Jairo Bouer diz que saída de Teich é "catastrófica" para saúde pública
O médico Jairo Bouer, colunista de Viva Bem, do UOL, classificou a saída do ministro da Saúde Nelson Teich como "catastrófica do ponto de vista de saúde pública".
Bouer ressaltou que o Brasil vive um momento "extremamente difícil" da pandemia, com alto número de registros de óbitos e casos. A fala ocorreu em um debate com os colunistas do UOL Tales Faria, Leonardo Sakamoto e Thaís Oyama.
Em sua avaliação, será difícil encontrar um médico que será a favor da cloroquina e contra o isolamento social, concordando assim com o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
"A gente sabe tudo o que foi feito no mundo de mais eficaz pra tentar conter o avanço da pandemia é o lockdown ou as estruturações de um isolamento horizontal que todo mundo evita sair na rua, a não ser os serviços essenciais. Só um ministro da saúde que vá topar essa empreitada não respeitando esses dois dogmas da comunidade científica hoje é muito complicado. É alguém que iria na contramão de tudo o que a comunidade científica está falando", disse.
No momento, não há comprovação científica dos benefícios da cloroquina ou da hidroxicloroquina no combate à covid-19. Além disso, as autoridades de saúde defendem o isolamento social como a medida mais eficaz para evitar uma propagação maior do novo coronavírus.
"Acho muito complicado encontrar algum médico que vá topar assumir essa função sendo que tem que lidar com dois fatores que vão contra tudo o que a comunidade médica e científica está vendo nas últimas semanas", afirmou.
O médico ressaltou que não há, até o momento, "nada que comprove a eficácia" da cloroquina. A saída de Teich acontece em meio a atritos com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em especial sobre o uso do medicamento no tratamento da covid-19.
Ele é o segundo ministro a deixar a Saúde em meio à pandemia. Luiz Henrique Mandetta deixou o cargo em 16 de abril e também foi criticado por Bolsonaro por não adotar a hidroxicloroquina e defender o isolamento social. Teich assumiu no mesmo dia, mas durou 29 dias no posto.
Segundo Bouer, as trocas na pasta complicam ainda mais o momento atual. "A gente está, em algumas cidades, em alguns cenários, em uma situação calamitosa. A gente tem aí números que tão deixando a gente extremamente preocupado. A gente está em um momento muito complicado da pandemia. A gente perde mais um ministro no intervalo de um mês e esse fator de coordenação fica muito complicado", ponderou.
O colunista lembrou que a ausência de um planejamento central atrapalha no combate à covid-19. "A gente tem as orientações individuais de municípios e estados e eu acho que se a gente for esperar uma coordenação central a coisa desanda de vez", disse.
No momento, o Brasil tem 202.918 casos oficiais de covid-19 e 13.993 mortos. Nos últimos três dias, os números de mortes confirmadas nas 24 horas anteriores foram de pelo menos 700.
"Do ponto de vista de acompanhamento dessa pandemia e de coordenação central e do ponto de vista sanitário eu acho catastrófico a gente ter mais um ministro desautorizado, frito ao vivo e em cores e a gente tá de novo.... não sei as últimas expectativas de quem assumiria esse posto, se é o número dois temporariamente, que é militar, mas não é da área médica. Então, eu acho muito complicado", acrescentou.
Defendida por Bolsonaro, a hidroxicloroquina não evita mortes por covid-19 e também pode afetar o coração, como apontou estudo do Journal of the American Medical Association (JAMA). Teich lembrou da contraindicação em post nesta semana, o que desagradou Bolsonaro. Hoje, o ministro acabou sendo demitido da pasta.
Segundo Bouer, as manifestações e atitudes do presidente Jair Blsonaro dividem a opinião das pessoas, que acabam confusas sobre como agir neste momento de pandemia.
"O que a gente tem hoje? A única coisa que a gente tem de eficiente pra contenção de tudo o que tá acontecendo é o isolamento social. Eventualmente, quando você precisar sair às ruas pra fazer as funções essenciais, você usa máscara, fica distante, alcool em gel, lava as mãos. É isso o que a gente tem, ponto. Infelizmente a gente não tem nada muito melhor do que isso. Aí, a hora em que você descobre ou vende a ideia de um medicamento mágico, que pode servir tanto como uma prevenção ou impedir que, caso você se infecte, essa infecção migre para casos mais graves, você desmobiliza, sim, a opinião popular, que já vem dividida com essas inúmeras vozes", acrescentou.
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