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Bolsonaro insultou meus filhos e destila ódio contra LGBTs, diz Glenn

Ato de apoio ao jornalista Glenn Greenwald na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no centro do Rio de Janeiro (RJ), nesta terça-feira (30). O jornalista é casado com o deputado David Miranda. 30/07/2019 - LUCAS REZENDE/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Ato de apoio ao jornalista Glenn Greenwald na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no centro do Rio de Janeiro (RJ), nesta terça-feira (30). O jornalista é casado com o deputado David Miranda. 30/07/2019 Imagem: LUCAS REZENDE/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Igor Mello

Do UOL, no Rio

31/07/2019 04h00

O jornalista Glenn Greenwald, editor do site "The Intercept Brasil", rebateu os ataques do presidente Jair Bolsonaro à sua família. Ele é casado há 15 anos com o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), com quem tem dois filhos. Greenwald dedicou parte de seu discurso em um evento na ABI (Associação Brasileira de Imprensa) para defender a causa LGBT.

O jornalista norte-americano comanda o time de repórteres que vem revelando conversas privadas dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná e do ex-juiz Sergio Moro.

A Polícia Federal prendeu na semana passada quatro pessoas acusadas de hackear celulares de autoridades -- inclusive os de Moro e do procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba. Em depoimento, Wagner Delgatti Neto, apontado como líder do grupo, admitiu ter repassado as mensagens para o site anonimamente e sem nenhum pagamento em troca.

No último sábado (27), Bolsonaro negou que uma portaria do Ministério da Justiça -- comandado pelo ex-juiz Sergio Moro, principal alvo das matérias do "The Intercept Brasil" -- tivesse como intenção extraditar o norte-americano. O presidente afirmou que ele não seria enquadrado porque "é casado com outro homem, e tem meninos adotados no Brasil".

"Malandro, malandro, pra evitar um problema desse, casa com outro malandro, ou não casa, e adota criança no Brasil. É um problema que nós temos...Ele não vai embora. O Glenn pode ficar tranquilo. Talvez ele pegue uma cana, aqui, no Brasil. Não vai pegar lá fora, não", ironizou Bolsonaro.

O jornalista foi homenageado em um ato na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no centro do Rio de Janeiro, na noite desta terça-feira. O ato reuniu dezenas de deputados federais, estaduais e lideranças políticas, além de artistas como Chico Buarque, Wagner Moura, Camila Pitanga, Paulo Betti e Julia Lemmertz. A organização do evento estimou que 3.000 pessoas compareceram ao ato --cerca de mil conseguiram acesso ao auditório e outras 2.000 permaneceram na entrada e outros espaços do edifício da entidade.

Greenwald avaliou que a menção ao seu casamento com Miranda não veio ao acaso e é uma agressão homofóbica, e admitiu que "não é divertido" ver a família como alvo de ataques.

"Nessa semana o presidente Bolsonaro não só ameaçou nossa liberdade de imprensa", afirmou. "Ele insultou e atacou minha família e meus filhos. Isso não é uma coincidência, não foi uma coisa que saiu de um cérebro quebrado e louco. Uma parte considerável do movimento de Bolsonaro é destilar ódio contra pessoas LGBTs".

Porém, o jornalista disse que ele e o marido estão felizes por poderem usar a situação para mandar uma mensagem positiva para jovens LGBTs brasileiros.

"David e eu estamos felizes de usar essa plataforma para mostrar o que os jovens LGBTs sofrem", disse, antes de se dirigir especificamente a jovens vítimas de homofobia: "Não acreditem nas mentiras desse movimento feio sobre o que é ser LGBT. Não internalizem isso. Sua vida não vai ser de tristeza e solidão. Olhe para nossa família, isso é a verdade de ser LGBT".

Antes, David Miranda já havia abordado o tema e destacou o relacionamento de 15 anos que mantém com o marido.

"Do outro lado eles têm barbárie. Nós temos amor, e o amor é revolucionário. Apresentar meu marido não é uma coisa muito fácil. Brigamos muito, são 15 anos juntos e isso é normal. Mas cinco minutos depois já estamos bem. A gente se conhece, se cuida e se ama", ressaltou.