Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Musk, até agora, ficou só na bravata quanto às ameaças de ignorar a Justiça

Até o momento em que escrevo este texto, o bilionário sul-africano Elon Musk não havia cumprido sua promessa de "levantar todas as restrições" determinadas pelo Poder Judiciário brasileiro à plataforma X. Ou seja, como um bom militante de sofá, "xingou muito no Twitter", mas ficou nisso.

Sua empresa havia sido obrigada a excluir contas e postagens que tratavam de temas como planejamento de ataques para matar estudantes em escolas, promoviam mentiras sobre o coronavírus em meio à pandemia de covid-19 e incentivavam tanto ataques ao Estado democrático de direito quanto a tentativa de golpe de Estado bolsonarista.

O bilionário atacou pesadamente o ministro Alexandre de Moraes, chamando-o de ditador, liberou trocas de mensagens entre seus funcionários reclamando das decisões da Justiça brasileira e entregou ao Comitê de Assuntos Jurídicos da Câmara dos EUA, chefiado por um deputado trumpista apontado como peça-chave na tentativa de golpe de 6 de janeiro de 2021 em Washington DC, as ordens judiciais pedindo a remoção do conteúdo e de contas. Ou sejam usou e abusou da retórica e da pressão, mas só.

"Ah, mas e a investigacão da Polícia Federal que mostrou que contas suspensas usaram links para permitir o redirecionamento a outros usuários da plataforma que não contavam com restrições de uso e, de lá, fazer transmissões?" É uma brecha que foi fechada após o caso ter vindo a público, segundo a própria empresa correu para explicar.

É meio patético o bolsonarismo usar o caso para "comprovar" que Musk cumpriu a promessa dessa forma. Porque isso não passa, nem perto, de "levantar todas as restrições" trazidas por decisões judiciais. As contas continuam bloqueadas.

Ele pode, no limite, mover o escritório do X para o México ou retirar a plataforma como um todo do Brasil? Pode, claro, trata-se do imprevisível Musk. Mas, até agora, não fez isso.

Mais do que um expoente da extrema direita ou um trumpista inveterado, ele é um oportunista. Teme que a expansão das medidas de regulação de plataformas ao redor do mundo limite a lucratividade do seu negócio e o poder que tem nas mãos como dono do X.

Sabe que as decisões do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral podem inspirar ações em outros países, bem como iniciativas na Europa inspiraram o Brasil. Com isso, tenta emparedar Estados para evitar um efeito contágio. Não à toa, logo após atacar o Brasil, foi fustigar o governo da Austrália, que exigiu a retirada de um vídeo de um ataque de ódio.

Vale continuar observando seus próximos passos, inclusive o que fará quanto ao escritório brasileiro. Mas sempre dando às suas ações o tamanho que elas de fato têm para evitar que sejam encaradas com o tamanho que ele deseja.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL