Assessora de Crivella conhecida pelo "fala com a Márcia" se diz inocente
Funcionária citada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), em reunião no ano passado em que ele indicou o favorecimento a evangélicos em filas para a realização de cirurgias de cataratas e varizes, Márcia Nunes depôs hoje na CPI da Câmara dos Vereadores que apura supostas fraudes na fila do Sisreg (Sistema Regulador de Saúde).
No depoimento, ela se disse inocente quanto à suspeita e afirmou que o caso a abalou psicologicamente. "Nunca marquei [cirurgia], não tenho senha do Sisreg", disse. O sistema é usado por profissionais da saúde para marcar todos os procedimentos para a população que busca atendimento nas redes municipal, estadual e federal na cidade.
De acordo com Márcia, que se apresentou como assistente social com cargo comissionado na Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana), ela também tinha entre as suas atribuições a assessoria pessoal de Crivella, com quem disse ter trabalhado em uma das suas campanhas ao Senado e em 2016, quando ele foi eleito prefeito.
Pela relação de confiança, ela disse que também o acompanhava eventualmente em agendas e orientava as pessoas em relação a atendimentos públicos de saúde. No entanto, a funcionária negou ter acesso ao Sisreg e à Secretaria Municipal de Saúde para facilitação no acesso a exames e cirurgias.
"Meu papel sempre foi orientar as pessoas a chegar a qualquer atendimento, não só cirurgia, muitas pessoas não sabem que tem que procurar a saúde básica. Esse era o objetivo da minha presença: mostrar os meios pelos quais elas poderiam entrar na fila do Sisreg", afirmou.
"Esse caso Márcia me afetou muito psicologicamente"
Em julho passado, Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, se reuniu com líderes evangélicos. Na ocasião, o prefeito afirmou, conforme reportagem do jornal "O Globo":
"Na prefeitura, estamos fazendo mutirão da catarata. A Márcia trabalha comigo há 15 anos. Ela conhece os diretores de toda a rede federal, de maneira que ela me representa em todos esses setores. Nós estamos fazendo o mutirão da catarata. Contratei 15 mil cirurgias até o final do ano. Então se os irmãos tiverem alguém na igreja com problema de catarata, se os irmãos conhecerem alguém, por favor falem com a Márcia. É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, vai encaminhar, e daqui a uma semana ou duas eles estão operando", afirmou na ocasião.
Crivella sempre negou que tenha tido a intenção de favorecer os religiosos presentes na reunião. O episódio ficou conhecido como "Fala com a Márcia" --o que, de acordo com ela, trouxe prejuízos à sua vida pessoal.
"Esse caso Márcia me afetou muito psicologicamente, emocionalmente, me atingiu muito. Alguém quis divulgar essa questão do prefeito e apelidou esse caso de Márcia, mas não sei o por que disso", disse.
De acordo com Márcia, naquele dia, ela chegou atrasada à reunião e, por isso, não soube especificar ao certo quem havia sido convidado.
Questionada quanto à necessidade da sua função de orientar pessoas a atendimentos clínicos, Márcia disse que apenas cumpria ordens de Crivella e que, por isso, se dividia entre duas funções. Na opinião dela, a orientação do prefeito não era a indicação de que uma fraude seria posta em prática.
"Ele pedia: 'fala com fulano, fala com sicrano'. Era normal do prefeito falar. Se não fosse eu, seria outra pessoa. Tinham muitas pessoas [na reunião], as pessoas vinham, eu apenas pegava um cartão e dizia para as pessoas irem para a Clínica da Família. Não [lembra do nome das pessoas]. Não, nunca marquei [cirurgia], não tenho senha do Sisreg", concluiu.
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