Rival de Renan no MDB, Simone Tebet cresce no Senado e pode presidir CCJ
Uma das personagens centrais da conturbada eleição para a Presidência do Senado neste fim de semana, Simone Tebet (MDB-MS) fazia "reuniões" aqui e ali sobre o carpete azul do plenário da Casa com adversários de Renan Calheiros (MDB-AL), derrotado por Davi Alcolumbre (DEM-AP), durante um fim de semana tenso em Brasília. Para vencer, o candidato preferido do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e de boa parte do governo de Jair Bolsonaro (PSL) contou com a ajuda da senadora. Até o fim, ela tentou ser a candidata do MDB para disputar a casa, mas perdeu o páreo para Renan. Ao final, ainda renunciou à sua candidatura avulsa. Restou a gratidão de Alcolumbre a Simone.
O UOL apurou com parlamentares que a senadora de 48 anos, ex-prefeita de Três Lagoas (MS) e com mestrado em Direito do Estado pela PUC de São Paulo, pode se beneficiar de um movimento estudado pelo novo presidente do Senado. Se a estratégia for concluída com sucesso, o grupo do MDB ligado a Renan perderia poderes na Casa. E, de outro lado, Simone poderia tornar-se a presidente da comissão mais importante do Senado, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), ou relatora das principais matérias nesse colegiado.
A interlocutores, porém, Simone diz que não gostaria de relatar a reforma da Previdência, mas apenas trabalhar para aperfeiçoá-la.
No meio da tarde de segunda-feira (4), ela caminhava a passos apressados para a sessão do Congresso enquanto concedia uma entrevista para o UOL. Foi quando avisou uma assessora de que não poderia falar com mais ninguém.
"Não dá, eu tenho que estar lá, o Davi me pediu uma missão e eu tenho que cumprir", justificou, ao mencionar o nome do novo presidente do Senado que ajudou a eleger. Sentou-se à Mesa do Congresso na cerimônia ao lado da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Foi mencionada por Alcolumbre como representante das mulheres senadoras ali no plenário da Câmara dos Deputados.
Mesmo cacifada pelo apoio aos vencedores, Simone Tebet não está totalmente alinhada à principal pauta do governo Bolsonaro. "Ela tem que ser uma reforma profunda, mas não pode ser profana", disse ela à reportagem." Veja conversa da senadora com o UOL:
UOL - Como vai ser a reforma da Previdência com Alcolumbre?
Simone Tebet - "Reforma da Previdência não é o problema. Não vai depender do presidente [Davi Alcolumbre]. Vai depender muito mais de como ela vem. Se ela vier mais equilibrada, essa reforma da Previdência passa. Querendo ou não, todo mundo sabe da importância dela. Não vejo dificuldade. Vejo dificuldade posteriormente. Ela tem que ser uma reforma profunda, mas não pode ser profana. Ela tem que ser justa com aqueles que... Ela tem que atingir privilégios, não pode pegar os menos favorecidos, como, por exemplo, os aposentados que ganham até um salário mínimo. Ela tem que ter uma transição adequada e confortável.
Com Alcolumbre, como o fica o caso do Flávio Bolsonaro, investigado pelo Ministério Público?
Simone - Aí eu não faço ideia.
A senadora não comentou outros temas. Sua assessoria lembrou que ela não falaria nada sobre a mensagem de Renan que tratou do pai dela, Ramez Tebet (1936-2006) e de uma jornalista da Veja.
Simone tem sido assediada por vários partidos. Ontem, ela disse que sairia da sua legenda atual "se o MDB não se reinventar". Mas, por meio de sua assessoria, Simone disse que não decidiu deixar a legenda pela qual seu pai militou. O objetivo é "renovar" o MDB. Só se isso se frustrar, ela trocaria de sigla.
Presidente do Senado vai "discutir" regra que beneficia aliados de Renan
O movimento que pode beneficiar Simone passa por Davi Alcolumbre. Ele estuda acabar com a tradição da "regra da proporcionalidade". O nome pomposo significa distribuir os cargos na Mesa e nas comissões de acordo com o tamanho das bancadas. O MDB é a maior bancada com 12 senadores - liderado por Eduardo Braga (AM), um dos aliados de Renan - e teria direito a escolher os melhores cargos: a vice-presidência da Casa e as presidências das comissões mais importantes.
No final da tarde de segunda-feira, Alcolumbre disse que vai "discutir" se mantém esse princípio. "A tradição era eleger um presidente do MDB, que tinha a maior bancada, e se elegeu um presidente do DEM", destacou ele ao UOL, em meio a uma coletiva de imprensa. Ele vai se reunir com líderes na quarta-feira para debater o formato de distribuição de cargos.
Menos de cinco minutos depois da declaração de Alcolumbre, foi a vez de Simone Tebet ir aos microfones, no salão verde da Câmara, e questionar a proporcionalidade nas comissões e os direitos do grupo do MDB que apoiou Renan. "Venhamos e convenhamos: a presidência da CCJ não pode ficar com o grupo derrotado do MDB", disse ela. "Os dois maiores partidos que apoiaram o presidente Davi foram vitoriosos e já ocuparam esses espaços. O MDB perdeu a proporcionalidade. Agora, vamos tentar recuperar a proporcionalidade com companheiros que estejam em sintonia com a gestão da nova Mesa Diretora", defendeu.
"Eu não pleitearei a CCJ", garantiu Simone. O UOL apurou, porém, que uma configuração possível seria a senadora ficar no comando da comissão enquanto os senadores Antônio Anastasia (PSDB-MG) ou Izalci Lucas (PSDB-DF) assumissem a vice-presidência do Senado. Outra opção seria Anastasia presidir a CCJ passando as matérias mais importantes para Simone, à exceção da reforma da Previdência. A assessoria do tucano não quis comentar o assunto.
O ato desagrada o MDB, que procura se manter unido para tratar as ranhuras que a derrota de Renan causou no partido. Um parlamentar da bancada disse à reportagem que isso não vai ser aceito. O líder, Eduardo Braga, contemporizou. Afirmou que não comentaria nenhuma pergunta que gerasse "intriga". Ele destacou que o objetivo é unir o partido. Em entrevista, Braga afirmou que o partido vai trabalhar de maneira "construtiva", deixando a derrota de Renan de lado.
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