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Aproximação de Bolsonaro e centrão dificulta plano de Maia eleger sucessor

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) - Reuters
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) Imagem: Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

12/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • As eleições internas da Câmara estão previstas para fevereiro de 2021
  • Rodrigo Maia só pode tentar se reeleger com mudança da regra atual
  • Bolsonaro tenta refazer sua base e garantir um aliado no comando da Casa
  • Arthur Lira (PP) e Marcos Pereira (Republicanos) surgem como nomes mais alinhados ao Planalto

A aproximação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com o centrão dificulta os planos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de tentar se reeleger (com uma manobra para alterar a regra atual) ou fazer seu sucessor no cargo. As eleições internas da Casa estão previstas para fevereiro de 2021.

Oficialmente, Maia nega interesse em permanecer à frente da Presidência da Câmara. Nos bastidores, já cogitou a possibilidade junto ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Agora, porém, se vê diante de aliados do centrão cada vez mais distantes e que podem receber apoio do Planalto, como Arthur Lira (PP-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

Reeleito em fevereiro de 2019 e no terceiro mandato consecutivo como presidente da Casa, Maia não pode se candidatar ao cargo novamente. Para tanto, teria de aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) mudando a Constituição, que afirma que o mandato é de dois anos sem reeleição numa mesma legislatura.

O primeiro mandato de Maia no comando da Câmara foi em 2016 após a renúncia do então presidente da Casa, o ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB), preso no âmbito da Operação Lava Jato. Quando se colocou na disputa depois do mandato-tampão, sua candidatura causou controvérsia e teve de se apoiar em um parecer para prosseguir.

Hoje, a possibilidade de tentar mudar a legislação parece mais remota, sendo descartada por pessoas próximas a ele, e o candidato a sucedê-lo tido como seu favorito é o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Líder da maioria na Câmara e um dos principais expoentes do centrão, Aguinaldo tem bom trânsito entre os colegas e experiência com diferentes governos.

Maia continua tendo muita influência na Câmara e terá peso nas próximas eleições internas, mas Lira e Pereira, também do centrão, aparecem como fortes candidatos, ainda mais se puxarem o Planalto para si.

A tendência é que Aguinaldo, sendo o favorito de Maia, não receba afagos do Planalto — chefe da Câmara e o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), voltaram a se enfrentar recentemente. A avaliação de interlocutores do deputado ouvidos pelo UOL é que Bolsonaro tentará isolar Maia o quanto possível.

Bolsonaro tem conversado com integrantes do centrão na tentativa de compor a sua base parlamentar no Congresso, o que nunca conseguiu em quase um ano e meio de mandato. Na negociação, estão cargos nos primeiros escalões do governo. O presidente visa ainda barrar eventual abertura de pedido de impeachment.

O centrão é um bloco informal de partidos sem orientação ideológica que se junta de maneira mais ou menos unificada para negociar espaço no governo. Legendas como Republicanos, PL, PP (Progressistas), PSD, Solidariedade, PTB, Pros e Avante estreitaram as conversas com o Planalto.

Junto a parlamentares de outros partidos de centro-direita à centro-esquerda, o bloco agrega cerca de 220 dos 513 deputados federais. MDB e DEM também estão na mira de Bolsonaro.

Arthur Lira e Marcos Pereira devem aproveitar esse contexto de aproximação do Planalto, embora publicamente neguem qualquer movimentação nesse sentido.

Por se declarar cristão e ter uma pauta de costumes mais alinhada à de Bolsonaro, Pereira pode levar vantagem sobre Lira.

Outro fator que pode dificultar a vida de Maia para fevereiro de 2021 é a dispersão de parte da base que o elegeu à Presidência da Câmara, afirma um deputado, sob reserva. Justamente por causa das conversas com o Planalto, o centrão se vê menos dependente de Maia.

Uma carta na manga que Maia tinha nas outras eleições era a negociação de espaços na Mesa Diretora e em comissões importantes da Casa. Uma vez atendidos, os partidos ganharam poder e buscam voos mais altos. Atualmente, fora o próprio Maia, dentre os seis cargos mais importantes da Mesa Diretora, quatro são ocupados por integrantes de partidos do centrão.

Além de Aguinaldo, Lira e Pereira, outros deputados buscam se viabilizar como pré-candidatos à disputa do ano que vem, ainda que alguns somente nos bastidores. São eles Alessandro Molon (PSB-RJ), Fábio Ramalho (MDB-MG), Capitão Augusto (PL-SP), Alceu Moreira (MDB-RS) e Soraya Santos (PL-RJ).