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Doria diz que viu 'escalada autoritária' de Bolsonaro no 3º mês de governo

Governador João Doria (PSDB) durante entrevista coletiva - ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Governador João Doria (PSDB) durante entrevista coletiva Imagem: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

03/06/2020 10h33

Um dos principais adversários políticos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos últimos meses, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se disse "decepcionado" com a postura do chefe do Executivo. Em entrevista ao "El País" publicada hoje, o político tucano afirmou que percebeu uma "escalada autoritária" de Bolsonaro no terceiro mês de governo.

"No primeiro turno votei em Geraldo Alckmin. No segundo, tínhamos duas opções e eu não votaria em Fernando Haddad. Mas isso não me torna seu antagonista. Porque aqui fizemos a transição de maneira muito republicana. Mas eu não iria votar em quem derrotei dois anos antes. Naquele momento se justificava o voto em Jair Bolsonaro, ele tinha um apelo liberal do ponto de vista da economia, algo que pratico aqui", disse.

"Ele tinha o nome de Paulo Guedes como futuro ministro da Economia. E havia outro peso importante, que era a defesa da transparência e o combate à corrupção na figura de Sergio Moro, que ele dizia que seria seu ministro da Justiça, como de fato foi. Depois de sua posse, em menos de três meses eu e provavelmente milhões de brasileiros que também votaram em Bolsonaro percebemos que essa imagem e propostas não eram exatamente o que ele defendia. E no terceiro mês de governo já se percebia a escalada autoritária", continuou Doria.

O governador de São Paulo também voltou a criticar a postura de Bolsonaro em relação à pandemia de covid-19. Para Doria, o presidente da República nunca obedeceu à ciência.

"A verdade é que estou decepcionado. O boicote não é aos governadores, é à vida. Está indo contra a saúde e a vida dos brasileiros. Infelizmente, essa é a realidade. É o que ele vem fazendo desde fevereiro. O presidente nunca teve o comportamento de obedecer à ciência. Três ministros em três meses em meio de uma pandemia. Incrível", afirmou. "E se soma a isso a vontade deliberada de recomendar o uso indiscriminado da cloroquina ou da hidroxicloroquina, que a ciência não recomenda, exceto em casos muito especiais, com prescrição médica e a aceitação do paciente, porque os efeitos colaterais são muito graves, principalmente para cardíacos."

Questionado sobre a possibilidade da implantação de uma nova ditadura militar no Brasil, Doria afirmou que o estado de São Paulo não admitirá qualquer movimento neste sentido.

"Eu pessoalmente, como governador de São Paulo, lutarei com todas as forças e com a dimensão política do cargo que obtive no voto direto, foram 11 milhões de votos. São Paulo é o Estado economicamente mais importante do país, tem quase 40% da economia brasileira, 46 milhões de habitantes. Aqui nós não admitiremos em nenhuma hipótese qualquer movimento golpista para implantação da ditadura novamente aqui no Brasil", afirmou.