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Collor critica falas de Bolsonaro sobre Forças Armadas: 'Perturbadoras'

O senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (Pros-AL) - Kleyton Amorim/UOL
O senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (Pros-AL) Imagem: Kleyton Amorim/UOL

Do UOL, em São Paulo

04/05/2020 15h39

O ex-presidente Fernando Collor afirmou que as declarações de ontem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) "nos deixam perturbados". Em live na frente do Palácio do Planalto, Bolsonaro falou que "acabou a paciência" enquanto acenava a apoiadores e declarou que as "Forças Armadas estão ao lado do povo".

"Queremos a independência verdadeiras dos 3 poderes, não só uma letra da Constituição. Chega de interferência. Não vamos mais admitir interferência, acabou a paciência. Vamos levar esse Brasil para frente", disse Bolsonaro.

Em resposta, Collor classificou as falas de Bolsonaro como "perturbadoras e sérias".

"As declarações do senhor presidente da República são extremamente perturbadoras e sérias, porque nós não sabemos exatamente o que ele quer dizer com isso. Se formos levar ao pé da letra: 'não tenho mais paciência, tenho o apoio das Forças Armadas'. O que ele realmente quer dizer com isso? São coisas que nos deixam perturbados. Os conflitos gerados pela presidência são institucionais. Esse filme eu já vi, não gostei do que vi e sinto algo parecido nos idos dos anos 1992", afirmou Collor em live do site Consultor Jurídico.

Collor ainda disse que não é o momento de Bolsonaro construir uma base parlamentar por conta da pandemia de coronavírus.

"É um momento inapropriado para que ele venha buscar construir uma base parlamentar. Não parte de um desejo do presidente de respeitar as instituições. Política se faz por meio dos partidos políticos e dos políticos, e o presidente diz que não negocia", acrescentou.

Na mesma linha de raciocínio de Collor, o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que o governo Bolsonaro não pensa no futuro.

"O nosso presidente infelizmente, ao invés de provocar a coesão, ele provoca a ruptura. A sociedade já está tensa pelo que está acontecendo. Antes mesmo da crise, as pessoas se perguntavam se vai ter emprego. E agora tem a doença que não diferencia idade, gênero, a desigualdade social que é muito grande no Brasil e vai ficar mais manifesta agora. Já está agredindo os que menos tem", disse.

"Nosso governo está longe de formular qualquer coisa na direção do futuro. Collor tem razão. Se você tem uma visão de governar sem fazer ligações, você é um ditador. Do jeito que ele está indo, pode ocorrer, porque ele só pensa em termos de 'eu sou o Estado'. Ele não é o Estado. Ninguém é. Na sociedade contemporânea, você tem que levar em conta a opinião das pessoas", acrescentou FHC, que ainda citou a Constituição.

"O momento é de respeitar a Constituição. Pode-se interpretar, mas quanto menos interpretativo, é melhor. Agora temos que buscar o apoio Constitucional e acho que as Forças Armadas têm um papel enorme nesse momento, que é entender suas funções. E aqueles que têm o poder têm que entender que o poder é relativo. A Constituição limita o poder direito. O resto é manter a esperança."

Outro ex-presidente a entrar no debate foi Michel Temer. Ele afirmou estar na torcida para que Bolsonaro cumpra seu mandato até o fim.

"Eu torço e trabalho para que o presidente termine o mandato. Essa história de impedimento agora é muito ruim. Eu vivi esse período e sei que não é útil e é traumático para o país. E, quando vier a nova eleição, vai se verificar o que se deve fazer. Medidas institucionais foram tomadas. Ou seja, as instituições estão funcionando. E as Forças Armadas têm uma responsabilidade extraordinária e são cumpridoras rigorosas do texto constitucional. Eu tenho plena convicção que as forças armadas jamais viriam a público para patrocinar um rompimento com a Constituição", disse.