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Após demissão de Moro, protesto em SP perde adeptos, mas prevê churrasco

Manifestação de apoio a Bolsonaro e ataques a Doria acontece em SP pelo terceiro sábado seguido - Felipe Pereira/UOL
Manifestação de apoio a Bolsonaro e ataques a Doria acontece em SP pelo terceiro sábado seguido Imagem: Felipe Pereira/UOL

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

25/04/2020 14h44

Um dia depois de Sergio Moro deixar o governo fazendo acusações graves, como que o presidente tentou interferir na Polícia Federal, uma manifestação de apoiadores a Jair Bolsonaro voltou a ocorrer em São Paulo, mas com menos participantes. Logo na abertura da manifestação um homem no caminhão de som explicou que o movimento perdeu integrantes "por causa dos acontecimentos de ontem".

A saída de Moro enfraqueceu o movimento que no último sábado foi tão numeroso que quase fechou a avenida Paulista no final da noite. Neste sábado, havia exatos 53 carros. Motoristas que passavam buzinando nos outros finais de semana eram indiferentes à carreata.

O discurso do manifestante deu o tom que as pessoas ali permanecem com Bolsonaro e a fala terminou com a frase "a verdade triunfará". As reivindicações da manifestação continuam sendo "fora Doria" e reabertura do comércio.

Mas Sergio Moro é assunto e há duas opiniões. O fotógrafo Julio César Piva, 38, disse que o ex-ministro traiu Bolsonaro. O grupo que está com ele faz coro e acredita que havia um projeto pessoal do ex-juiz federal desde a adesão ao governo federal.

A outra linha de raciocínio é de pessoas que mantém o apoio a Bolsonaro, mas manifestam gratidão a Moro pelo trabalho desempenhado na Lava Jato. O empresário Gleyson Lombardi, 47, acredita que houve um desalinhamento de ideias entre o presidente e seu ministro da Justiça. Mas ele entende que é preciso respeitar a hierarquia.

Caso o subordinado não concorde com as determinações do chefe, Lombardi acredita que o correto é sair. O empresário avalia que não era necessário deixar o cargo atirando. Mesmo assim, ele admite que ficou descontente com Moro não ser mais ministro.

Após carreata pela av. Paulista, apoiadores de Bolsonaro planejam um churrasco de confraternização - Felipe Pereira/UOL - Felipe Pereira/UOL
Após carreata pela av. Paulista, apoiadores de Bolsonaro planejam um churrasco de confraternização
Imagem: Felipe Pereira/UOL

"Senti aperto no coração. Fiquei com medo de ficar sem Moro", afirmou Lombardi.

Também empresário, Edilson Lima Gomes, 42, não está com raiva do ex-ministro, mas esperava mais dele no governo federal. Argumenta que o Brasil tem poucas pessoas com esta magnitude e desejava mais maturidade para lidar com a importância do cargo.

A manifestação ocorre pelo terceiro sábado seguido e a concentração foi ao lado do ginásio do Ibirapuera. O grupo ainda seguirá para a avenida Paulista e depois volta para a área de onde partiram para participar de um churrasco.

Respeito ao trânsito

No último sábado, os manifestantes se aglomeraram em frente ao prédio da Fiesp, na avenida Paulista, e o trânsito ficou quase parado. A situação incomodou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que argumentou que a via é caminho de vários hospitais. Ele determinou que a PM (Polícia Militar) não permita mais este tipo de atitude.

Para evitar problemas, os manifestantes chegaram à avenida Paulista e estacionaram carros e motos nas faixas coladas à ciclovia, incluindo o caminhão de som. Um homem com o microfone pediu para não interromper o tráfego. Acrescentou que este tinha sido o trato feito com os policiais militares que acompanhavam a carreta.

Mas as motos ficaram pouco tempo e continuaram com buzinaços pela cidade. Os carros ficaram parados e as pessoas desceram para a ciclovia e calçadas. Em nenhum momento fizeram qualquer movimento de fechar o trânsito.

Caminhão de som, carros e motos se encontram na Paulista em passeata a favor de Bolsonaro - Carolina Antonioli - Carolina Antonioli
Caminhão de som, carros e motos se encontram na Paulista em passeata a favor de Bolsonaro
Imagem: Carolina Antonioli

Outras manifestações pela cidade

Além da carreata na Paulista, a cidade contou com outras três manifestações favoráveis ao presidente. Caminhoneiros cruzaram grandes avenidas fazendo buzinaço e exibindo grandes faixas contra o governador de São Paulo. O impeachment de Doria era a principal reivindicação deles.

O mesmo pedido estava na boca de motociclistas também que transitaram pelas ruas de São Paulo fazendo buzinaços. Eles eram os mais numerosos entre todas as frentes pró Bolsonaro. Havia ainda um acampamento pedindo "intervenção militar com Bolsonaro no poder" na frente do quartel do Comando Militar do Sudeste. Todos os protestos somados não chegaram perto do apoio manifestado a Bolsonaro na Paulista sábado passado.

Governo de SP diz que manifestação foi a favor da pandemia

O governo de São Paulo enviou uma nota sobre as carreatas, afirmou que respeita o direito de manifestação, mas classificou os protestos como "a favor de uma pandemia". O texto ressaltou que o coronavírus matou 1.667 pessoas no Estado e defendeu o isolamento social. Confira a íntegra abaixo:

"O Governo de São Paulo defende o direito à livre manifestação, mas lamenta que ela seja a favor de uma pandemia que já matou, até o momento, 1.667 pessoas no estado. A manutenção da quarentena é essencial para que o sistema de saúde comporte a demanda de pacientes e não aconteçam ainda mais óbitos. A medida visa preservar o bem mais valioso, que é a vida.

O Governo tem mantido o diálogo com a população e com os setores produtivo, de comércio e serviços e vai intensificá-lo para estruturar um plano de ação de reabertura das atividades a ser implementado assim que for possível flexibilizar as atuais restrições de funcionamento necessárias."