Com Teich, cloroquina volta a ser motivo de atrito entre Saúde e Bolsonaro
A defesa por parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do uso da cloroquina no tratamento de pessoas infectadas com o novo coronavírus voltou a ser motivo de desconforto entre ele e o Ministério da Saúde, agora ocupado por Nelson Teich.
Em reunião com empresários, o presidente garantiu que o ministério irá mudar o protocolo do medicamento, apesar da postura cautelosa que a pasta tem adotado. Fora de agenda, presidente e ministro se reuniram na tarde de hoje e, pelo segundo dia, Teich não participou de entrevista coletiva sobre as medidas adotadas para conter a covid-19.
Menos de um mês depois de ter assumido o cargo no lugar de Luiz Henrique Mandetta, Teich se vê pressionado pelos mesmos motivos que seu antecessor: a insistência presidencial pelo uso da cloroquina e pelo fim do isolamento social. Esse foi um dos temas que levou à queda de Mandetta e agora deixa Teich cambaleando no cargo.
Segundo revelou hoje a colunista do UOL, Constança Rezende, funcionários do Ministério da Saúde avaliam que o presidente tem submetido Teich a constantes 'testes' na pasta. Nessas situações, são analisadas sua capacidade no órgão e o seu alinhamento ao governo.
Um dos desafios teria sido o anúncio de ampliação dos setores incluídos entre as categorias essenciais feito ao mesmo tempo em que Teich falava à imprensa. O ministro ficou sabendo por meio dos jornalistas que o presidente havia tornado academias e salões de beleza serviços essenciais. Sua resposta na hora, após a surpresa com a notícia, foi que a decisão cabia ao presidente e ao Ministério da Economia.
Além do presidente e de seus apoiadores, o novo ministro também não tem agradado governos de outras esferas. Ontem, sofreu um revés ao ter seu plano sobre o isolamento social negado por municípios e estados. Após garantir que apresentaria o plano ontem, a coletiva de imprensa foi cancelada minutos antes de ocorrer.
Hoje, Teich recebeu críticas do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM), que disse não ver atitudes do Ministério da Saúde suficientes para liderar o país no processo de reabertura econômica após o período da quarentena.
Para Garcia, o ministério tentou coordenar mais as ações de estados e municípios no início da pandemia, quando Luiz Henrique Mandetta ainda era o titular da pasta. No entanto, tem esbarrado na postura do presidente Jair Bolsonaro de se manter contra o isolamento social como tem sido feito por estados como São Paulo.
Além disso, o UOL fez um levantamento que mostrou a redução em quase 10 vezes a compra de EPIs e respiradores desde a troca de Mandetta para Teich na pasta.
A gestão de Mandetta foi responsável por 91% do investimento feito diretamente pela pasta no enfrentamento à epidemia. Já a administração de Teich fechou apenas quatro contratos em 27 dias — o atual ministro gastou 9% do total usado contra o coronavírus, ou seja, dez vezes a menos do que o anterior em equipamentos para combate do surto.
Cloroquina volta a ser impasse político
Ontem, um dia depois de Teich pedir cautela e alertar que a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais, o presidente falou para apoiadores que iria conversar com o ministério sobre a ampliação do uso do medicamento.
Hoje, em reunião com empresários organizada pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, Bolsonaro disse que o protocolo do uso do medicamento "pode e vai mudar".
"Votaram em mim para eu decidir e essa questão da cloroquina passa por mim. Está tudo bem com o ministro da Saúde, sem problema nenhum, acredito no trabalho dele. Mas essa questão da cloroquina vamos resolver. Não pode o protocolo dizendo que só pode usar em caso grave... Não pode mudar o protocolo agora? Pode mudar e vai mudar", declarou.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) é clara ao dizer que "não há tratamento específico para a doença causada pelo novo coronavírus".
Nesta semana, a postura de Teich frente à cloroquina foi suficiente para o ministro virar alvo de ataques no Twitter, por supostamente desmerecer o medicamento em benefício do remdesivir, outro medicamento em fase de testes.
A reação se assemelha ao fim da gestão de Mandetta que, pouco antes de deixar o cargo, relatou pressão sofrida para editar um protocolo indicando a hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. Depois, ele viria a amenizar a situação tentando manter a boa relação com Bolsonaro.
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