MPF investigará operação da PF para buscar celular perdido por ministro
O Ministério Público Federal abrirá uma investigação para apurar a legalidade da operação da Polícia Federal realizada para recuperar o telefone celular do ministro da Advocacia Geral da União (AGU), André Luiz Mendonça.
Ele disse que esqueceu o aparelho dentro de um carro de aplicativo de transporte. Depois de serem comunicados sobre a perda do celular, os policiais federais iniciaram a ação, mas omitiram o nome de Mendonça. No lugar, a vítima foi tratada como se fosse um delegado de nome Ricardo.
Fontes da própria PF relataram ao UOL que essa e outras características não esclarecidas poderiam classificar a atitude como "operação clandestina". Não há informações oficiais sobre, por exemplo, o auto de apreensão do aparelho.
"O nome do dono do celular não foi divulgado, à época, exatamente para preservar o nome da autoridade e evitar que os dados do aparelho corressem o risco de vazamento, com sérios riscos institucionais", informou a assessoria da PF à reportagem. Para a polícia, foi apenas um extravio, e não crime ou eventual tentativa de hackeamento de celular.
Uma fonte afirmou que não foi registrada a apreensão do aparelho. Também não foi feita ocorrência, perícia no telefone para verificar sua integridade ou detenção do motorista.
Questionada pelo UOL, a Procuradoria da República no Rio disse que vai apurar o caso. "O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro, no exercício de sua função de controle externo da atividade policial, abrirá um procedimento preliminar para averiguar se houve excessos cometidos pelos policiais federais, bem como atos de improbidade administrativa, na operação realizada", informou a assessoria da Procuradoria.
Uma fonte do MPF disse que a suspeita é se houve conflito entre o interesse público e o particular. No entanto, "o procedimento tem como único objetivo apurar as condutas dos agentes policiais do Rio", e não o ministro Mendonça, destacou a nota.
Dentro da Polícia Federal, a avaliação do órgão é que não houve crime e sequer uma operação policial, mas apenas uma diligência para localizar um telefone celular de uma autoridade.
Operação reuniu 15 policiais
Oito policiais federais e sete policiais militares entraram em operação no sábado 10 de agosto, às 11h, atrás do celular do ministro. Eles usaram a uma geolocalização fornecida pela fabricante Apple. A indicação era de endereços na zona oeste do Rio, para onde os agentes se dirigiram. A geolocalização foi prestada por Mendonça.
De acordo com um relatório da operação feito pela Polícia Militar e obtido pelo UOL, os policiais localizaram o celular, o motorista do aplicativo Uber e o veículo onde foi esquecido o telefone.
"Os policiais chegaram à localidade onde mora o motorista de aplicativo que tinha realizado o transporte, recuperando o celular", informou a assessoria da PF à reportagem.
O ministro perdeu o telefone num carro de aplicativo no Rio na quinta-feira 8 de agosto, por volta das 23h. Mas só comunicou a polícia no sábado (10).
Ele não foi a nenhuma delegacia de Polícia Civil na capital fluminense ou em Brasília. Segundo a assessoria da AGU, ao obter a localização do celular, o ministro acionou o diretor da PF em Brasília, Maurício Valeixo.
Celular de ministro possui informações sensíveis, diz polícia
"O AGU [André Mendonça] tentou, por diversas vezes, ligar para o próprio número, porém ninguém atendeu", relatou a assessoria da PF.
"Por tratar-se de uma autoridade da República, que detém contatos e informações reservadas e sensíveis em seu aparelho de telefone, a Direção da PF repassou a informação ao Superintendente Regional daquele estado para analisar a possibilidade da adoção de providências necessárias à recuperação do aparelho."
Mendonça não pediu para sua identidade ser mantida em sigilo. "O ministro só pediu orientação de como proceder e informou o que tinha acontecido", disse a assessoria da AGU.
O aparelho telefônico teria sido entregue pela PF ao ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner Rosário. Isso porque Mendonça estava fora do país quando o celular foi localizado, segundo a assessoria da AGU.
"Verificado que o fato não tratava-se de crime, mas, sim, de um extravio, o celular foi recolhido e posteriormente entregue a uma pessoa indicada pelo seu titular", completou a assessoria da polícia.
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