Escolha de novo chefe movimenta bolsa de apostas na PF
Após um recuo definitivo ou temporário do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a Polícia Federal e o Palácio já se movimentam em uma "bolsa de apostas" para substituir o nome de Alexandre Ramagem como sucessor do ex-diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo —- demitido na semana passada em uma crise que tirou o ex-juiz Sergio Moro do governo.
Policiais da direção da PF foram sondados por interlocutores do governo após a confusão instalada no xadrez montado pelo Palácio e destruído hoje pela decisão da liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes .
Ainda nesta quarta, o presidente estava inconformado com a ordem judicial que impediu a posse de Ramagem na direção-geral da corporação. Bolsonaro fez questão de mencionar isso em seu discurso na posse do novo ministro da Justiça, André Mendonça. Chegou a dizer que, "em breve", Ramagem realizará o sonho de tornar-se diretor da PF.
Pela manhã, segundo interlocutores, Bolsonaro foi enfático em dizer que não recuaria. Depois, chegou a ouvir opiniões de que talvez fosse melhor minimizar os danos e partir para uma nova escolha. Dentro do Planalto, o vaivém deixa a situação bastante indefinida, até porque o governo teria que encontrar uma saída jurídica para o desejo inicial de o presidente ser realizado.
No final do dia, algumas pessoas próximas a Bolsonaro tentavam pensar em novas estratégias jurídicas para resolver a situação, mesmo com o recuo anunciado pela AGU (Advocacia Geral da União.
Esse recuo da AGU, aponta um integrante da Polícia Federal, poderia estar ligado ao fato de o novo advogado-geral da União, José Levi Amaral, ter sido o número 2 do Ministério da Justiça na gestão de Alexandre de Moraes, durante o governo MIchel Temer. Moraes é justamente o pivô da nova crise no governo Bolsonaro.
Os nomes na "bolsa de apostas"
Dentro da PF, a dúvida é qual o critério seria usado pelo presidente para escolher alguém no lugar de Ramagem. De um lado, policiais entendem que seria uma solução pacífica para Bolsonaro optar por nomes como o diretor de Pessoal, Delano Brum, o de Inteligência, Cláudio Ferreira, ou o corregedor, Omar Mussi. Todos são considerados respeitados e com experiência para fazer um bom trabalho.
Delano é mais próximo de Ramagem. Foi chefe dele e poderia ser alçado à condição de número 2 da PF. Na noite de terça-feira (28), uma reunião com videoconferência colocou Ramagem, a direção atual, incluindo Valeixo, já demitido, e superintendentes para facilitar uma transição. Encerrada a conversa com vídeo, Ramagem bateu um papo com os colegas no prédio da sede da PF em Brasília, o chamado "Máscara Negra".
No entanto, alguns policiais se perguntam se as sondagens do Planalto têm mesmo o objetivo de nomear alguém da atual diretoria. Um deles pergunta: por que Bolsonaro nomearia alguém da diretoria de Valeixo, que é ligado a Moro?
Outra aposta é o ex-diretor geral Rogério Galloro, que é muito discreto e técnico, o que o faz ser conhecido como uma "eminência parda" na instituição. Galloro é chefe da Segurança do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Não se sabe se o novo presidente do tribunal, Roberto Barroso, vai mantê-lo no cargo.
Colaborariam para essa fama de "eminência parda" os rumores de que Disney Rossetti —- o número 2 de Valeixo e que hoje está no comando da Polícia Federal — migraria para o tribunal na vaga de Galloro. O ministro Barroso não quis se manifestar no momento sobre quem será o responsável pela coordenação da segurança das eleições.
Numa outra ponta estaria o superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva. Ele já foi indicado por Bolsonaro para chefiar a PF no Rio, na ação que culminou com a queda do delegado Ricardo Saadi. Tem a proximidade com a família Bolsonaro, mas não ficou tão exposto como Ramagem, que, hoje, foi nomeado de volta como diretor da Agência Brasileira de Inteligência.
A possibilidade de Anderson Torres, secretário de Segurança do DF, assumir a polícia é considerada baixa. Pessoas próximas apostam que ele tem chance de chegar a um posto mais alto. Poderia de ser nomeado por Bolsonaro, com quem mantém proximidade, num futuro Ministério da Segurança Pública, que ainda não existe. Torres e seu padrinho, o governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB), estavam na posse de Mendonça, na tarde de hoje.
Isso dependeria, porém, da criação do ministério. A bancada da bala pressiona pela nova pasta e apoiaria Torres com folga. No entanto, militares do Planalto entendem o desejo de amigos do presidente Bolsonaro por essa ideia, como o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), mas não veem a pasta da Justiça dividida em duas, ao menos neste momento.
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