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Bolsonaro avalia dar liderança da Câmara ao centrão para blindar Ramos

Ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo - Ueslei Marcelino - Arquivo/Reuters
Ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo Imagem: Ueslei Marcelino - Arquivo/Reuters

Guilherme Mazieiro e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

17/07/2020 15h45

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) busca uma saída para resolver o conflito entre seus novos aliados do centrão no Congresso e seu articulador político, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Uma possibilidade que ganhou força é passar a liderança de governo da Câmara para o centrão.

Com o movimento, Vitor Hugo (PSL-GO), que não tem bom relacionamento com o centrão e Ramos, iria para a presidência de alguma comissão na Câmara. Um nome que é estudado para a troca de peças é o do deputado Ricardo Barros (PP-PR), ex-ministro da Saúde do governo de Michel Temer (MDB).

Uma liderança do centrão disse que o governo sob Ramos está com a articulação "muito ruim" e que, se o cenário não mudar, a reforma tributária e o Fundeb (fundo de financiamento da educação) correm risco de não serem aprovados.

"Militar garante voto? Entra no plenário para votar?", questionou uma liderança do centrão.

O embate se arrasta há alguns meses, mas, com os vetos ao saneamento, a cobrança sobre Ramos aumentou.

Dentro do governo, movimentos das lideranças partidárias são entendidos como mais um passo da "bancada dos insaciáveis", que cobram mais liberação de emenda para suas bases.

Com a tensão, e Bolsonaro precisando aprovar os projetos, interlocutores cravam que a saída de Vitor Hugo pode acontecer nas próximas semanas.

O líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL), conversa com jornalistas após participar de reunião de líderes - Dida Sampaio - 6.fev.2019/Estadão Conteúdo - Dida Sampaio - 6.fev.2019/Estadão Conteúdo
O líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL), conversa com jornalistas após participar de reunião de líderes
Imagem: Dida Sampaio - 6.fev.2019/Estadão Conteúdo

Ramos x Centrão

Partidos do centrão, que negociaram com Bolsonaro para garantir votos no Congresso, estão insatisfeitos com a atuação de Ramos.

Ele é visto com desconfiança por lideranças dos partidos. Frequentemente, o ministro é cobrado por não honrar acordos que faz.

Pelos gabinetes em Brasília, Ramos diz a aliados que "desfruta da confiança do presidente" e tem bom diálogo com o presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e respeito de Davi Alcolumbre (DEM-AP), comandante do Senado.

A aliados, o ministro reconhece a pressão, minimiza as discordâncias com parlamentares e argumenta que nem tudo pode ser atendido.

Recentemente, Ramos cedeu à pressão de militares e resolveu antecipar sua ida à reserva, justamente para mitigar as críticas.

Bolsonaro com o centrão

O movimento de Bolsonaro para acomodar o centrão no governo acontece desde o início do ano. O presidente estava desgastado junto aos líderes partidários e era questionado por inflar manifestações e estimular atos antidemocráticos.

O presidente nega que a recriação do Ministério das Comunicações estivesse nessas conversas com o centrão, apontando que Fábio Faria é uma escolha pessoal. O ministro é deputado do PSD, partido do centrão comandado por Gilberto Kassab, aliado de Bolsonaro.

Fora os cargos entregues dentro dos ministérios da Educação e do Desenvolvimento Regional, Bolsonaro trocou vice-lideranças da Câmara, recentemente.

Bolsonaro não abre mãos de seus homens fiéis por mais que sofram críticas ou pressões. Com isso, tenta prestigiar Vitor Hugo com a liderança de alguma comissão. As comissões estão paradas na Câmara e devem voltar a funcionar com o retorno das sessões presenciais.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.