Adega que vendeu respiradores para o AM repassou R$ 2,2 mi para o exterior
Flávio Costa e Rosiene Carvalho
Do UOL, em São Paulo, e Colaboração para o UOL, em Manaus
01/07/2020 14h22Atualizada em 01/07/2020 14h30
Mais de R$ 2,2 milhões pagos pelo governo do Amazonas pela compra suspeita de respiradores em meio à pandemia do novo coronavírus foram enviados para uma conta no exterior. A operação carrega indícios de lavagem de dinheiro, de acordo com avaliação da PF (Polícia Federal) e PGR (Procuradoria Geral da República).
Segundo o despacho do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Francisco Falcão, que autorizou a Operação Sangria, deflagrada ontem, a FJAP, uma adega de vinhos que vendeu 28 respiradores para o governo amazonense por pouco mais de R$ 2,9 milhões, remeteu, imediatamente, R$ 2.274.225, por meio de operação cambial, para a empresa Jalusa Corporation Inc, numa conta no exterior.
As informações foram passadas por autoridades policiais e o Ministério Público Federal, que apontaram a existência de "robustos indícios da prática de lavagem de dinheiro", de acordo com o despacho.
A Jalusa é uma companhia americana que forneceu os equipamentos à FJAP Cia. Ela havia vencido uma licitação anterior, porém, estranhamente, não entregou os aparelhos para o governo amazonense.
Fábio José Antunes Passos, dono da FJAP, afirmou que a operação seria pagamento pela importação dos respiradores. Porém, a Jalusa não realizou exportações desse tipo de equipamento para o Amazonas, de acordo com a Receita Federal.
O UOL revelou, com exclusividade, em abril que o tipo de aparelho adquirido não servia para tratar pacientes da covid-19 e a compra apresentava superfaturamento de até 300%. Em outra reportagem, foi revelada que uma proposta mais barata foi ignorada pelo governo do Amazonas.
PF pediu prisão de governador
A PF chegou a pedir a prisão do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), um dos alvos da Operação Sangria. Porém, o ministro Francisco Falcão negou o pedido de prisão de Lima, afirmando que "não havia justificativa no momento",
Lima teve os bens bloqueados pela Justiça e foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ele.
Em uma rede social, Lima se disse surpreso com a operação e ser o principal interessado em esclarecer os fatos. O governador declarou ainda que tinha presa em adquirir materiais para o combate ao coronavírus e que nunca determinou a realização de práticas ilegais.