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Ao deixar Saúde, Teich elogia estados e municípios e diz que escolheu sair

Do UOL, em São Paulo*

15/05/2020 16h08Atualizada em 15/05/2020 19h23

Nelson Teich disse, em pronunciamento na tarde de hoje, que escolheu sair do Ministério da Saúde, menos de um mês depois de assumir a pasta, sem dizer o motivo que o levou à decisão. Em breve discurso, o agora ex-ministro agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo convite, mas elogiou estados e municípios, que travam, em sua maioria, guerra contra governo federal diante dos protocolos de combate à pandemia.

A vida é feita de escolhas e hoje eu escolhi sair. Dei o melhor de mim neste período. Não é simples estar à frente de um ministério como esse num momento difícil. Quero agradecer o meu time, que sempre trabalhou intensamente por esse país"

Elogio aos estados

Teich disse que as secretarias de Saúde dos estados e municípios têm peso equivalente ao do ministério na tomada de decisões da pasta. Estados e municípios têm protagonizado uma disputa de narrativas com o presidente Bolsonaro, que é contrário ao isolamento social e adepto do uso da cloroquina.

A missão da saúde é tripartite, envolve o ministério, o Conass [Conselho Nacional de Secretários de Saúde], o Conasems [Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde], os secretários de Saúde. Isso é uma coisa importante de se deixar claro. O ministério acha que [essa relação] é verdadeira e essencial para conduzir o país, tanto na parte estratégica quanto na execução. Aqui, eu realço a participação no ministério do Conass e do Conasens"

Como Mandetta, o agora ex-ministro defendeu publicamente posições contrárias às do presidente. Além de afirmar que o distanciamento social deveria ser uma medida de combate à pandemia do novo coronavírus —enquanto Bolsonaro defende que apenas pessoas do grupo de risco fiquem em isolamento—, Teich postou em uma rede social nesta semana que o uso da cloroquina no tratamento contra a covid-19 deve ser feito com restrições, já que a substância pode desencadear efeitos colaterais. O presidente, por sua vez, é um dos principais defensores da medicação

O último capítulo da disputa se deu com o decreto baixado pelo presidente que coloca barbearias e salões de beleza como serviços essenciais. O STF (Supremo Tribunal Federal) já decidiu, entretanto, que cabe aos estados e municípios essa decisão. Esse momento confirmou a falta de sintonia entre presidente e ministro —Teich admitiu que não sabia da decisão do presidente e foi pego de surpresa durante entrevista coletiva em que apresentava os dados diários da pandemia.

Planejamento pronto

O ex-ministro afirmou ter deixado um planejamento pronto para os secretários estaduais e municipais para "tentar entender o que está acontecendo e definir os próximos passos".

"Aqui a gente entrega o que tem que ser avaliado, os itens que não conseguimos encontrar, e que auxiliam nas tomadas de decisões. Foi construído um programa de testagem e que está pronto para ser implementado, importante para entender a situação da covid no país para que possamos definir estratégias", disse Teich.

O médico disse que não aceitou o desafio pelo cargo, mas porque acreditava que poderia ajudar as pessoas. "Não aceitei o convite pelo cargo. Aceitei porque achava que poderia ajudar o Brasil e as pessoas. Obrigado", afirmou.

O general Eduardo Pazuello assumiu interinamente o comando do Ministério da Saúde após a confirmação da saída de Nelson Teich.

A saída do ministro acontece menos de um mês após ele substituir Luiz Henrique Mandetta na pasta, e sua saída já vinha sendo cogitada havia alguns dias.

Pedido de demissão gera críticas a Bolsonaro

A reação das personalidades políticas ao pedido de demissão de Teich foi rápida. Governadores, como João Doria (PSDB), de São Paulo, criticaram o presidente Jair Bolsonaro.

"O Brasil acorda assustado com as crises diárias, com agressões gratuitas. Agressões às instituições, à Constituição, agressão ao Congresso Nacional, agressão ao Supremo Tribunal Federal, agressões à imprensa, agressões a ministros do seu próprio governo. Como o senhor fez e continua a fazer. Fez com Gustavo Bebianno, com Santos Cruz, com Luiz Henrique Mandetta, com Sergio Moro e agora com Nelson Teich. Presidente Bolsonaro, governe. Administre o país com equilíbrio, com paz, com compreensão e grandeza. Pare com agressões, com conflitos, de colocar o país dentro de um caldeirão interminável de brigas e atritos. O país, para vencer a pandemia, precisa estar unido em em paz", afirmou Doria.

Mandetta: 'Mês perdido'

Antes do pronunciamento, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta criticou a gestão de Nelson Teich à frente da pasta. Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, Mandetta disse que o último mês foi "perdido", já que a única coisa que Teich fez foi "exonerar pessoas".

"A gente vê com muita apreensão, porque a sensação que dá é de que foi um mês perdido. Entrou uma pessoa no cargo de ministro, não deu tempo de muita coisa. O que ele fez foi exonerar as pessoas que estavam lá. Fico triste. Mês perdido", lamentou o ex-ministro.

Mandetta ainda estimou que a estabilização da epidemia no Brasil deve acontecer apenas no mês de julho —a depender das medidas que serão tomadas até lá. "A gente está apenas no primeiro terço da subida e não estamos preparados para os outros dois. Em julho talvez a gente possa estabilizar", previu.

*Colaborou Alex Tajra, do UOL, em São Paulo

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.