Embaixador da China no Brasil diz que críticos devem olhar a longo prazo
O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, afirmou hoje que críticos ao país asiático devem ter uma perspectiva de longo prazo, pois a pandemia do novo coronavírus é transitória.
"Aconselhamos aos críticos contumazes da China e das relações sino-brasileiras a considerar mais os sentimentos dos dois povos e os interesses perante a parceria e amizade China e Brasil. (...) É importante ter uma perspectiva de longo prazo, porque a pandemia e as dificuldades são hoje transitórias", declarou.
Em evento virtual promovido pela embaixada, Wanming evitou responder diretamente ao ser questionado sobre declarações críticas do entorno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quanto à condução da China em relação ao combate do coronavírus, possíveis omissões na divulgação de casos confirmados e um suposto benefício econômico próprio.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, também está sendo investigado no STF (Supremo Tribunal Federal) quanto a suposta declaração racista contra chineses no Twitter em abril, cuja publicação foi apagada horas depois. Ontem, ele prestou depoimento à Polícia Federal sobre o caso.
"Preservar cooperações amistosas"
O embaixador chinês afirmou que chegaram a ele ações de solidariedade e pedidos das sociedades de ambos os países para o fortalecimento de parcerias com o objetivo de superar as dificuldades do momento. Wanming ressaltou que China e Brasil são parceiros estratégicos globais e que é preciso preservar as ambições de cooperações amistosas.
Segundo o embaixador, esse bom relacionamento se deve à falta de atritos históricos ou conflitos sérios entre si.
"Pelo contrário, os dois países compartilham uma vasta gama de interesses em comum, têm uma parceria robusta e com enorme potencial", disse ao acrescentar que isso é resultado do esforço de várias gerações.
Além de críticas reservadas do presidente Jair Bolsonaro à China, um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), responsabilizou o governo do país pela pandemia do novo coronavírus, em março. A China foi o primeiro lugar a registrar casos do vírus no mundo.
"Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas", disse Eduardo Bolsonaro.
À época, nas redes sociais, Yang Wanming afirmou que Eduardo é uma "pessoa sem visão internacional nem senso comum, sem conhecer a China e o mundo", entre outras críticas. O deputado negou que tenha ofendido o povo chinês.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que as declarações de Eduardo não representavam o posicionamento brasileiro, porém, pediu uma retratação à embaixada chinesa. Ao fim, a situação foi amenizada apenas quando Jair Bolsonaro conversou ao telefone com o presidente da China, Xi Jinping.
Hoje, Wanming não respondeu se houve algum outro pedido de desculpas, ainda que sob reserva, por parte do governo brasileiro após a ligação telefônica. Neste meio tempo, houve a ironia de Weintraub no Twitter e revelação de fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a China é "aquele cara que você sabe que você tem que aguentar" devido à sua importância econômica.
O embaixador chinês negou hoje que a China busque vantagens geopolíticas e econômicas ou impor condições políticas em meio à pandemia. Ele reconheceu, porém, que o país deve continuar a crescer economicamente embora o governo chinês não tenha estipulado uma meta para 2020.
"A pandemia não vai mudar características básicas da economia chinesa, como o enorme potencial, a forte resiliência, o amplo espaço para manobras e a diversidade de instrumentos de política, tampouco vai afetar a tendência fundamental do crescimento a longo prazo", defendeu.
Segundo ele, mais de 99% das principais empresas industriais já retomaram a produção e 95% dos funcionários voltaram ao trabalho.
Comércio entre China e Brasil cresce durante pandemia
Wanming informou que a China tem se mantido como o maior parceiro comercial do Brasil por 11 anos consecutivos e o maior destino das exportações brasileiras. Por sua vez, o Brasil é o primeiro país latino-americano a ter um comércio com a China acima dos US$ 100 bilhões.
Dados da embaixada indicam que, de janeiro a abril deste ano, apesar do impacto da pandemia, o comércio bilateral registrou uma alta de 3,5%, e o Brasil vendeu quase 11% a mais à China em relação ao mesmo período do ano passado. Houve aumento no comércio de soja, carne bovina, petróleo bruto, minério de ferro e celulose.
"Não foi fácil conseguir esse resultado, mas ele é muito encorajador, porque demonstra que a pandemia não abalou o fato de que o nosso comércio é altamente complementar e tem um enorme potencial", declarou o diplomata.
A China afirma ter investido quase US$ 80 bilhões em setores como agricultura, energia e mineração, infraestrutura, telecomunicações e manufatura, gerando mais de 40 mil empregos diretos. Oportunidades nas áreas de redes 5G, energia limpa e economia online também são discutidas entre os governos brasileiro e chinês.
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