"Tive contas abertas nos últimos 15 anos", diz Renan, alvo de 14 inquéritos
Alvo de 14 inquéritos policiais e absolvido de outros nove processos criminais e cíveis nos últimos anos, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) diz que sua vida financeira está aberta. "Tive minhas contas abertas nos últimos 15 anos", afirmou ele, em entrevista ao UOL, no final da tarde de segunda-feira (28). "Não tenho um centavo que não seja declarado."
Os inquéritos se referem a suspeitas diversas no STF, como receber propina e lavar dinheiro, alguns ligados à Operação Lava Jato. No caso da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o Ministério Público já ofereceu denúncia. O senador diz ser inocente em todos os casos. Um de seus argumentos é o fato de já ter se livrado de nove ações criminais, cíveis e inquéritos da polícia.
O alagoano trava uma disputa silenciosa dentro do MDB com Simone Tebet (MS) para ver quem sairá como candidato do partido para presidir o Senado na próxima sexta-feira (1º). No entanto, afirma que "ainda" não é candidato. A definição será feita pela bancada de 13 senadores, "todos com condições de representar o partido, sem exceção".
Renan critica o coordenador da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal no Paraná, procurador Deltan Dallagnol, por defender o voto aberto na disputa e, assim, enfraquecer as chances do emedebista de eleger-se de novo para presidir a Casa Legislativa. Segundo o senador, houve manifestações que demonstraram o "caráter político" da atuação dele. "Ele protagonizou isso comigo. Ele que começou essa coisa do voto aberto, fez campanha. Dizendo que era contra mim, depois que o Supremo errou, entendeu?", afirmou na entrevista. O procurador fez o comentário em 9 de janeiro.
Renan disse que, nos últimos anos, fez a "prova negativa" ou a "prova contrária" para demonstrar que é inocente das acusações, em vez de simplesmente ver seus acusados não comprovarem os supostos crimes e irregularidades cometidos pelo alagoano. "Eu sempre defendi a investigação. A investigação é um avanço civilizatório. O problema é excesso, é abuso. Não pode haver contra ninguém."
Veja os principais trechos da entrevista.
UOL - Em seu livro "Democracia Digital", o senhor diz que, no final de 2017, as "investidas" de setores do MPF chegaram a um "ponto crítico" e colocavam "em risco a própria democracia". Hoje, a democracia está em risco?
Renan Calheiros - Acho que aí o texto é autoexplicativo. Eu não quero falar sobre isso. Toda vez que você passa do limite da Constituição, seja a que pretexto for, você colabora com o esvaziamento da democracia. O que eu quis dizer foi exatamente isso. Foi me referindo ao grupo que dominou antes da [procuradora geral] Raquel Dodge [que assumiu em setembro de 2017], o [Roberto] Gurgel, [Eduardo] Pelella, [Rodrigo] Janot...
O senhor fala do final de 2017, quando Raquel Dodge já estava à frente do Ministério Público e o sr. menciona a Lava Jato em Curitiba. Por isso pergunto se hoje a democracia está em risco... Esses riscos permanecem hoje?
Tem as datas aí do discurso. Fui ministro e sempre defendi as investigações. Todos têm que ser investigados e prestar contas.
Eles abriram várias investigações contra mim. O Supremo já arquivou nove.
Uma outra na Vara [Federal] aqui em Brasília, o TRF [Tribunal Regional Federal] arquivou por unanimidade. Eu tenho feito a prova contrária, que é a mais difícil das provas [prova que comprova que uma pessoa é inocente de um crime].
Tive minhas contas abertas nos últimos 15 anos. Não tenho um centavo que não seja declarado. O interesse maior do esclarecimento é meu.
Nesse episódio em que o TRF o absolveu, a investigação começa em 2007 com o senhor entregando documentos ao Supremo...
Eu entreguei documentos, pedi para investigar, para o Ministério Público investigar.
O senhor se arrepende de entregar os documentos?
Não, porque eu continuo fazendo a prova negativa.
À época, em 2007, o então senador Demóstenes Torres (ex-DEM, hoje PTB) disse que o senhor produziu prova contra o senhor mesmo...
É, mas depois... não me bote em briga mais não porque eu já estou em briga demais (risos). [Em 2007, Renan escapou de seis processos no Conselho de Ética que poderiam cassar seu mandato. Demóstenes Torres foi cassado em 2012 por envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira].
Então, no livro, o senhor falava no final de 2017 referindo-se a Curitiba e Deltan Dallagnol. Hoje, há risco para a democracia?
Não, rapaz. Ele [Deltan] protagonizou isso comigo. Ele que começou essa coisa do voto aberto, fez campanha. Só você pegar minha rede social. Dá uma olhadinha aí. Dizendo que era contra mim, depois que o Supremo errou. Entendeu? Ele que falou. Essa parte deve ser uns emails [mensagens na rede social Twitter, na verdade] que eu mandei para ele e ele mandou pra mim. É novembro de 2017. Ele disse que era o ano da prestação de contas.
Deltan tratava do ano eleitoral de 2018 como um ano importante para a Lava Jato...
É uma demonstração do caráter político. Eu sempre defendi a investigação.
A investigação é um avanço civilizatório. O problema é excesso, é abuso. Não pode haver contra ninguém. Agora, investigar pode e tem que ser investigado.
Hoje, estamos livres desse risco à democracia?
Hoje eu não tenho... Falei do procurador lá. Tem esse debate com ele. Dallagnol fez postagem. Estou falando de Dallagnol. Antigamente era Dallagnol, Janot, lá atrás Gurgel [que denunciou Renan em janeiro de 2011, às vésperas de ele se lançar candidato a presidente do Senado], Pelella [chefe de gabinete da gestão de Janot], Anselmo Barros. Não estou tratando disso. Ele é que se posicionou e entrou nesse debate.
Gurgel já disse que o senhor é o político "mais blindado" do país quando o senhor foi absolvido pelo Supremo. Ele está correto?
Você falou com ele?
Falei.
Não sei...
O senhor será o próximo presidente do Senado?
Eu não sou candidato ainda. Eu vou aguardar o encaminhamento da bancada [do MDB].
A bancada é que vai dizer quem vai ser o candidato. Nossa bancada tem 13 nomes, todos com condições de representar o partido, sem exceção.
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