperidade passa por preservar valores religiosos.
A identificação de Bolsonaro com este público é tamanha que havia um pastor orientando fiéis no gramado próximo ao Congresso Nacional. "Deixa Deus te usar, varão", falou Junior Torres ao encerrar uma mensagem de voz aconselhando um integrante do Ministério Reconstrução do Templo, igreja da Assembleia de Deus em São Sebastião, cidade satélite do Distrito Federal.
"É a primeira vez que a Igreja Cristã ajudou a colocar [no Planalto] um presidente que se preocupa com a família."
Milton de Oliveira, 74, também é religioso. Pastor evangélico batista, fez questão de ir à posse de terno, sua roupa de trabalho. Ele acha bonito as pessoas usarem verde e amarelo, mas prefere a parte do slogan que diz "Deus acima de tudo".
Bonecos gigantes são portal de entrada na posse
As pessoas que foram à posse paravam no Eixo Monumental atraídas por dois bonecos gigantes de Bolsonaro. Era tanta gente que ficou cena fácil no Instagram de quem esteve em Brasília nesta terça.
Andando mais 700 metros, o público chegava à primeira barreira de vistoria. A área tinha pessoas distribuindo panfletos pedindo orações pelo Brasil ao lado de cartazes com temas religiosos como Cristo pregado na cruz.
Carros do Exército tocavam músicas sertanejas. A playlist era restrita: seis sucessos de cantores como Wesley Safadão, Gusttavo Lima e Marília Mendonça se repetiam em looping eterno.
Entre as músicas, havia um recado inusitado saindo das caixas de som das picapes militares. "Há diversos atiradores de elite em posições estratégicas. Agentes especializados em agentes químicos, biológicos, radiológicos e nucleares estão a postos."
As camisetas, na maioria amarelas, mostravam caravanas de tantas origens que deixariam Silvio Santos com inveja das excursões a seu programa de auditório. Fortaleza, Campinas, Macapá, Goiânia, Corumbá, Caxias do Sul e por aí afora.
A quantidade de pessoas fazendo lives também impressionava. Eles adotavam o mesmo estilo de improvisação do presidente.
Aplausos a militares
Presente não só na campanha, mas na vida política do presidente, o aspecto militar foi evidente no comportamento das pessoas.
Repetindo gestos que vêm das manifestações a favor do impeachment, houve aplausos a passagens de carros policiais e das Forças Armadas. Fotos ao lado de viaturas ou homens fardados eram comuns.
Os tiros de canhões e a passagem de aviões foram comemorados pelo público.
A identificação do presidente com os militares é percebida até por crianças. Ao ouvir uma sirene, um garotinho sentado no pescoço do pai pergunta se é o mito.
Gréguio Fernandes, 39, morador de Goiânia, estava com uma cabeça de um boneco de Bolsonaro e não recusava pedido de fotos. "Minha pose preferida é a do V da vitória. Mas o que as pessoas gostam mesmo é que eu faça a arminha."
Gilsimar Jasset, 36, de Nova Iguaçu (RJ), estava fantasiado de presidente e não tinha preferência por pose. As pessoas tinham. "Eu acho que vou aparecer em fotos lado de mais de mil pessoas. Boa parte delas, é comigo fazendo continência."
Camisas com o número 17, referência ao PSL, tinham o 1 substituído por um fuzil. Se o verde oliva da farda está representado de maneira subjetiva, o amarelo escancarava a chegada ao poder de uma nova forma de encarar o país e os costumes.
Rosângela Ponzio escreveu mito no braço esquerdo, o do coração, e chorou porque vê o presidente representar os ideais da família.
Camille Florêncio, 25, estudante da Universidade de Brasília, comemora o enrijecimento da política de segurança pública. "As pessoas têm medo de assalto ao sair de casa. Tenho vontade de conhecer o Rio e nunca fui porque sinto medo de ser morta lá. A gente não se sente mais segura por isso aprovo leis mais duras."
Lilian Santos Pereira, 38, saiu de Uberlândia (MG) com o marido e quatro filhos por enxergar no novo presidente alguém que vá garantir um Brasil melhor. Ela quer mudança contra tudo o que está aí: corrupção, ameaças à família e crescimento econômico.
A passagem do bastão foi feita para as estimadas 115 mil testemunhas em Brasília. A esperança destas pessoas é tão gigante quanto sua expectativa.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.