Falas de Crivella sobre PMs e Carnaval geram reações de repúdio
Declarações do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), sobre corrupção da Polícia Militar, Carnaval e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) durante evento ontem na zona oeste da capital fluminense geraram reação de autoridades vinculadas a esses setores. No começo da tarde de hoje, Crivella afirmou que suas falas foram "descontextualizadas".
No encontro revelado por "O Globo", Crivella teria afirmado que o "Rio de Janeiro é uma esculhambação completa" --disse que policiais militares sobem os morros para pegar arrego (propina) e associou o carnaval à corrupção, dizendo que a prefeitura ganha "uma banana" por investir na festa. Já o VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), que circula no centro da cidade, foi definido como uma "porcaria".
O evento reuniu cerca de 80 servidores municipais e não fazia parte da agenda oficial do prefeito, segundo o jornal. Assessores de Crivella teriam orientado os presentes a não gravar o discurso.
Sobre a Polícia Militar, o prefeito foi criticado pelo que foi entendido como uma "generalização" em sua fala.
Por que esses meninos [do tráfico] são tão valentes? É porque, quando o político rouba e fica rico, o comandante do batalhão também quer ficar rico. O coronel quer ficar rico. O tenente, o sargento querem ficar ricos. Aí, eles sobem o morro para pegar o arrego. O arrego é o troco da cocaína.
Marcelo Crivella, prefeito do Rio
Sem citar nominalmente Crivella, o governador Wilson Witzel (PSC) disse, em vídeo publicado em rede social, não aceitar "qualquer declaração leviana" a respeito da Polícia Militar.
Por meio de nota, o secretário de Polícia Militar, coronel Rogério Figueiredo de Lacerda, definiu a declarações como "absurdas" e afirmou que elas ofendem a categoria.
Lamentável e inacreditável que o prefeito do município do Rio de Janeiro --uma cidade com problemas tão sérios a resolver-- seja capaz de proferir declarações tão absurdas durante uma reunião pública.
Rogério Figueiredo de Lacerda, secretário da PM do RJ
"Desprovido de senso de justiça e conhecimento dos fatos, o Sr. Marcelo Crivella ofendeu de forma cruel uma legião de 45 mil policiais militares. São homens e mulheres honrados que diariamente enfrentam a criminalidade para defender a sociedade. Muitos, como mostram as estatísticas, perderam suas vidas", acrescentou.
Ainda pela manhã, a deputada federal Major Fabiana (PSL-RJ) disse em um vídeo postado em rede social que vai formalizar um repúdio contra Crivella na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados em razão das declarações. De acordo com ela, o prefeito da cidade sofre de "diarreia mental" e é um "projeto de prefeito, o pior que a cidade já teve".
Procurado pela reportagem para comentar o contexto das próprias declarações e a reação de autoridades às falas, Crivella negou ter criticado a corporação.
Não houve em um momento sequer ataque à instituição da Polícia Militar e sim à minoria de maus profissionais que macularam a imagem da instituição centenária e que tem em sua história uma extensa lista de bons serviços prestados à sociedade.
Marcelo Crivella, prefeito do Rio
Críticas a Carnaval e VLT
Já o carnavalesco da Estação Primeira de Mangueira, Leandro Vieira, campeão da disputa deste ano, afirmou que as falas do prefeito sobre a festa "não soam compreensíveis".
Crivella teria dito que o Carnaval custa à prefeitura R$ 70 milhões, e "a prefeitura ganha uma banana" em troca. No entanto, dados da Riotur mostraram que, em quatro dias do Carnaval deste ano, os setores de comércio, hotelaria e serviços faturaram R$ 3,78 bilhões.
As declarações de Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, acontecem após críticas de agremiações ao prefeito na Marquês de Sapucaí. Desde o primeiro de gestão, ele é criticado por contingenciar verbas ao Carnaval.
O prefeito também contestou os custos de operação dos VLTs. De acordo com Crivella, o município investirá mais de R$ 18 milhões por mês. "Tenho 1.500 escolas precisando de reforma. Isso é maluquice. Quanto custou aquela porcaria? Um bilhão", afirmou.
O presidente do consórcio que administra o VLT, Maurício Hannas, disse a "O Globo" que as falas de Crivella se trataram de uma "leviandade" e lembrou que o sistema transporta 80 mil pessoas em dias úteis.
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