Topo

Esse conteúdo é antigo

Intercept: Lava Jato via Ramagem como "ligado ao PT" e a procurador preso

Delegado Alexandre Ramagem Rodrigues - Foto: Agência Senado
Delegado Alexandre Ramagem Rodrigues Imagem: Foto: Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

27/04/2020 23h58Atualizada em 28/04/2020 00h52

Principal cotado para assumir o posto de diretor-geral da Polícia Federal no lugar de Maurício Valeixo, exonerado na última sexta-feira (24), o delegado Alexandre Ramagem teve seu nome mencionado em mensagens trocadas entre procuradores da operação Lava Jato, em 2015 e 2017, conforme informação revelada pelo site The Intercept, na noite de hoje.

A matéria é um novo episódio da série Vaza-Jato, baseada em conteúdos de aplicativos de conversas entre integrantes da força-tarefa cujo acesso foi obtido pelo site e compartilhado com outros veículos.

Em reportagem intitulada "É mto ligado ao PT", o site reproduziu mensagens de procuradores que demonstraram preocupação com a suposta ligação de Ramagem, atual diretor da Abin, com o Partido dos Trabalhadores, alvo da operação. Além disso, temiam a amizade que ele mantinha com um procurador preso em 2017 e denunciado pela venda de informações de investigação ao grupo JBS.

As desconfianças foram compartilhadas inicialmente por Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no Paraná.

"[O delegado Mario] Fanton tem grande amigo, carioca, na direção geral, o qual é mto ligado ao PT, e esperaria favor político futuro em troca de infos para melar o caso, segundo algumas fontes dizem", escreveu Dallagnol no dia 21 de julho de 2015, à 0h52, em mensagem enviada pelo aplicativo Telegram.
O Intercept reproduziu as mensagens sem correções, exatamente como estão nos arquivos. O UOL as reproduz da mesma maneira

Fanton foi acusado pela Lava Jato de violar sigilo funcional e vazar informações confidenciais.

O então procurador Carlos Fernando dos Santos pediu o nome do delegado carioca a que Dallagnol se referia. "Se tiverem o nome desse suposto delegado carioca, me avisem para eu poder passar para o pessoal nosso que está acompanhando as investigações".

Às 14h03 do mesmo dia, veio a resposta do coordenador da Lava Jato: "Nome do DPF é Alexandre Ramagem Rodrigues. Está na DG [Delegacia Geral da PF em Brasília]."

Segundo o Intercept, não se falou mais no assunto. A reportagem não informa qual poderia ser o vínculo entre Ramagem e o PT ou políticos.

Proximidade com procurador preso

O nome do delegado voltaria a aparecer em mensagens trocadas por procuradores da Lava Jato dois anos depois, em 2017.

Em maio de 2017, o procurador Ângelo Goulart Villela foi preso por suspeita de ter vendido informações sigilosas de investigação a Joesley Batista, dono da JBS.

Três dias depois da prisão, Dallagnol entrou em contato com o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, então coordenador da Operação Greenfield, que mirava fundos de pensão, a mesma operação na qual Villela atuava. Dallagnol encaminhou a mensagem de um denunciante que não teve a sua identidade revelada.

"Caro amigo, vou recorrer a vc (?). Mas o Angelo Goulart tinha ligações com um tal DPF Ramagem, que passou por RR Tb, será que ele está em alguma FT? Se estiver, deve ser afastado sumariamente, pq é grande o risco de estar envolvido tb."

Lopes respondeu: "holding era alvo de 3 Operações de nossa FT e outras 3 de outros colegas. Estavam acuados. De toda forma, o critério utilizado pela PGR foi o da qualidade das provas que eles produziram (...) Já ouvi isso, mas o Ramagem não está nas nossas operações."

Segundo o Intercept, Villela e Ramagem trabalharam juntos em Roraima (dividiram até casa em Boa Vista), entre 2008 e 2011, mas de fato o delegado não atuou na Operação Greenfield.

Cotado para comando da PF

Ramagem, que chefiou a segurança de Bolsonaro em sua campanha presidencial, é hoje diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e principal cotado para o cargo de diretor-geral da PF.

O posto está vago desde que o presidente exonerou Maurício Valeixo, uma indicação de Moro. Essa foi a razão pela qual o ex-juiz deixou o comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública na sexta-feira (24).

A possível indicação de Ramagem tem sido contestada por políticos da oposição devido à proximidade dele com a família Bolsonaro. Além de ter chefiado a segurança do então candidato a presidente na campanha eleitoral de 2018, o delegado é amigo dos filhos de Bolsonaro. Questionado sobre o tema, o presidente tem dito não ver conflito entre a relação de sua família com Ramagem e uma possível indicação à PF.