Bolsonaro diz que Brasil não continuará passivo sobre soberania da Amazônia
Na entrega da primeira aeronave militar KC-390 da Embraer à FAB (Força Aérea Brasileira), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) declarou hoje que o Brasil é um país pacífico, mas não será passivo em eventuais agressões à soberania do país sobre a Amazônia brasileira.
"Os senhores que me antecederam [em referência aos comandantes das Forças Armadas] sabem muito bem o que é soberania. Sabem também que, quando um país outro nos ameaça, essa ameaça não vem daquele momento. Vem de momentos anteriores onde, infelizmente, autoridades e chefes políticos não se interessaram com essa questão no Brasil. É verdade que, se nós queremos a paz, nos preparemos para a guerra. O Brasil é um país pacífico, mas não pode continuar e não continuará sendo passivo a esse tipo de agressão à nossa soberania. A Amazônia brasileira é nossa", declarou, arrancando palmas da plateia, formada majoritariamente por militares e políticos aliados.
A frase foi uma crítica indireta à declaração do presidente da França, Emmanuel Macron, que questionou a soberania brasileira perante a floresta e aventou a possibilidade de internacionalização da Amazônia no mês passado. Desde então, Bolsonaro e Macron trocaram farpas em público.
Bolsonaro informou que não poderá participar pessoalmente de reunião junto a chefes de Estado de países amazônicos em Leticia, na Colômbia, na sexta-feira (6), devido à preparação para cirurgia de correção de hérnia incisional no domingo (8). No entanto, afirmou que acompanhará o encontro por meio de videoconferência.
Ele falou da importância de se prestigiar ida ao desfile de 7 de setembro, em comemoração à independência do Brasil de Portugal, e pediu que a população também compareça ao evento.
"Mostrar ao mundo todo que nos preocupamos com essa data e para cada vez mais dizer: não é só a Amazônia não. O Brasil é nosso", afirmou.
O presidente viajou à Base Aérea de Anápolis, em Goiás, pela manhã para participar de cerimônia que marca o recebimento da primeira aeronave KC-390 da Embraer pela FAB. O modelo vai substituir os C-130 Hercules, na frota desde 1964. Ao todo, 28 aeronaves foram encomendadas pela FAB por R$ 7,2 bilhões. Portugal também já encomendou cinco unidades do modelo.
O KC-390 é o maior avião militar desenvolvido e fabricado no hemisfério sul e será usado para missões de transporte (incluindo lançamento de cargas e paraquedistas), reabastecimento em voo, busca e salvamento, controle aéreo avançado, evacuação aeromédica, patrulha marítima, combate a incêndios, entre outras. O primeiro KC-390 ficará sediado na Base Aérea de Anápolis.
O presidente da Embraer, Jackson Schneider, afirmou que o dia é histórico e resultado de enorme esforço de engenharia para atingir novos padrões de qualidade. Ele afirmou que o KC-390 conta com a última geração tecnológica disponível e é único no segmento de mercado em que se insere.
Além da importância do KC-390 para a Aeronáutica brasileira, o avião será mais um produto de alto valor agregado a ser exportado.
"Estou certo de que voaremos com esse avião nos Estados Unidos num futuro não tão distante. Estamos convictos de que o KC-390 repetirá história de sucesso de outros produtos", declarou.
O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, afirmou que o KC-390 representa um salto tecnológico de 50 anos para a FAB. Bermudez ressaltou que o desenvolvimento de uma nação passa pela capacidade que tem de proteger a soberania e proteger todo seu território.
O comandante reforçou a ampliação da capacidade logística da FAB a partir do KC-390 junto ao alto poder dissuasório do modelo e à capacidade de resistir a ambientes hostis, como Antártica e Amazônia, além de sistema avançado de autodefesa e balística.
O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, falou estar orgulhoso não só como comandante da pasta, mas como cidadão brasileiro pelo trabalho da Embraer junto à FAB. Em discurso, lembrou que desenvolvimentos de projetos vêm sofrendo atrasos significativos ao longo dos anos devido a dificuldades orçamentárias e ressaltou que as Forças Armadas precisam ser compatíveis com a estatura do país e capazes de "dissuadir qualquer aventura ou ameaça que possa surgir". Ele destacou ainda que a renovação de equipamentos da FAB passará ainda pela chegada dos caças suecos Gripen.
Bolsonaro elogiou o trabalho em equipe de integrantes do governo e criticou a maneira como sua gestão recebeu o orçamento nacional. "Completamente desorganizado, para sermos civilizados. Se Deus quiser, antes de 2022 começaremos também a decolar com reajuste de nossos orçamentos", falou.
"Faremos o possível para atender todas as demandas de nossos ministros. Um dos mais importantes aqui é o da Ciência e Tecnologia, tão esquecida ao longo de décadas por parte de nossos governantes", falou.
O ministério comandado pelo astronauta Marcos Pontes tem sofrido orçamento apertado. Ontem anunciou que fará remanejamentos internos no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para o pagamento de bolsas de pesquisa de setembro. Vários ministros têm pleiteado mais verbas ao presidente.
Em meio à tramitação da reforma da Previdência no Senado, Bolsonaro ainda disse que "não gostaria de fazer muita coisa que está fazendo" quanto ao tema, mas disse que sem o trabalho e o entendimento dos parlamentares o destino do país seria "muito trágico".
KC-390 faz sobrevoo e Bolsonaro batiza aeronave
A primeira unidade entregue do KC-390 fez sobrevoos pela pista da Base Aérea de Anápolis, incluindo um a baixa altitude em cima do hangar dos convidados presentes. Após pousar, a aeronave ficou estacionada em frente ao palco do evento.
A Embraer entregou uma placa e miniatura do modelo para marcar a entrega à FAB. Um caminhão de emergência jogou água em cima da aeronave para seu batismo. Bolsonaro também estourou uma garrafa de espumante e jogou o líquido no bico do KC-390. Ao final do ato, brincou que infelizmente não poderia tomar a bebida.
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