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"Não há briga entre Poderes, o que há é uma grande fofoca", diz Bolsonaro

Igor Mello

Do UOL, no Rio

20/05/2019 13h42Atualizada em 22/05/2019 19h07

Após uma série de rusgas com o Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou hoje que não há crise institucional no país. Ele disse estar aberto ao diálogo com os parlamentares, mas passou recados aos líderes do Centrão. O tom do discurso feito por ele em evento na Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) foi o mesmo do texto distribuído por ele a contatos no WhatsApp na última sexta-feira.

"Não há briga entre Poderes. O que há é uma grande fofoca", afirmou.

Após líderes do Centrão acenarem com a possibilidade de votarem na Câmara uma proposta alternativa para a reforma da Previdência, Bolsonaro mandou um recado.

"Nesse movimento [manifestações] espontâneo previsto para o dia 26 (eles) querem agilidade", disse. "Se a Câmara e o Senado têm propostas melhores que a nossa, que coloquem em votação", completou.

Na última sexta-feira, Bolsonaro distribuiu para contatos no WhatsApp um texto, de autoria de um funcionário público filiado ao Novo, em que o país era descrito como "ingovernável" sem que o presidente faça "conchavos". A mensagem causou desconforto entre líderes no Congresso.

O presidente também abriu uma crise com o Ministério Público, que obteve na Justiça a quebra de sigilos de 86 pessoas e nove empresas nas investigações do caso Queiroz. Entre os alvos estão o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, além de nove parentes de sua ex-mulher, Ana Cristina Valle. Na última quinta-feira, durante visita aos Estados Unidos, Bolsonaro atacou os investigadores. Para ele, a apuração contra Flávio é uma forma de atingir o governo.

"Façam justiça! Querem me atingir? Venham pra cima de mim! Querem quebrar meu sigilo, eu sei que tem que ter um fato, mas eu abro o meu sigilo. Não vão me pegar", disse.

Afago a Santos Cruz

O presidente fez um afago no ministro Santos Cruz, da Secretaria de Governo, alvo de uma onda de ataques da ala ideológica do governo --ligada ao escritor Olavo de Carvalho-- nas últimas semanas.

Ao cumprimentar os membros de sua equipe presentes ao evento, Bolsonaro afirmou que Santos Cruz tem "uma função difícil que está sob sua responsabilidade em Brasília".

O presidente ainda voltou ao tema em outro momento do discurso, onde garantiu ter "'100% de confiança" nos integrantes do governo.

"Imagina se não tivesse confiança em 100% dos ministros que indiquei? Como não conseguem nos derrubar por medidas outras ficam o tempo todo metendo picuinha entre nós", afirmou.

Crivella e Witzel defendem governo

Bolsonaro chegou à solenidade acompanhado do Eduardo Eugênio Gouveia Vieira, presidente da Firjan (Federação das Indúsitras do Estado do Rio de Janeiro), do governador Wilson Witzel (PSC) e do prefeito Marcelo Crivella (PRB).

Crivella e Witzel fizeram desagravos ao presidente e à sua família. Em seu discurso, o governador Wilson Witzel saiu em defesa do senador Flávio Bolsonaro, alvo de uma investigação do Ministério Público do Rio. Principal cabo eleitoral de Witzel durante a eleição -- contrariando Jair Bolsonaro, que defendia não apoiar nenhuma candidatura no Rio -- Flávio foi descrito pelo governador como um homem "honrado e digno".

"Flávio Bolsonaro é um senador que luta pelo estado do Rio de Janeiro. Foi um senador que durante a campanha lutou ao meu lado para que eu chegasse até aqui", elogiou. "[Flávio] É um senador honrado, digno. É político que se doou à causa pública do Brasil".

Alvo de um processo de impeachment na Câmara do Rio, Crivella procurou se colar na imagem de Bolsonaro, adotando o discurso de que ambos enfrentam dificuldades por contrariar interesses.

"Havia um dogma de que só poderíamos ter governabilidade se tivéssemos distribuição de vantagens, muitas delas sem ética. Esse copo transbordou", argumentou.

Crivella afirmou que seu processo de impeachment ocorreu por "contrariar interesses".

"Também passo por momentos difíceis, sempre que enfrentamos corporações e temos que enfrentar interesses. Mas o Brasil não aceita mais que nenhum governante se agache, transija ou traia", completou o prefeito. Segundo ele, neste domingo o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, fez uma oração com mais de 20 mil fieis pelo presidente.

O presidente recebeu hoje a medalha do Mérito Industrial, oferecida pela Firjan. A vinda ao Rio coincide com o momento de maior tensão na relação do Executivo com os outros Poderes.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.