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Após ir a ato pró-golpe, Bolsonaro fala em STF e Congresso abertos

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

20/04/2020 09h49Atualizada em 20/04/2020 12h29

Um dia após se juntar a um ato em defesa de um golpe de estado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) rebateu críticas e defendeu que o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal) estejam "abertos e transparentes".

"Supremo aberto e transparente. Congresso aberto e transparente. Nós, o povo, estamos no governo", afirmou o mandatário na manhã de hoje ao deixar o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.

No que depender do presidente Jair Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo
Jair Bolsonaro (sem partido)

Segundo ele, as acusações de que teria manifestado uma postura autoritária são "provocações baixas e rasteiras" por parte da imprensa. Também as rotulou como "invencionice".

No ato de ontem, em que manifestantes pediram intervenção militar, a volta do AI-5 (Ato Institucional Nº 5) e o fechamento do Congresso e do STF, Bolsonaro discursou e provocou mal-estar com os demais poderes. Após se juntar ao protesto, o presidente afirmou: "Não queremos negociar nada". O gesto foi interpretado em Brasília como uma manifestação de autoritarismo.

Hoje, Bolsanaro tentou mudar o tom. "Não falei nada contra qualquer outro poder. Muito pelo contrário. Queremos voltar ao trabalho. O povo quer isso. Estavam lá saudando o Exército brasileiro. É isso, mais nada. Fora isso, é invencionice. Tentativa de incendiar uma nação que ainda está dentro da normalidade", retrucou. A mobilização de ontem ocorreu na data em que é comemorado o Dia do Exército.

Questionado sobre a bandeira de retorno do AI-5, gritada a plenos pulmões por alguns apoiadores, o presidente retrucou: "Isso aí o pessoal pede desde 1968", em referência ao ano que foi editado o decreto que iniciou o período mais duro da ditadura militar.

"Todo e qualquer movimento tem infiltrado, tem gente que tem a sua liberdade de expressão. Respeite a liberdade de expressão."

Bolsonaro se irritou com um dos apoiadores que se aglomeravam na manhã de hoje na portaria da Alvorada. Enquanto o presidente fazia o seu pronunciamento, o homem gritou: "Fecha o STF". Irritado com a repercussão negativa de sua participação no protesto de ontem, o mandatário advertiu:

"Aqui não tem fechar nada. Dá licença aí. Aqui é democracia. Aqui é respeito à Constituição brasileira. E aqui é a minha casa e a tua casa. Então eu peço, por favor, que não se fale isso aqui."

Ainda segundo o chefe do Executivo federal, ele e sua equipe de ministros "não trabalham de madrugada, e sim à luz do dia".

"Eu sou realmente a Constituição. E mais: tenho conduzido o Brasil orientado e fiel aos interesses do povo brasileiro. Nada eu faço que não esteja de acordo com eles. É isso que acontece comigo. Onde é que eu estou errando? Meu time não trabalha de madrugada, meu time trabalha à luz do dia."

"Não queremos negociar nada", diz Bolsonaro

O ato em defesa de pautas antidemocráticas provocou ontem reações indignadas de várias autoridades, entre as quais os presidentes das Casas do Parlamento, ministros do Supremo e outros. A mobilização ocorreu na data em que é comemorado o Dia do Exército.

"Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro", disse Bolsonaro em seu dicurso, antes de começar a tossir bastante. "Chega da velha política".

Apesar de falar que não quer negociar nada, Bolsonaro não esclareceu exatamente o seu raciocínio. Apenas jogou palavras no ar e foi saudado pela multidão que se aglomerava em frente ao quartel-general do Exército ao gritos de "mito", "AI-5" e "fora, Maia" —este último em referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Um homem berrou várias vezes "Fecha o Congresso, o STF" e sua voz foi captada pelos microfones dos cinegrafistas do presidente, que faziam uma transmissão ao vivo em suas redes sociais. "Eu estou aqui porque acredito em vocês", declarou Bolsonaro.

"Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção têm que ser patriotas. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais do que um direito, vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com o seu presidente."

Apesar dos pedidos de volta da ditadura, no discurso, Bolsonaro disse que é preciso "manter a nossa democracia" e a "nossa liberdade".