'Curralzinho humilhante': senadores apoiam saída da imprensa do Alvorada
A decisão por parte de alguns veículos —UOL, Folha de S.Paulo, Grupo Globo, Metrópoles e TV Band— de suspender temporariamente a cobertura diária no Palácio da Alvorada por falta de segurança repercutiu entre senadores. Em seus perfis nas redes sociais, os parlamentares apoiaram a iniciativa dos veículos e condenaram a postura da Presidência por não garantir um ambiente seguro aos profissionais.
Para os senadores, o governo tem atuado contra a democracia e a liberdade de imprensa ao permitir que recorrentes atos de hostilidade praticados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) continuem acontecendo no Alvorada. Segundo relatos publicados por jornalistas, bolsonaristas quase invadiram o espaço destinado à imprensa, sem que fossem contidos pelos seguranças.
"É muito grave quando empresas do porte do Grupo Globo e da Folha não veem garantias de segurança em cobertura presidencial. Isso só ocorre em países ditatoriais ou em governos que almejam essa condição. A democracia não tolera cerceamento da liberdade de imprensa", disse a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) no Twitter.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) disse apoiar a decisão das empresas de comunicação e que as condições de trabalho oferecidas no "curralzinho" já tinham sido expostas por ele diversas vezes. "Há tempos implico com esse curralzinho humilhante somado a uma dinâmica de [entrevista] coletiva com claque. Os principais veículos de comunicação e jornalismo não precisam sujeitar seus/suas repórteres a isso", ressaltou.
O apoio aos profissionais da mídia foi reforçado pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES). "Mais uma empresa jornalística suspende a cobertura no Alvorada. A população é prejudicada em seu direito constitucional de ser informada porque o presidente e sua segurança permitem que uma horda os hostilize. Reitero apoio aos jornalistas e às empresas", ressaltou.
O cenário no Alvorada foi descrito pelos senadores Paulo Rocha (PT-PA) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) como de ameaça e medo, gerados, segundo eles, para tentar calar o trabalho da imprensa. Para eles, Bolsonaro comete crime ao não evitar que as agressividades ocorram.
"Não existe democracia sem jornalismo livre! Esse é mais um dos graves crimes que Bolsonaro comete. Em que democracia jornalistas se sentem ameaçados ao cobrir um presidente? Ofereço aos profissionais de imprensa, além de solidariedade, todo o meu apoio!", escreveu o senador Randolfe.
Ainda no Twitter, o senador Humberto Costa (PT-PE) lembrou que a última vez em que o País acompanhou iniciativas da imprensa semelhantes às atuais foi no período da ditadura militar.
"A última vez que a imprensa cruzou os braços à cobertura presidencial, o Planalto tinha um general-ditador", escreveu, compartilhando uma imagem de 1984, quando fotógrafos credenciados que cobriam a Presidência cruzaram os braços e se recusam a fotografar João Batista Figueiredo descendo a rampa do Palácio do Planalto.
O protesto foi uma reação à ordem de Figueiredo, que proibiu fotos em seu gabinete. Enquanto vigorou a proibição, apenas o fotógrafo oficial do Planalto podia registrar as audiências.
Proteção aos jornalistas
O líder do PDT, senador Weverton (MA), disse ser inaceitável o comportamento "hostil e desrespeitoso" dos seguidores do presidente. Como tentativa de combater esse tipo de violência, ele informou ter apresentado o Projeto de Lei (PL) 2.874/2020, que propõe agravar de um a dois terços a pena cometida ao crime de lesão corporal a jornalistas e profissionais de imprensa no exercício da sua profissão.
"É inaceitável o crescente número de agressões contra jornalistas. Apresentei um projeto que agrava a pena para quem cometer crime de lesão corporal contra profissionais de imprensa no exercício da sua profissão ou em razão dela. A imprensa livre é um dos pilares da democracia", enfatizou.
Atualmente, a legislação prevê pena de detenção de três meses a um ano para esse tipo de crime e penas maiores para casos graves, que levem à incapacidade ou à morte do profissional.
O agravamento da pena para esse tipo de crime também tramita no Senado no PL 2.813/2020, de Lucas Barreto (PSD-AP).
*Com Agência Senado
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