Sem atenção da imprensa, podemos fazer mudanças mais 'serenas', diz Salles
Depois de explicar o que disse na reunião de 22 de abril —na qual sugeriu que o governo aproveitasse o foco da cobertura de imprensa ao coronavírus para "passar a boiada" e mudar normas—, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, reforçou hoje ao UOL que o momento permite que sejam feitas mudanças de forma mais "serena".
"Neste momento, o que eu disse na reunião, quando há menos tensão e mais atenção à covid-19, você pode fazer essas mudanças de forma serena, mais equilibrada", afirmou.
Em determinado momento, o ministro justificou que não quis dizer que a pandemia seria uma "oportunidade" para modificar normas, mas que o foco da imprensa na covid-19 poderia evitar o que ele chama de "polêmicas".
"Eu não disse que pandemia é uma oportunidade. O que eu disse é que a forma como a imprensa tem feito a cobertura... Não tenho problema nenhuma sobre a cobertura da imprensa. Mas o volume de crítica, o nível de manipulação, isso atrapalha enormemente. Não é cobertura justa. É militância. E isso atrapalha muito", criticou.
"O que temos observado nos últimos tempos: a cobertura da imprensa, que é democrática e não incomoda, mas tem uma cobertura ativista, que desinforma a sociedade. Não é verdade que somos insensíveis. O que eu falei ali é que seria hora efetivamente de revisar as regras normativas", acrescentou.
Embora Salles tente justificá-la, a frase dita na reunião (veja acima) teve repercussão negativa no exterior, sobretudo dentre personalidades ligadas às pautas de defesa do meio ambiente. É o caso da jovem ativista sueca Greta Thunberg.
"Parte da repercussão no exterior é propositalmente orquestrada por entidades que querem levantar projetos sociais, querem dinheiro lá fora. Mas tudo bem, isso faz parte", acusou.
"Primeiro: o governo tem um projeto sustentável para a Amazônia. O recurso que eles estão nos negando na compra de carbono poderia ir para a preservação da floresta", comentou. "Boicotar o produto brasileiro no exterior só vai piorar. Os locais onde há mais pobreza têm desrespeito com a natureza", disse Salles.
No dia 22 de abril, em quase duas horas de reunião, Bolsonaro e seus ministros falaram sobre a covid-19 por apenas 19 minutos e 18 segundos —naquela data, o Brasil já tinha 2.906 mortes confirmadas.
"Eu queria fazer um comentário: 'Ah, ninguém falou sobre a covid-19" [na reunião], mas aquela era uma reunião para tratar do pro-Brasil. Você repara que eu me referia uma fala do slide do Braga Netto. Então, não cabia a mim falar acerca do tema [coronavírus]", completou o ministro.
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