Ministro diz que ouvirá até radicais que torcem para governo dar errado
O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, tem fama de "bravo" e "duro na queda" -- devido ao seu histórico de combate nas forças da ONU. Fotos em que aparece com a feição séria foram até usadas em memes de internet que o retratam intimidando políticos supostamente afeitos à negociação de cargos e privilégios.
As brincadeiras virtuais podem ter um fundo de verdade. Em entrevista ao UOL na última quinta-feira (10), o ministro afirmou que uma de suas prioridades na pasta é combater a cultura de negociações com favores pessoais e privilégios e dar transparência às ações e informações do governo.
Amigo do presidente Bolsonaro (PSL), ele é hoje o responsável pela comunicação do governo, pelas relações do Planalto com estados, municípios e organizações não governamentais e pelo PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), que firma contratos de parceria entre o estado e a iniciativa privada, entre outras atividades.
Dentro de seu escopo de trabalho, Santos Cruz se diz disposto a conversar até com críticos mais radicais do governo Bolsonaro, mas desaprova o discurso que ele chama de "ideológico" adotado por grupos opositores e reclama de quem torça contra o novo presidente. Ele cita como exemplo a ausência de partidos da oposição - PT, PCdoB e PSOL- na posse de Bolsonaro, em 1º de janeiro.
"Quando você vê na posse [presidencial] que essa parcela que perdeu já não participa da posse então, quer dizer, está demorando um tempinho para uns setores entenderem que acabou a campanha e que realmente todo mundo tem que torcer e não se organizar para rezar para dar errado", afirmou.
Porque, se dar certo, vai dar certo para todo mundo. O presidente é presidente de todos os brasileiros
Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo da Presidência
No último sábado, Bolsonaro fez diversos posts no Twitter direcionados à oposição, dois deles citando nominalmente o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, a quem venceu no segundo turno da eleição.
Diferentemente do colega Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil que fez exonerações em massa para "despetizar" a pasta, Santos Cruz prefere não usar o termo, mas já defendeu que "ativistas políticos" se afastem do governo.
Apesar disso, o novo ministro afirma que pretende dialogar com todos os grupos na Secretaria de governo, até os mais radicais. Mas faz uma ressalva: "não tem como você conciliar 100%" das demandas.
ONGs
Entre os grupos com quem Santos Cruz deverá dialogar estão as ONGs, organizações não-governamentais. No decreto que redistribuiu as funções do ministério, Bolsonaro incluiu o monitoramento de ONGs e de organismos internacionais entre as atribuições da Secretaria de Governo.
Santos Cruz já afirmou que realizará um esforço de coordenação do trabalho de ONGs para dar mais transparência a casos onde as organizações recebem dinheiro público.
O setor, porém, manifestou preocupação de ter seu trabalho controlado pelo governo. Em postagem nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que algumas ONGs exploram indígenas e quilombolas.
Santos Cruz tenta acalmar. "Eu vejo o pessoal um pouco assustado ainda, mas ninguém quer interferir na liberdade de trabalho das ONGs", disse o ministro.
Comunicação
Em busca de informar as mensagens do governo e ouvir os cidadãos, Santos Cruz avisa que o ministério usará com maior frequência as mídias sociais, como Twitter e Facebook. Na opinião dele, essa estratégia de comunicação resultou na eleição de Bolsonaro.
"Hoje em dia, a comunicação é mais direta. A campanha política ano Brasil não passou pela grande mídia. Ela passou por uma comunicação direta do candidato com o público, com o eleitor", disse ele. "O eleitor queria falar direto com o candidato. O eleitor não queria um intermediário [na imprensa]. Então a gente está vivendo um momento de mudança".
Ele também sinalizou que o governo pode investir na compra de propaganda em redes sociais para atingir parcela da população.
Santos Cruz disse ainda que será realizada uma redução da equipe que trabalha atualmente na EBC (Empresa Brasil de Comunicação).
"A EBC é uma empresa que hoje está com 2.025 servidores, ela tem sete rádios, duas televisões, etc. Então eu acho que é consenso uma simplificação nessa estrutura", avaliou, avisando que ramos estratégicos da empresa - como rádios que abrangem áreas remotas do país - devem ser mantidos.
General requisitado
O agora ministro foi Secretário Nacional de Segurança Pública e comandou - pessoalmente no campo de batalha -- a campanha militar da ONU que venceu o M23 (Exército Revolucionário do Congo) em 2013 e parte das operações de combate que levaram à pacificação do Haiti após a queda do governo em 2004.
Seu gabinete no quarto andar do Palácio do Planalto vive lotado de visitantes em busca de uma audiência - entre eles parlamentares, membros do executivo e jornalistas. O general, hoje na reserva, tem dividido seu tempo entre atendê-los, delegar tarefas a assessores, coordenar ações com o ministro da Casa Civil Onyx Lonrezoni e se reunir com Bolsonaro.
O grande número de demandas da fase inicial de governo dá a impressão de que o movimento não para no gabinete. O espaço só não é mais concorrido que o Whatsapp de Santos Cruz, que em minutos acumula mais dezenas de mensagens entre acenos de prefeitos e pedidos de entrevista de jornalistas.
Mas a fama de bravo não corresponde ao bom humor com que o ministro recebeu a reportagem do UOL. Seus amigos mais próximos dizem que esse é seu perfil: de um negociador flexível e bem-humorado.
Cada coisa tem a sua hora. Você precisa saber ser suave quando precisa e você precisa ser duro na queda quando precisa
"A pessoa tem que ter flexibilidade. Não é flexibilidade de princípios, é flexibilidade de trato. E essas brincadeiras de internet acabam montando um personagem, mas você não pode viver o personagem, você tem que viver a pessoa real. Então eu me divirto também", disse o ministro.
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